Do antigo casarão da avó na Avenida Getúlio Vargas com a Alferes Poli, em Curitiba, uma única parede não foi demolida quando se ergueu nova construção: por ela o poeta Edival Perrini ainda espia cenas de sua infância. A casa se transformou em linhas de um desenho de Poty e deu título ao livro que o poeta lança hoje, às 19h30, na Casa Romário Martins: "Armazém de Ecos e Achados".
Os poemas contidos em mais de 80 páginas formam um grande mosaico da vida do autor, pautada pelos elementos: água, terra, fogo, ar. A última parte, "Sonho", tem um único texto. Enfim, sonhar é preciso, sempre.
Perrini, formado em Medicina com especialização em Psiquiatria e Psicanálise, comenta que esse mosaico traz a possibilidade de "me ver como uma pessoa que tem raízes, e possibilita a outras que também possam fazer essa viagem interior, em seu poço de metáforas".
Para ele, o ato de escrever traduz-se na necessidade de estar em contato consigo mesmo. Autor de quatro livros de poesias, além de participações em várias antologias, Perrini teve seu "Poemas do Amor Presente" elogiado por Carlos Drummond de Andrade. O volume revelava o poeta, pois "bem exprime a sua sensibilidade e a sua visão humanística do mundo".
Sobre "Pomar de Águas" considerou Helena Kolody: "O feitiço de seus versos transfigurou minha visão do mundo, tão ensombrada e assombrada. A pura poesia de Pomar de Águas levou-me para o seu universo de contínuas invenções, saciou minha sede de beleza".
Nas páginas de "Armazém de Ecos e Achados", ilustrado por Poty - a capa foi entregue pelo artista dois dias antes de sua morte - o escritor volta-se aos tempos de sua infância na primeira parte do volume: "Água". "Um sótão/ dois dedos de céu/ poço de mistérios" ele conta. Para quem não sabe era da janelinha como um olho abrindo-se no telhado, que ele via os contornos de uma palmeira. É uma de suas imagens mais antigas no encontro com o imponderável.
A segunda parte, Terra, serve para o autor cantar sua cidade, o território que ocupava. A terceira, Fogo, entrega-se às incandescências do amor. Sem fugir à incoerência humana, Perrini associa o amor à condenação do espírito: "O desejo/ explode a árvore do pecado original".
"Ar", que abrange poemas da quarta parte, é a vazão daquilo que se pensa e canta, ou seja, a poesia. E por fim vem "Sonho", com uma doce religiosidade: "O sonho é meu pastor,/ nada me faltará./ Encontro nele a luz, meu alimento e cor./ Que escorra a ampulheta, o sonho é meu pastor".
Interessados em conhecer um pouco mais do poeta poderão acessar a partir de hoje o site www.edivalperrini.com.br. Ali estão textos inéditos e já publicados, além dos "imperdíveis" - aqueles que "nos marcaram esses anos todos". "Galo Galo", de Ferreira Gullar, é imprescindível. De tal modo que foi lido na primeira reunião de "Encontrovérsia", grupo de apreciadores de poesia e poetas que existe há 21 anos.
Serviço: "Armazém de Ecos e Achados", de Edival Perrini, será lançado hoje, às 19h30, na Casa Romário Martins (Largo da Ordem). Edição do autor. Preço do exemplar: R$ 15,00