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Comunicação

Audiodescritora explica como tornar espetáculos acessíveis vai além de traduzí-los para o Português

Victória Vischi - Estagiária*
11 dez 2020 às 16:44

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- Heitor Bonfim/FEIA
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Descrição da imagem: Na foto em um ambiente ao ar livre, com árvores e pessoas ao fundo, Isadora se encontra em destaque, mulher branca de cabelos castanhos solto e ondulados, veste uma camiseta vermelha e uma calça preta, usa óculos e um microfone com radiotransmissor e fone de ouvido. Isadora segura folhas de papel impressas com as duas mãos e olha para o horizonte. Fim da descrição.

No último mês, o lançamento do musical Hamilton na plataforma Disney+, no Brasil, sem a disponibilização de legendas ou dublagem em português, gerou reclamações nas redes sociais sobre não ser acessível lançar o espetáculo apenas em inglês. No entanto, para tornar espetáculos acessíveis para o público, é preciso de mais do que apenas disponibiliza-los em português. Práticas acessíveis em espetáculos precisam levar em consideração a população PCD (pessoas com deficiência) e, por isso, incluir audiodescrição e interpretação em Libras do material.


Essas são formas de acessibilidade comunicacional destacadas por Isadora Ifanger, 22, que pesquisa, em iniciação científica, sobre práticas acessíveis em espetáculos, com foco na questão comunicacional. Enquanto o uso de Libras é mais conhecido pelo público, a audiodescrição é uma prática mais desconhecida.

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"A audiodescrição é uma tradução intersemiótica que traduz a linguagem visual em palavras, ou seja, descreve tudo que há de visual de um material, como o cenário, figurino, luzes, e até mesmo as ações físicas realizadas pelos atores. Tudo isso é descrito em um roteiro realizado previamente pelo audiodescritor, roteiro este que também passa pela consultoria de um audiodescritor cego", conta Ifanger, que além de pesquisadora é audiodescritora e estudante de artes cênicas na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).

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Em materiais gravados, a audiodescrição e a interpretação em Libras também devem ser gravadas e disponibilizadas junto do material. Já em espetáculos presenciais, as traduções são feitas de forma simultânea por um intérprete de Libras e por um audiodescritor. No caso da audiodescrição, ela é transmitida "de forma simultânea através de um microfone com rádio transmissor onde o público cego ou de baixa visão possui fones receptores para ouvir a audiodescrição", explica Ifanger.

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Pensar na acessibilidade comunicacional desses espetáculos é tão importante quanto pensar na acessibilidade dos espaços físicos. Para isso, é preciso levar em consideração a diversidade de pessoas PCD. Apesar das práticas acessíveis estarem ganhando espaço, ainda são poucas. "Mesmo nas grandes capitais ainda há poucas opções de espetáculos acessibilizados e os que têm possuem seções específicas, reduzindo as possibilidades de escolha", informa Ifanger. Ela ainda destaca que "dentre essas poucas seções, há ainda menos trabalhos com audiodescrição comparado com a interpretação em Libras".


Ifanger atua como atriz, audiodescritora e produtora de acessibilidade em produções do curso de Artes Cênicas da Unicamp. Ela conta que eles já trabalhavam com essas práticas em espetáculos presenciais e agora, durante a pandemia, "também continuamos pensando nesses meios em nossas produções que agora são de forma online e vejo outros grupos e instituições que também já pensavam isso de forma presencial, porém ainda muito poucos e sem nenhum fomento vindo de instituições maiores".

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Acervo Artes Cênicas Unicamp
Acervo Artes Cênicas Unicamp - Público cego realizando o reconhecimento tátil do cenário do espetáculo 'Pão'
Público cego realizando o reconhecimento tátil do cenário do espetáculo "Pão"


Descrição da imagem: Foto de uma sala com paredes pretas e chão de madeira escura. Ao centro uma mesa comprida coberta por toalha amarela e onze pessoas a contornam. Os rostos estão desfocados, menos o de Isadora que está ao lado direto da mesa, mulher branca de cabelos castanhos presos em duas tranças, usa vestido curto florido azul claro e segura folhas de papel impressas. Na esquerda da imagem há suspenso um tecido branco de voal que toca o chão. Fim da descrição.


A internet pode funcionar como um facilitador para essas práticas por alcançar um número maior de pessoas. No enquanto, Ifanger pontua que "muitas plataformas digitais já contam com algum serviço para acessibilizar seus materiais, mas mais uma vez caímos no problema em que num geral as pessoas não tem conhecimento ou não sabem usar esses recursos”.


Ifanger destaca que também é necessário pensar no formato em que as práticas de acessibilidade comunicacional são feitas no meio digital. Há alterações no formato devido à mediação da tecnologia, "mas acredito que pensar em como essas práticas são realizadas nas plataformas digitais já é um passo à frente da problemática que temos hoje, que é o fato de que essas práticas não são pensadas como parte dos espetáculos, sejam eles presenciais ou virtuais", relata.

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As formas de tornar os espetáculos acessíveis são várias, mas Ifanger lembra que "para além de todas essas formas possíveis de se pensar acessibilidade o mais importante é estar em contato e trabalhar junto a pessoas com deficiência para que haja espaço para que as discussões e problemáticas a respeito desses trabalhos sejam pensadas por aqueles que vão fazer uso desses materiais. Afinal, 'nada sobre nós sem nós’'."


O que a motivou a pesquisar acessibilidade em espetáculos foi por ter sido a primeira PCD a ingressar no curso de Artes Cênicas da Unicamp, o que "fez com que vários questionamentos surgissem em mim sobre o porquê de não ter outras pessoas como eu ocupando esses espaços”.

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Ela diz que ainda que o Brasil possua "uma legislação rica na defesa do direito das pessoas com deficiência ainda não há o fomento necessário para que práticas de acessibilidade sejam de conhecimento de todes”. Nesse sentido, "pensar e trabalhar com práticas de acessibilidade em espetáculos é garantir que qualquer pessoa possa ter direito de escolha sobre aquilo que quer consumir enquanto cultura", complementa.


Além da parte teórica da sua pesquisa, Ifanger ainda se preocupa com a divulgação desses resultados "para que outros artistas e grupos conheçam esses trabalhos e comecem a praticá-los", relata.

*Sob supervisão de Larissa Ayumi Sato.


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