A primeira história é quase um cartão de apresentação dos caras.
''Isso é que é vida! Fumar a velha erva e gelar os velhos pés na brisa de um ventilador elétrico comprado numa liquidação'' diz Phineas Freak, logo na página inicial da aventura. ''Para mim não há nada como fumar haxixe, ler as revistas que eu assino de graça e ouvir minha colecão de discos grátis do clube do disco grátis!'' continua Freewheelin Frank. ''Já eu vou passar o verão inteiro fumando droga, comendo droga, bebendo droga e também alterando minha consciência'' conclui Fat Freddy.
Entenderam porquê?
Eles são os Freak Brothers, antípodas extremos da vida e do mundo habitado pela maioria dos mortais. Surgiram nos anos 60, saltando da prancheta do cartunista Gilbert Shelton em plena efervescência da contracultura norte-americana.
Hippies intemporais, estão de volta às prateleiras brasileiras protagonizando aventuras ácidas no álbum ''Fabulous Furry Freak Brothers'', lançado pela Conrad Editora.
Phineas Freak é o esquerdista lisérgico, Freewhelllin Frank é o cowboy psicodélico e Fat Freddy é o obeso ocioso. Eles detestam autoridades, cartão-ponto, deveres, geladeiras vazias e festas que acabam cedo.
Moram em apartamentos largados onde, dependendo da circunstância, um toque da campainha pode provocar pânico e correria em direção ao banheiro para acionar ininterruptamente a descarga com a finalidade de despachar substâncias ilícitas.
Estrelas do quadrinho underground, eles são os personagens mais deliciosamente estereotipados do imaginário flower power. No texto de apresentação, Shelton narra a gestação do trio na virada de 1967 para 1968, após uma experiência reveladora que nortearia seu futuro profissional: ''Eu tinha ido assistir a uma sessão dupla de cinema na Companhia de Gás Vulcan, em Austin, e um dos filmes era dos irmãos Marx e o outro era dos Três Patetas. Saí pensando: 'Eu posso fazer algo assim'. Então, com a ajuda de um amigo que estava na faculdade de cinema da Universidade do Texas, produzi um filme de cinco minutos chamado 'A Marcha dos Hippies do Texas rumo à Capital'. Pra divulgá-lo fiz o quadrinho dos Freak Brothers com a semente mágica de maconha. Todo mundo gostou mais do quadrinho do que do filme, por isso abandonei minha carreira cinematográfica e dediquei meus esforços subsequentes aos quadrinhos''.
As primeiras histórias dos três anti-heróis foram publicadas num gibi chamado ''Feds'n'Heads'', impresso na garagem de um amigo do autor com uma tiragem de três mil exemplares.
Em seguida, produziu aventuras semanais para o jornal East Village Other e mensais para o trablóide Gothic Blimp Works. Em 1970, lançou o primeiro álbum dos Freak Brothers pela Rip Off Press, editora que fundou com dois amigos. Começava aí o estouro dos personagens cujas histórias desembarcaram no Brasil através da revista alternativa Grilo, em 1972.
Posteriomente, já nos anos 80, a editora gaúcha L&PM lançou um álbum de luxo com texto de apresentação do escritor Eduardo Bueno. Shelton, hoje com 64 anos, diz na nova antologia que uma nova história está pronta e parada num arquivo à espera de conclusão, ou melhor, de desenhistas para ilustrá-la. ''Pra você saber'' avisa ele a história se passa em Amsterdam, onde os envelhecidos Freak Brothers moram num barco''.
Serviço:
Álbum de quadrinhos ''Fabulous Furry Freak Brothers''
Lançamento: Conrad Editora
Número de páginas: 84
Preço: R$ 39,00