A partir de 5 de junho Curitiba voltará a ter sessões de leituras dramáticas. Depois da experiência de enorme sucesso no Teatro da Caixa, poucos anos atrás, agora é a vez da Fundação Cultural de Curitiba colher os louros promovendo o Ciclo de Leituras Dramáticas todas as terças-feiras, às 19h30, no Teatro Londrina (Memorial da Cidade). A série estréia com um texto inédito de Mário Bortolotto, "Hotel Lancaster", escrito no ano passado.
Na sequência virão "Tudo no Time", de David Ives, sob a direção de Sueli Araújo, no dia 12; "Ana e o Tenente", com texto e direção de Rafael Camargo, no dia 19; e no dia 26 "Gertrudes de Cueca", de Fábio Salvatti, com direção de Luciano Lacerda, aluno do curso de Artes Cênicas. Provavelmente em julho o ciclo mudará de endereço - irá para o Teatro Novelas Curitibanas, que se encontra em reformas.
Edson Bueno, responsável pela Consultoria de Artes Cênicas da FCC, explica que as peças escolhidas para o programa deverão ser inéditas em Curitiba. É uma das poucas exigências do projeto que está aberto aos mais variados gêneros da dramaturgia contemporânea. "Queremos que as pessoas falem sobre o teatro que está acontecendo hoje no Brasil. Principalmente sobre as peças que estão sendo escritas", planeja Bueno. Ligado à cena teatral - é diretor, autor, produtor - Edson Bueno está entusiasmado com a decisão da Fundação Cultural em bancar a iniciativa. Ele acredita que há uma vasta literatura a ser descoberta; o entrave está na falta de oportunidade aos novos dramaturgos. Recentemente ele soube que o concurso de textos para teatro, promovido pelo Ministério da Cultura, teve 3 mil concorrentes.
"Levei um susto", confessa. "Agora, pense: foram inscritos 3 mil textos e quantos são montados por ano no Brasil? Dez? Seis? Quatro? Onde é que fica todo esse material?" A resposta às indagações é melancólica - não se publicam textos teatrais no País. Para o coordenador de artes cênicas da FCC é preciso achar solução ao problema, abrindo possibilidades de novas montagens. "O importante é as pessoas serem reveladas".
As leituras dramáticas entram nessa faixa de incentivo aos novos valores, com a Fundação Cultural de Curitiba realizando "um chamamento" aos interessados. Como o projeto é aberto , quem tiver textos pronto pode procurar os organizadores. Também os jovens diretores estão sendo convidados para integrar a empreitada, como afirma o coordenador de artes cênicas:
- Minha idéia não é trabalhar somente com diretores profissionais conhecidos. Quero que os alunos do curso de direção da Faculdade de Artes do Paraná venham fazer seus espetáculos, diretores novos, os atores veteranos. Acho que tem que colocar todo mundo para opinar sobre o texto. Uma leitura é isso: você dar sua opinião sobre determinado texto, levantar uma discussão. Acho que as pessoas têm que ver, ouvir, falar bastante para depois começar a acontecer alguma coisa.
"A produção oferece estrutura básica de iluminação, sonoplastia, cachê aos diretores", continua Bueno. Além disso serão confeccionados cartazes, folders, programas contendo a idéia do texto e dados gerais do autor. Estes cuidados são essenciais já que as leituras representam "um exercício didático".
Interessados em participar do projeto devem remeter seu material para a Fundação Cultural de Curitiba/ Consultoria de Artes Cênicas aos cuidados de Edson Bueno. Praça Garibaldi, 7, CEP 80.410-250.
A abertura proposta pelo Ciclo de Leituras Dramáticas vai na contramão de uma onda que começou há duas décadas - a crença de que faltam escritores para teatro no Brasil. O discurso começou com o fim da ditadura militar e perdura até hoje no conceito dos grandes atores.
Edson Bueno rebate: "Não acho isso. O que aconteceu foi uma transformação do fazer teatral". Ou seja, num determinado momento os diretores passaram a ter preponderância sobre a encenação, muita vezes fazendo adaptações para seus próprios espetáculos. "Então essa figura do dramaturgo meio que desapareceu por uns tempos. Virou moda os grupos construírem a sua idéia cênica. Hoje - acho que há uns três, quatro anos - está começando uma nova virada e os diretores estão novamente procurando os autores".
A insistência em se encenar Nelson Rodrigues e Shakespeare, ao invés de apostar no lançamento de novos autores, é outra pedra no caminho. Para Bueno a explicação é óbvia: questão mercadológica. É mais fácil trabalhar com nomes consagrados para atrair público, e até mesmo conseguir patrocínio, do que com um novato. "A peça pode ser maravilhosa, mas como você vai vender isso aí? Que espaço vai conseguir na mídia?"
Enquanto no Brasil as produções gravitam em torno de ícones, nos Estados Unidos é comum o público aclamar espetáculos de autores-revelações. "Você pega a lista do prêmio Tony (o Oscar do teatro) e sempre tem autores novos que estouraram na temporada. Aqui, o escritor revelação pode ganhar o Prêmio Shell ou Sharp, mas dificilmente vai estourar na bilheteria. Não será o espetáculo do ano, entende?".
A falta de agenda nos teatros contribui para tornar a situação ainda mais asfixiante, pois quando o público começa a ter contato com aquilo que está em cartaz, é hora de encerrar a temporada. Essa urgência faz com que bons trabalhos, que poderiam render frutos, não passem de fogos-fátuos, fazendo da brevidade a maior vilã.