Depois de um fenômeno como 'A Garota no Trem', a pressão foi grande. Mas Paula Hawkins, ex-jornalista da área econômica, não se intimidou pelo sucesso de seu primeiro thriller (20 mi de cópias) e lança agora 'Em Águas Sombrias' - suspense com mais de 10 narradores sobre mulheres que morrem no Poço dos Afogamentos. Ela falou ao jornal O Estado de S. Paulo, por telefone, de Londres. Veja trechos da conversa.
O que procurava no livro novo?
Eu estava interessada no fato de que, mesmo sendo membros da mesma família, as pessoas podem ter visões muito diferentes sobre a história de suas vidas. Comecei com isso e ampliei: uma família como uma comunidade, uma cidade.
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Alguma história pessoal nesse sentido?
Nada tão dramático quanto no livro. Às vezes temos certeza de que lembramos de uma coisa, mas é a história que contamos a nós mesmos, ou a história que alguém nos conta, que se tornou uma verdade, mas que não é. Isso é fascinante. Não que importe se eu estava na praia naquele dia. Mas para o livro pensei: e se importasse, e se isso foi fundamental na formação de alguém? E se você descobre, adulto, que a história que você conta não é verdadeira?
Quem são essas mulheres sobre quem você escreve?
A vida das mulheres me interessa, assim como suas lutas, os desafios que enfrentam, a forma como a sociedade as vê, como uma mulher vê outra mulher. Nesse livro falo muito sobre mulheres problemáticas, mas qualquer mulher pode ter problemas. Aos homens é dado o direito de viver em paz, mas a vida da mulher é analisada, criticada de um jeito particular pela mídia, pela sociedade. Dizem como ela deve se vestir, como deve falar (não fale alto, não seja agressiva, não seja histérica e louca). Todas essas formas de colocar mulheres em caixas e defini-las. E quem não se encaixa vira problemática. Há muitos e diferentes jeitos de tentar silenciar uma mulher, reprimi-la. Eu quis mostrar isso nesse livro.