O ano virou com clima de esperança. Muita gente achava que 2022 já seria, logo de cara, menos pandêmico e mais alegre do que seu antecessor. Mas o aumento de casos de Covid causado pela variante ômicron frustrou essa largada, deixando muita gente reticente quanto ao que esperar deste ano novo.
Nada, no entanto, deve ser pior do que as previsões que o cinema fez para 2022, que desenham um cenário distópico, de destruição por diferentes motivos, para os dias à frente. Antes de entrar nos extremos da ficção científica, um filme chama a atenção por estar mais calcado na realidade e ser fruto dessa mesma pandemia.
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Lançado há cerca de um ano, "Pânico em Casa" está longe de ser memorável. Ele se destaca, no entanto, por ter sido feito durante o isolamento pela Covid-19 e por ter sua história centrada nela. O roteiro nos leva até abril de 2022 para imaginar como estaria o mundo após meses de coronavírus -e a previsão não é nada boa.
O vírus causador da doença já mutou diversas vezes e, na trama, chegou a uma variante que é três vezes mais transmissível e duas vezes mais letal. Isso elevou o número de vítimas fatais para 253 milhões em todo o mundo.
Também causou a desintegração do Reino Unido, que, em crise, decidiu se dividir em dois Estados, e transformou o Central Park, em Nova York, num enorme hospital de campanha. Muros dividem áreas das cidades para pessoas com anticorpos e sem, enquanto as ruas são patrulhadas por policiais brutos que usam máscaras de gás daquelas à la Chernobyl.
Em "Pânico em Casa", o mundo mergulha num quase estado de exceção, algo que também acontece em "Uma Noite de Crime", lançado em 2013 e que mostra os Estados Unidos, em 2022, como um país que superou a criminalidade e com taxas de desemprego na casa do 1%. Mas essa utopia não foi conquistada sem que se pagasse um preço altíssimo por ela.
No que hoje é uma franquia que engloba cinema e televisão, descobrimos que o país entrou em colapso no início dos anos 2010 devido ao crime e ao aumento populacional. Para contornar o problema, um grupo de políticos cria o "expurgo", um feriado nacional em que qualquer tipo de delito é permitido -de roubo a assassinato.
O primeiro filme da franquia se passa justamente em 2022, quando a data é finalmente aceita pela maioria da população, que já está totalmente adaptada ao feriado sangrento, com casas paramentadas com sistemas de segurança ultramodernos -para os que podem pagar- e muita gente com coleções extravagantes de armas, mesmo que de uso anual.
O crescimento desenfreado da população também está por trás da nova sociedade concebida para o filme "No Mundo de 2020", que, apesar do ilógico título em português, se passa em 2022. Originalmente batizado de "Soylent Green", o longa de Richard Fleischer foi lançado em 1973 e trazia Charlton Heston no papel de um policial que investiga o assassinato de um empresário influente.
A vítima é uma das mentes por trás do "soylent green" do título, uma barrinha milagrosa capaz de alimentar boa parte da população num planeta onde já não há campos para a agricultura ou animais para o abate. "Manteiga de verdade" e "alface fresco" deixaram de circular até mesmo nos círculos mais elitistas e, numa cena, a esposa de um milionário recebe a chance de comprar um produto exclusivíssimo -um bife.
Este é um privilégio que apenas os muito endinheirados têm e que, guardadas as devidas proporções, ecoa um pouco a atual impotência do povo brasileiro diante do preço da carne bovina no país, que no fim do ano passado apresentou uma inflação de mais de 10% em relação ao ano anterior.
Outro acerto é que muitos figurantes do longa são vistos de máscara. Não por causa de uma pandemia específica, mas pela alta densidade demográfica na Nova York do filme e pelos altos índices de poluição.
"Soylent Green" também previu, nesse caso erroneamente, que mulheres seriam como mobília e, quando seu "dono" morresse, elas ficariam disponíveis para o próximo locatário do imóvel em que moram. Nas ruas, quando há protestos, retroescavadeiras removeriam os manifestantes sem qualquer pudor.
E, para controlar a população, o governo ofereceria clínicas de suicídio assistido, onde os mais velhos poderiam encurtar a vida em troca de 20 minutos de regalias às quais não têm mais acesso.
O aumento populacional, desta vez dentro das cadeias, é um problema também em "Fuga de Absolom", de 1994. Para resolver a questão, os países exilam seus condenados em ilhas prisões, que têm um funcionamento próprio e sem qualquer acesso ao continente -mas isso cria territórios controlados na base da violência pelos próprios prisioneiros. Em 2022, o personagem de Ray Liotta é mandado para uma delas, mas parece determinado a escapar.
As ameaças que o cinema previu para os próximos meses, no entanto, não são só motivadas por ideias ruins de gente importante. É no espaço que moram alguns dos personagens dispostos, na ficção, a aniquilar uma boa porção de seres humanos.
No ano passado mesmo tivemos a estreia de "A Guerra do Amanhã". No longa estrelado por Chris Pratt, uma invasão alienígena só ocorre nos anos 2050, mas é em 2022 que os terráqueos do futuro vão buscar ajuda, por meio de uma tecnologia de viagem no tempo. O objetivo é recrutar a população da época para lutar na guerra contra os colonizadores.
Os personagens do futuro aparecem para seus antepassados durante a disputa da final da Copa do Mundo do Qatar, programada para novembro. Apesar da iminente destruição do planeta por alienígenas, a boa notícia, ao menos para os brasileiros, é que a nossa seleção está na partida, prestes a tomar a dianteira do placar quando é interrompida pelos viajantes temporais.
Máquinas capazes de transportar as pessoas para o passado também ajudam a combater os alienígenas de "Time Runner", estrelado por Mark Hamill em 1993. Aqui, a invasão acontece em 2022 mesmo e o protagonista precisa voltar para os anos 1990 para tentar mudar o futuro.
Outro astro da franquia "Star Wars" que tentou prever como 2022 seria nas telas foi Billy Dee Williams, em "Alien - A Intrusa", também lançado em 1993. Desta vez, a ameaça vem da realidade virtual usada de forma problemática pelos homens, que querem ter fantasias eróticas com as mulheres de seus sonhos. Só que essas projeções irreais ganham muito poder e a tecnologia vira uma ameaça.
Ainda no espaço, "O Lado Sombrio da Lua", de 1990, acertou ao imaginar que hoje nós teríamos mais facilidade para explorar o universo. Mas definitivamente errou ao criar uma trama em que a tripulação de um ônibus espacial, perdido durante uma missão em 2022, seria aterrorizada por uma possessão demoníaca.
Haja criatividade para tantas previsões excêntricas. Ao menos em "Tempestade: Planeta em Fúria", que também não impôs limites à imaginação em 2017, a motivação para o caos que toma a Terra vem acompanhada de uma denúncia bem realista.
Estrelado por Gerard Butler, o filme mostra um 2022 em que vários países se uniram para construir uma espécie de escudo que protege o planeta das mudanças climáticas. Quando os satélites a cargo do serviço começam a falhar, catástrofes naturais se tornam frequentes.
Se for levar o roteiro a sério, espere tsunamis colossais invadindo cidades costeiras, chuvas de granizo do tamanho de carros e aviões congelados caindo sobre a população e tornados aparecendo simultaneamente em várias regiões nos próximos meses.
Esse cenário parece um tanto extremo para 2022, mas quem sabe não se torne realidade daqui a algumas décadas se nós nada fizermos em relação à crise do clima. "Tempestade: Planeta em Fúria" é um péssimo exercício de futurologia, mas talvez seja um ótimo alerta.