Tom Ellis, 42, emprestou um toque de bom humor e charme ao próprio diabo na série "Lucifer". Tanto que, passadas cinco temporadas, o personagem-título já não assusta ninguém. Pelo contrário, tem até torcida para ele se dar bem nos episódios inéditos que chegam à Netflix nesta sexta-feira (28).
Até onde a história havia avançado, vimos que a briga entre Lucifer e o irmão gêmeo, o arcanjo Miguel, fez o pai deles (sim, ele mesmo, Deus) descer à Terra para resolver a situação. Nos novos episódios, vemos como a família celestial resolve seus problemas.
"Foi uma bênção ter o Dennis Haysbert [ator que interpreta Deus] no set", diz Ellis ao jornal Folha de S.Paulo. "Sou fã dele há muito tempo, desde a série '24 Horas', e ele foi tudo o que eu esperava, tinha a autoridade e a presença que você imaginaria que alguém precisa ter para viver um personagem como esse."
Apesar das diferenças físicas (quem liga para isso numa série de enredo tão fantasioso?), o ator diz que houve uma forte conexão entre ambos. "Minha irmã nos visitou um dia nas filmagens e notou como tínhamos coisas em comum", revela. "Me senti estranhamente ligado a ele."
O mesmo não se pode dizer dos personagens. Embora Lucifer não seja mais o supervisor de torturas do inferno, ainda há arestas a aparar entre ele e o pai. "Lucifer é muito impaciente", avalia seu intérprete.
"Eu adorei essas filmagens com o pai dele, porque o vemos novamente como um adolescente petulante e raivoso", adianta. "Muito da personalidade dele vem de querer ser amado e de sentir que nunca teve esse amor do pai, então isso vira um dos enredos mais tocantes da série."
Já sobre a relação do personagem com a detetive Chloe Decker (Lauren German), ele diz não concordar com o personagem, que não consegue dizer um "eu te amo" à namorada. "Não acredito que ele seja incapaz de amar, penso que ele é incapaz de entender o que é esse sentimento e o que ele está sentindo."
"Apesar de gostar de estar apaixonado, ele não aprecia ficar na mão de outra pessoa", continua. "Ele não entende que amor é uma palavra que está ligada a determinados sentimentos. Então, mesmo que ele esteja apaixonado, ele nega isso."
O trailer dos novos episódios também antecipa que Deus pensa em se aposentar. Isso faz com que Lucifer acredite que é um bom candidato a substitui-lo. "Ele conhece a humanidade muito bem, tem bastante experiência com isso e aprendeu muito convivendo com eles, então quem melhor para ser o novo Deus?", defende Ellis.
Além disso, haverá um episódio musical (o segundo da nova leva), no qual Deus faz com que os personagens cantem e dancem em cena. "Numa escala de 1 a 10 de diversão, diria que gravar esse episódio foi 12 ou 13", disse o ator, que usou a própria voz nas sequências.
"Me deliciei com as músicas e com as coreografias, a ponto de não querer fazer mais do jeito normal depois", diz o ator, em tom de brincadeira. "É meu episódio favorito. Nós queríamos fazer um episódio musical já há um tempo, mas precisava ser uma justificativa no roteiro."
Já sobre gravar o papel do gêmeo Miguel, ele diz que foi mais complicado. "Havia um ator que vinha para me ajudar a gravar as cenas", explica. "Ele fazia meu dublê como Miguel, quando eu estava como Lucifer, e vice-versa. Mas o processo é muito estranho e técnico."
Ele lembra que isso tornava as gravações mais cansativas, já que ele precisava trocar de figurino e ainda refazer uma cicatriz que o irmão malvado de Lucifer ganhou no rosto. Ao final da temporada, também há uma grande cena de batalha em que ambos estão envolvidos. "Isso foi exaustivo, mas divertido", resume. "Eu me divirto muito com as cenas de ação. Essa, especificamente, foi bem técnica e usamos dublês."
Ele lembra que a cena foi realizada logo após a retomada das gravações, suspensas por causa das restrições impostas pela pandemia de Covid. "Era setembro em Los Angeles, fazia mais de 40°C todo dia e a minha principal memória é do quanto eu suava por baixo do figurino", revela.
Por falar em pandemia, ele diz que as gravações perderam muito da espontaneidade nos bastidores por causa dos protocolos. "É um ambiente diferente e desafiador para exercer a criatividade", comenta. "No começo era muito estranho, mas fomos nos acostumando ao longo do processo."
"Os fãs não vão perceber a diferença na tela", acredita o ator. "Mas foi um esforço grande do elenco e principalmente da equipe, que não tirava a máscara em nenhum momento e trabalhava sem reclamar. Esse trabalho é dedicado para eles."
O ator lembrou de quando conseguiu o papel e teve de contar para a família que iria interpretar o diabo na TV. "Eu cresci na igreja, meu pai é pastor", diz. "Tive que dizer que tinha boas e más notícias, a boa era que havia conseguido um papel excelente, a má é que ia viver o satanás (risos)."
Ele afirma que a própria forma como o personagem foi escrito já o ajudou a não deixar o personagem tão sinistro. "A maior parte desse lado diabólico dele vem do roteiro, que tem uma pegada muito divertida", conta. Uma das inspirações foi a interpretação de Peter Cook (1937-1995) em "O Diabo É Meu Sócio" (1967).
Com a sexta temporada já confirmada, mas anunciada como a última da série, ele diz já estar se preparando para dar adeus ao personagem. "Fui tendo que me preparar ao longo dos anos", diz o ator, lembrando que antes as temporadas 3 e 5 já quase foram as últimas da série.
"Passei muito tempo da temporada 5 achando que seria a última e trabalhando isso de forma discreta nesse processo de luto pelo personagem", conta. "Eu estava pronto para encerrar quando terminamos."
"Sempre quis olhar para esse personagem e para esse momento da minha vida como algo divertido", avalia. "Eu me preocupo que, quando fazemos algo por muito tempo no universo criativo, isso acaba te entediando. Eu ainda não cheguei a esse ponto, então estou muito feliz."