Gloria Kalil começa o seu novo livro falando da posição das mulheres no mercado de trabalho. Nada mais atual. Enquanto os movimentos feministas e a luta de gênero ganham cada vez mais palco na internet, ela substitui um capítulo sobre o assunto para lembrar dele ao longo da obra. Chic Profissional inova com um recurso que vai contra a supremacia das palavras masculinas na literatura. A autora prefere se referir ao leitor sempre no feminino, colocando o equivalente masculino entre parênteses ou em seguida (exemplo: "Não seja acanhada(o) nem metida(o)", na página 48).
Gloria, com 40 anos de carreira, dialoga com o mundo globalizado com total sensatez. Assim como a internet mudou o comportamento, as redes sociais renovaram as referências do vestuário. E tudo isso é levado em consideração para explicar as melhores maneiras de se comportar e se vestir no mundo profissional. De um jeito muito bem-humorado - e bem apurado também. Para Chic Profissional, Gloria Kalil realizou 93 entrevistas e checou todos os dados com empresas e consulados (o contraste das culturas do mundo ocidental e oriental é tema recorrente), em um trabalho que durou dois anos. Veja a entrevista:
Como você chegou ao tema mercado de trabalho?
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Recebo muitas perguntas. Há dez anos, todo mundo queria saber de moda, mas ultimamente todas as perguntas eram ligadas ao mercado de trabalho. Hoje, temos empresários aos 17 anos, que saem do ensino fundamental com um empreendimento. Existem novas maneiras de trabalhar e vi que isso era uma demanda. Como gosto de falar da democratização da moda, de facilitar a vida das pessoas, achei que esse era o grande nó do momento.
O que mudou na etiqueta da época do livro Alô, Chics, lançado em 2007, até hoje?
Se naquela época você me perguntasse como deveria se vestir para trabalhar, eu responderia para usar o que fosse a cara da empresa. Hoje em dia, a moda é a representação da individualidade, não tem mais ligação só com categoria ou classe. Então, quando você se veste, tem que levar em conta tanto a personalidade da empresa quanto a sua. Na verdade, as duas devem ter a ver. Se você odeia roupa formal e for advogado, provavelmente será infeliz. De lá para cá, também surgiu uma outra categoria. Antes tínhamos a roupa formal e a informal. Agora, temos a superinformal. Isso não significa que só no formal há regras. Cada segmento tem seus códigos.
Você usa um recurso inovador para as designações de masculino e feminino. Como teve a ideia?
Quando estava pensando nos capítulos, imaginei que faria um deles sobre as diferenças entre o público feminino e masculino no meio profissional. Porém, percebi que ficaria muito grande. É muita coisa para falar, tem muito problema. Em vez de fazer isso, escrevi no feminino e coloquei o masculino entre parênteses a cada pronome, substantivo e adjetivo. Foi difícil. Falar no masculino está enraizado. Acho que a única coisa que ficou um pouco diferente no Brasil foi o bordão ‘senhoras e senhores’. Escrevi de forma diferente no livro e ainda faço uma ressalva no início. Eu sei que isso pode parecer irritante e cansativo. Mas irritante e cansativo é ser tratada dessa maneira.
Como você vê a questão da vestimenta em relação aos gêneros?
Tanto para mulher quanto para o homem, cada empresa tem o seu código. O Direito é uma área formal para todos os gêneros, por exemplo. Dei uma palestra outro dia para advogados e as mulheres se queixaram muito do machismo, não do conservadorismo. Elas precisam estar vestidas como homem no local. Não é apenas uma roupa formal. Cabe a elas brigar por isso. Os homens não querem mais usar gravata, respondi que eles podem mudar isso, ainda mais hoje que temos novos milionários usando roupas despojadas.
O dinheiro agora está nas mãos dos nerds, empresários que usam moletom, como Mark Zuckerberg. Eles exercem influência no mercado?
Tudo começou com o Bill Gates. Aí vieram Steve Jobs e Mark Zuckerberg, que adora moletom e chinelo. O mundo respeita poder e dinheiro. Quando poderosos lançam uma moda, ela tem grandes chances de pegar. Mas curiosamente, para colocar sua empresa na Bolsa de Valores, Zuckerberg usou uma gravata. Em seu casamento também. Quebrar um padrão de comportamento não é fácil.
No livro, você comenta sobre as mudanças na tolerância de tatuagens e piercings.
As empresas estão muito mais flexíveis. Cada uma com o seu limite de tolerância. Em alguns lugares, ter piercing e tatuagem é até um diferencial positivo, porque empregar um funcionário assim mostra que a organização é mais moderna.
Vivemos na era do WhatsApp. Como lidar com mensagens de trabalho depois do expediente?
O WhatsApp equivale ao telefone de antigamente. É educado mandar uma mensagem perguntando se a pessoa pode falar. Porém, é necessário ter certa intimidade. Se você receber uma mensagem fora do horário de trabalho, pode visualizar e não responder. Inclusive, é saudável fazer isso. Temos o direito de nos proteger.
Ainda falando de internet, o que não era legal e agora é?
Os convites. Hoje, se sou convidada pela internet, me sinto tão convidada como se eu tivesse recebido um exemplar físico em casa. Desde que não seja um convite enviado para todo mundo, e sim dirigido para mim. A internet mudou os hábitos. Temos novas formalidades e informalidades. E outra grande lista de regras.