Na hora de arrumar a casa, Samantha Stephens só precisava dar uma mexidinha no nariz. Já para Jeannie, bastava piscar os olhos. Agora, para Wanda Maximoff, apontar o dedo indicador é todo o esforço que a tarefa requer.
As protagonistas de "A Feiticeira", "Jeannie É um Gênio" e do novo "WandaVision" escondem, por trás da fachada de um casamento comum e da função de dona de casa, poderes mágicos capazes de tornar a vida doméstica dos subúrbios dos Estados Unidos muito mais emocionante do que ela realmente é.
Com estreia marcada para sexta-feira (15) no Disney+, "WandaVision" é a primeira série original da plataforma encarregada de expandir o chamado Universo Cinematográfico Marvel para o streaming -e de reaproveitar personagens que, nos cinemas, tiveram pouco tempo de tela.
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A dupla escolhida para protagonizar essa jornada inaugural pela plataforma é formada por Wanda -a Feiticeira Escarlate- e Visão. Eles entraram para a equipe dos Vingadores como coadjuvantes, mas o romance que engataram nas telonas fez com que caíssem nas graças dos fãs.
"WandaVision" acompanha, ao longo de seus nove episódios, a rotina dos dois super-heróis numa casa de classe média americana, vivendo uma falsa normalidade que esconde os poderes dela de controlar tudo ao seu redor e o fato de ele ser um androide.
As referências a "A Feiticeira" e "Jeannie É um Gênio", no entanto, não param no roteiro. A forma e o tom da nova série também fazem menção direta a esses e a outros clássicos da TV americana. Os primeiros episódios de "WandaVision", por exemplo, imitam uma comédia dos anos 1950 ou 1960, com direito a risadas pré-gravadas, aplausos do auditório e fotografia em preto e branco.
"Nós fomos imediatamente atraídos para 'A Feiticeira' e 'Jeannie É um Gênio', porque ambas falam sobre essa tensão entre a magia e o subúrbio", diz Matt Shakman, diretor de todos os episódios da série. "O que eu amo sobre essas inspirações é que elas envolvem vários efeitos especiais práticos -coisas presas por fios e varas-, um charme que contrasta com os efeitos especiais que nós vemos nos filmes da Marvel."
Mas não se engane. Os orçamentos robustos e a tecnologia de ponta alcançam, sim, Wanda e Visão. Conforme o romance ingênuo e engraçadinho dos personagens avança, eles vão mudando de década e passeando por diferentes formatos televisivos. Até que chegam aos dias atuais, quando finalmente encontram a realidade mais sombria montada pela Marvel em seu universo cinematográfico.
Com as mudanças temporais propostas pela trama, os protagonistas Paul Bettany e Elizabeth Olsen, Visão e Wanda, tiveram que repensar seus personagens e adequar a maneira de atuarem às décadas representadas em cena.
"Havia um estilo de atuação completamente diferente nas sitcoms dos anos 1950, 1960 e 1970. Era um trabalho muito mais performático, com o qual não estamos acostumados hoje em dia", afirma Bettany.
Enquanto Wanda pode ser descrita como uma versão moderna de Samantha ou de Jeannie, o herói interpretado pelo ator britânico se inspira em Dick Van Dyke e em seu "The Dick Van Dyke Show", comédia familiar exibida entre 1961 e 1966.
Vendida como uma minissérie, "WandaVision" ainda não tem futuro certo depois que esses nove episódios já gravados chegarem ao Disney+. Também não está claro como o título vai se conectar ao Universo Cinematográfico Marvel. Vale lembrar que a série se passa numa espécie de realidade paralela, já que, nos filmes, Visão morre tragicamente não só uma, mas duas vezes -em "Vingadores: Guerra Infinita".
O que está claro, por outro lado, é que aqueles que não assistiram aos principais dos 23 filmes do estúdio vão ter dificuldade para acompanhar a nova série. Isso porque ela não oferece contexto para quem acaba de chegar à Marvel e ainda é responsável por dar início à chamada fase quatro de sua série de filme de super-heróis.
Nesse novo período de produções da companhia, são esperados sequências e filmes originais, como "Pantera Negra 2" e "Viúva Negra", e um arsenal de séries de televisão. Além de "WandaVision", devem chegar ainda neste ano no Disney+ "Falcão e o Soldado Invernal", "Loki", "What If...?", "Ms. Marvel" e "Hawkeye".
A promessa é que cinema e televisão estarão completamente integrados, com as tramas de um meio complementando as do outro. Ao ser questionado sobre o vasto número de personagens e o nó que eles podem dar na cabeça dos espectadores, o diretor Matt Shakman afirma não se preocupar.
Ele diz confiar no talento de Kevin Feige, presidente da Marvel Studios e um dos grandes responsáveis por lançar a era dos blockbusters de super-heróis em Hollywood -sua atuação como produtor remonta a "X-Men: O Filme", de 2000.
Segundo Bettany, o intérprete de Visão, a expansão para a TV é natural. "Eu amo a ideia de usar diferentes veículos para contar diferentes partes de uma história. Além disso, a Marvel sempre foi, de certa forma, um enorme e extravagante experimento televisivo. Quer dizer, até agora ela estava lançando só filmes, mas eles são episódicos e se complementam."