Neste sábado (23), às 15h, acontece no espaço Villa Rica (rua Piauí, 211, Centro Histórico) uma edição especial do projeto Sessão Kinopus em homenagem aos 90 anos de Londrina. A sessão, com entrada franca, exibirá curtas do pioneiro Hikoma Udihara (1882-1972) filmados em Londrina entre os anos 1930 e 1960 e restaurados pelo cineasta Caio Julio Cesaro.
Além dos curtas de Udihara, será exibido o curta “Londrina 1959″, dirigido por Orlando Vicentini (1916-1991), um dos pioneiros do cinema londrinense.
Todos as obras são silenciosas, mas serão apresentados a partir de uma versão sonorizada pelo cineasta Rodrigo Grota.
Depois da sessão, ocorreu um debate com a presença de Caio Julio Cesaro; de Solange Batigliana, diretora de Patrimônio Artístico e Histórico-Cultural da Secretaria Municipal de Cultura de Londrina; e da professora Edméia Ribeiro, diretora do Museu Histórico de Londrina. A mediação será de Rodrigo Grota.
Essa edição especial do cineclube Sessão Kinopus é em parceria com o curso de História da UEL (Universidade Estadual de Londrina). Ainda tem a colaboração do NDPH (Núcleo de Documentação e Pesquisa Histórica) da UEL, que tem realizado uma série de atividades formativas para celebrar os 90 anos de Londrina.
Curtas de Hikoma Udihara
O nascimento do cinema em Londrina partiu da vontade de registrar o que acontecia na região em que estava instalada a CTNP (Companhia de Terras Norte do Paraná). Era 1932 quando um cinegrafista de 50 anos passou a registrar em um filme reversível (com cópia única) 16mm as terras e a mata que atualmente é Londrina.
O cinegrafista era o japonês Hikoma Udihara (1882-1972), o primeiro cineasta londrinense, considerado pelo crítico de cinema Carlos Eduardo Lourenço Jorge “o ponto de chegada e partida imagística de Londrina”.
Apesar de indícios de filmes em 1932, o filme mais antigo de Udihara, com data comprovada, é de 1934.
Nascido em 7 de novembro de 1882, na província de Kochi, no Japão, Udihara chegaria ao Brasil em 28 de junho de 1910, no porto de Santos (SP). Por volta de 1920, dedicou-se ao ramo de corretagem e colonização, fundando colônias e núcleos de imigrantes japoneses. Em 1922, ingressaria na CTNP, a convite do gerente geral da companhia, Arthur Thomas. Tornava-se o agente exclusivo da CTNP para negociações com japoneses.
A nora de Udihara, Kasue, em entrevista ao pesquisador Cesaro, definiu-o como um cinegrafista prolífico: “Filmava tudo o que via. Era um curioso que gostava de fotografar e filmar”.
O cineasta prosseguiu com os filmes e vendas até 1969. Morreu em 1972, em São Paulo, depois de sofrer um derrame cerebral e ficar paralítico. Em 37 anos, fez cerca de 124 filmes curtos, que, conforme Cesaro, totalizam 10 horas de filmagens. Todos foram documentários, sem montagem, e com impressionante equilíbrio nos enquadramentos.
Hoje, parte desses filmes se encontra disponível em VHS no acervo do Museu Histórico de Londrina. Outra parte está conservada na Cinemateca Brasileira, em São Paulo. Em 1999, a 1ª Mostra Londrina de Cinema homenageou o pioneiro atribuindo o nome dele ao troféu entregue pelo festival. Entre 2004 e 2006, Cesaro coordenou o projeto “LondrinaCinema70”, que sob o patrocínio do Promic (Programa Municipal de Incentivo à Cultura), da Prefeitura de Londrina, realizou a restauração de 13 filmes curtos de Udihara. Desse projeto, saíram os curtas que serão apresentados nessa edição especial da Sessão Kinopus, com o acréscimo de uma trilha sonora adicionada por Grota.
Londrina 1959
Depois dos primeiros documentaristas do norte do Paraná, surge alguém disposto a fazer ficção cinematográfica, o médico Orlando Vicentini. O primeiro filme dele é de 1948, mas foi em 1949 que comprou a primeira câmera, a Bolex Paillard, 16mm, de origem suíça.
O primeiro filme de ficção londrinense, e possivelmente do Paraná, foi filmado entre março e abril de 1954, intitulado “Um Dia Qualquer”. Mostra os filhos do médico na rotina antes de ir para a escola. Em dezembro daquele ano, Vicentini produziria a segunda incursão dramática, o curta “O Natal de 54”. Ambos os filmes são coloridos e mudos, com cerca de 10 minutos de duração.
Apesar das condições precárias de que Vicentini dispunha, percebe-se que era profundo conhecedor da linguagem do cinema. De acordo com Cesaro, o pioneiro assistia a muitos filmes e tinha uma boa noção de alguns elementos da estética da sétima arte. Em filmes deles, há fusões, contra-planos, bons enquadramentos, e uma razoável direção de atores (seus filhos) que lhes reservam certo tom de espontaneidade.
Em 1959, é filmada a obra-prima de Orlando Vicentini e talvez o melhor filme da história do cinema londrinense, “Londrina 1959”, uma homenagem aos 25 anos do município. Para a produção do filme, conforme Cesaro, Vicentini comprou uma lente Cinemascope e usou filme Kodachrome colorido.
Mesmo com o bom resultado, Vicentini sempre achou “Londrina 1959” um filme ruim, comenta o pesquisador. “Ele ia tirando imagens do filme ao longo dos anos”.
A montagem inicial tinha de 40 a 50 minutos. A versão final, entregue à TV Coroados em 1984, na ocasião do cinquentenário de Londrina, tinha 20 minutos, que foram mostrados na íntegra pela TV, em rede estadual, em um especial sobre o município. As únicas cópias disponíveis desse filme estão com a família, no formato original e em VHS.
Em 2006, o cineasta Rodrigo Grota fez a telecinagem desse filme para o suporte Betacam analógico e para formato DVD. É essa versão que será apresentada nessa edição especial da Sessão Kinopus, com o acréscimo de uma trilha sonora adicionada por Grota.