"Boa noite, nós somos A Banda Mais Bonita da Cidade", anunciou Uyara Torrente logo após a abertura do show com a música "Suvenir", cover presente no novo álbum do grupo, "De Cima Do Mundo Eu Vi o Tempo".
A banda se apresentou em Londrina no último sábado (14), para um Teatro Mãe de Deus lotado. Os 535 lugares foram ocupados por um público variado, de jovens – fãs da banda – até pessoas mais velhas, possivelmente esperando para ver um dos convidados da noite: Dado Villa-Lobos, guitarrista da Legião Urbana. O músico Lucas Vasconcellos também participou do show.
Por meia hora, A Banda Mais Bonita da Cidade se apresentou sem nenhum dos convidados – não que fosse preciso. Em plena ExpoLondrina é interessante ver um grupo disposto a fazer algo diferente e original. Seja com as letras, que mais se parecem com crônicas, ou acrescentando novas cores a músicas já conhecidas – caso de uma pesada "Tigresa", de Caetano Veloso.
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Em turnê de divulgação de seu terceiro álbum de estúdio, "De Cima Do Mundo Eu Vi o Tempo", a banda criou um espaço íntimo dentro do teatro. Descalça, sempre rindo e dançando, Uyara é um espetáculo à parte, à la Florence Welch.
"Sempre tive medo de pedir para as pessoas baterem palma e ninguém bater", conta a cantora. "Então pensei que precisava criar essa vontade. Se eu quiser bater palma, as pessoas também vão querer. Eu me divirto muito", disse, aos risos.
Assim que Dado Villa-Lobos subiu ao palco, centenas de celulares brilharam. Uma ótima representação da união de gerações que ali acontecia. Uma banda que ganhou repercussão nacional ao viralizar no Youtube há seis anos, com "Oração", junto de um músico que ganhou notoriedade nos anos 1980, quando nem havia internet.
Assim, passaram por músicas da Legião Urbana – "O Teatro dos Vampiros", "Tempo Perdido", "Marcianos Invadem a Terra" – com grande participação do público, sempre com a cara d'A Banda Mais Bonita da Cidade em cada nota.
"A gente nunca tocou junto", comentou Dado depois do show. "Trocamos alguns e-mails, ensaiamos na passagem de som e é isso."
"Coragem", comentei. "E mesmo assim, conseguem criar uma conexão com toda a plateia."
"É uma coisa mágica, é para isso que estamos aqui", disse ele. "Música é um lance atemporal. A gente vai fazer um disco e ele vai ficar pra sempre. Música é universal, não tem idade."
"Eu comecei a ouvir Legião e o Renato Russo nem era mais vivo", completou Uyara, "a música fica".
Perguntei sobre as diferenças para a MPB dos anos 1980 e 1990, marcado pelas músicas de protesto, para a feita hoje.
"Também acontece de a gente fazer protesto", respondeu Uyara. "Com A Banda Mais Bonita da Cidade, cada um tem a sua função, e acho que fazemos política ativando o sensível das pessoas. Quanto mais sensível elas estiverem, melhor elas se relacionarão com o mundo."
"Essa coisa de protesto foi um estigma para a Legião. A gente falava 'não, cara, a gente não faz música de protesto, a gente faz música de amor'", comentou Dado. "Hoje, a Banda Mais Bonita da Cidade fala das relações humanas, de como conseguir viver melhor hoje, e questionam isso. E eu, assim, me renovo."
"E agora vamos para a última música do show", anunciou Uyara antes dos primeiros acordes de "Pais e Filhos". Chamando o público para a frente do palco, o grupo entoava o clássico da Legião enquanto as pessoas se levantavam de seus lugares e se amontoavam em frente aos músicos.
E foi assim, com o público colado ao palco, que o conjunto entoou a última música – dessa vez para valer. "Oração", simples e contagiante, uma bela síntese do que aconteceu na noite deste sábado.