Até o cantor Michel Teló, acostumado ao sucesso (lançou, em 2011, o hit internacional Ai, Se Eu Te Pego), ficou ligeiramente surpreso com a grande repercussão do quadro Bem Sertanejo, que o programa Fantástico, da Globo, exibiu em 2014 e 2015. Na TV, ele contou, a cada domingo, a origem e a evolução desse ritmo marcantemente brasileiro, acompanhado de grandes nomes do gênero como as duplas Zezé Di Camargo e Luciano, Fernando e Sorocaba, e até pioneiros, como Milionário e Zé Rico. O quadro logo inspirou um livro de mesmo nome e, depois de Teló se associar com a Aventura Entretenimento, surge agora Bem Sertanejo - O Musical, que terá três apresentações em São Paulo, entre os dias 21 e 23 de abril, seguindo carreira por Porto Alegre, Curitiba, Rio, Brasília, Belo Horizonte até terminar em Ribeirão Preto (2 a 4 de junho).
"Quando estouramos com a música Fugidinha, percebi a necessidade de fazer um projeto de raiz", conta Teló à reportagem. "Foi quando surgiu o quadro no Fantástico e as pessoas se identificaram tanto que lançamos o livro. Mas eu queria um musical, só que eu e minha equipe não tínhamos o conhecimento necessário. Daí surgiu o Luiz Calainho (sócio da Aventura e da Musickeria, também produtora do espetáculo), que cuidou da produção."
A criação foi entregue a um especialista: Gustavo Gasparani, que assumiu a direção além de ser autor do texto e do roteiro musical. Em seu currículo, ele ostenta uma empreitada da mesma envergadura, SamBRA, musical estrelado por Diogo Nogueira em 2015 e que contou a história do samba. Bem Sertanejo segue pela mesma trilha - conta a trajetória e a formação da música caipira e da cultura interiorana do Brasil país de forma poética e não cronológica. O primeiro ato é completamente rural, lírico, entremeado por poemas de Cora Coralina, Manoel de Barros e inspirado no universo de Guimarães Rosa. Flerta, ainda, com o movimento modernista, que ajudou na construção da identidade nacional, por meio dos versos de Mário de Andrade, Manuel Bandeira, da música de Villa-Lobos e da obra de Tarsila do Amaral, que inspira a cenografia da peça.
Já o segundo ato é marcado pela trajetória de artistas caipiras, como Angelino de Oliveira, Raul Torres, João Pacífico, Tonico e Tinoco, Tião Carreiro, entre outros. Aqui, são mostradas as primeiras apresentações pelo interior até chegar à cidade grande. O sertão mítico, isolado do resto do País, torna-se ultrapassado à medida que sofre com os efeitos do progresso e da globalização.
"Proponho uma viagem pelos nossos interiores - memórias, infância, descobertas -, resgatando, assim, o sertão que há em cada um de nós e, ao mesmo tempo, um contato direto com nossas raízes culturais", conta Gasparani. "Um sertão mítico, no qual o erudito se encontra com a alma popular para criar a identidade de um povo. Um encontro livre de preconceitos e longe da palavra 'progresso'. Onde Tarsila, Mário de Andrade e Villa-Lobos se encontram com Tonico e Tinoco, Mazzaropi, Jararaca e Ratinho e tantos outros."
Para isso, ele conta, além de Teló, com um elenco apurado e experimentado, formado por atores/músicos: Lilian Menezes, Sergio Dalcin, Alan Rocha, Cristiano Gualda, Daniel Carneiro, Gabriel Manita, Jonas Hammar, Luiz Nicolau, Pedro Lima e Rodrigo Lima, E o Fantástico retoma o quadro em maio. (Colaborou Grazy Pisacane)