Como é que é? Quantos seguidores - 6 milhões? Uma pequena amostra desse verdadeiro culto a Christian Figueiredo pôde ser sentida pelo repórter durante visita ao set de Eu Fico Loko. O longa sobre o vlogger sensação está sendo finalizado neste começo de semana em São Paulo. Para outubro, ficarão faltando poucas cenas. A filmagem de sábado foi na Vila Mariana. Um acidente de trânsito com Christian, garoto, na direção. Ele começou cedo nessa coisa de documentar a própria vida. Em 2014, estourou como um dos maiores (o maior?) youtuber do Brasil. Tudo foi muito rápido, de uma forma que Christian nem sabe explicar. Virou um fenômeno, com esse mundaréu de seguidores.
Hoje, são mais de 40 milhões de visualizações/média por mês. Os vloggers estão chegando ao cinema. Christian roda seu filme, Kéfera - a Christian de saias - já rodou o dela. O repórter dá uma olhada no local do presumível acidente e vai para a central de produção, onde o esperam os dois Christian. O real, de 22 anos, e o de ficção, Filipe Bragança, que o interpreta quando tinha 15 - na época retratada pelo filme. A conversa não anda. A cada dois ou três minutos, chega o segurança do set ou alguém da produção perguntando se Christian pode fazer um selfie, tirar uma foto ou simplesmente dar um abraço nos fãs.
Primeiro, são dois irmãos, um de 5 e outro, de 8. Depois, um avô pedindo um abraço para sua neta adolescente. Christian grava uma cena, com o avô de fundo. "Beijãããoooo." Reproduz o som. Agora outro abraço ali fora, onde tem outro fã. O repórter brinca - "Agora, chega. Pode pedir pra produção parar de caçar gente na rua e pagar cachê. Já me convenci de que você está por cima e é popular." Christian, o real, ri. O fictício, que se juntou aos dois, também.
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Na central de produção, o Christian fictício está sendo maquiado - o corpo todo pintado de azul, com o herói de Avatar, a obra cult de James Cameron. Presente no set, a preparadora Kika Freire, que também preparou Kéfera para seu filme dirigido port Cris D’Amato, pede ao Christian real que diga alguma coisa. "E aí, meus lokões e lokonas desse Brasil, tudo bem com vocês?" Diz no tom exaltado, histriônico com que se comunica no canal. Filipe repete a frase - igualzinho. Hein? A preparadora dá seu sorriso de aprovação. "Viu? Fizemos nosso trabalho direitinho." Aos 15, Christian era um típico garoto da sua idade. Típico. "Eu era BV, tímido, tinha sempre os outros caras descolados na escola." BV - boca virgem. Nas comédias teen de Hollywood, o flagelo da garotada é a primeira noite. Perder a virgindade.
Para Christian, o tormento era ser BV, nunca haver beijado uma garota na boca. Naquela época, como milhões de jovens, ele não sabia direito o que queria. Ser cineasta? Era uma possibilidade. Fazia filmes com a câmera do pai. Filipe Bragança, azulzinho como um nativo de Avatar, era uma dessas fantasias de Christian. Um belo dia, Christian teve a ideia. Criou um canal no YouTube para veicular seus filmes. Começou a se comunicar. Pegava a câmera e falava com ela como se estivesse se psicanalisando. Esses pequenos vídeos iam, com os filmes, para a internet. O canal começou a bombar. Um amigo foi apresentar um projeto de livro numa editora. Christian foi junto. O editor perguntou - "E você, não tem nada?" Ele até tinha. Um livro com a mesma proposta de linguagem do canal. Dar voz ao jovem, expressar suas angústias, incertezas.
O editor se interessou. "Vamos em frente." Christian seguiu alimentando o canal e ficava até de madrugada escrevendo. Livro pronto - Eu Fico Loko: As desaventuras de um adolescente nada convencional - a editora fixou uma apresentação. Tiragem de 15 mil, se vender 5 mil já vale. Na tal apresentação havia tanta gente - garotos e garotas - que os 15 mil volumes se esgotaram. Eu Fico Loko virou fenômeno editorial. Vendeu 500 mil exemplares em 2015 - 56 semanas consecutivas na lista dos mais vendidos. Júlio Uchôa, da produtora Ananã - de S.O.S. Mulheres ao Mar 1 e 2 -, resolveu produzir. Bruno Garotti é o diretor. Do elenco participam Filipe Bragança e o próprio Christian, Alessandra Negrini e Marcelo Airoldi como os pais, Suely Franco como a avó.
Lembram-se de Curtindo a Vida Adoidado, de John Hughes, com Matthew Broderick, de 1986? Há 30 anos... O roteirista Sylvio Gonçalves incorpora uma ideia de Hughes que também está na origem desse diálogo franco de Christian com seu público. Os meninos avançam pelo corredor da escola propondo alguma transgressão a Filipe. Christian entra em cena e faz um comentário - "Meus pais sempre foram tão bakanas, me apoiaram tanto, que nunca quis decepcioná-los." Na balada, um casal jovem está no maior pega e Christian/Filipe, tímido, sem coragem de beijar a garota que é seu objeto de desejo (platônico). Chega um e beija. Filipe, por que você acha que Christian é esse sucesso - "Porque ele comunica, sabe escrever pra gente (os jovens)." Christian, por que Filipe era o melhor para ser você na tela? "Porque ele é romântico, como eu."
Confira um dos vídeos de Christian Figueiredo:
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.