Uma rara chuva forte castiga Los Angeles. Estamos no dezembro mais chuvoso da metrópole californiana em mais de uma década. O tráfego já caótico e intenso ganha o acréscimo do perigo com as ruas molhadas.
Nada mais adequado para servir de pano de fundo para o encontro com Roland Emmerich, o cineasta alemão mais hollywoodiano que existe, o homem que já ameaçou a Terra com alienígenas em "Independence Day", mudanças climáticas extremas em "O Dia Depois de Amanhã", e aquecimento do núcleo do planeta em "2012".
"Esse clima maluco foi planejado por você?", brinca a reportagem deste jornal. O diretor solta uma risada rouca e sobe para a sala de montagem da sua produtora Centropolis Entertainment, em Hollywood, onde ele finaliza "Moonfall", seu novo filme-catástrofe, previsto para estrear no Brasil em 3 de fevereiro.
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Este jornal é o único veículo brasileiro a ter acesso às primeiras cenas completas da ficção científica protagonizada por Patrick Wilson, de "Invocação do Mal", Halle Berry, de "X-Men", e John Bradley, de "Game of Thrones".
Nesta primeira hora de filme, Berry e Wilson fazem ex-astronautas em decadência depois de sua missão orbital ser estranhamente atacada por algum evento inexplicável. Anos depois, a dupla se torna uma das esperanças da Terra quando a Lua sai da sua órbita e inicia uma trajetória catastrófica rumo à Terra.
A ideia surgiu quando o cineasta leu "Who Built the Moon" ("Quem Construiu a Lua?"), livro em que os autores Christopher Knight e Alan Butler teorizam que a Lua não é um objeto natural, mas um construto artificial que poderia ser fruto de alienígenas, Deus ou de uma viagem no tempo.
"Não dava para acreditar, então criamos nossa própria solução sobre quem construiu a Lua e quando. Nos deu uma perspectiva interessante, pois obviamente havia algo antes de nós. A Terra é um planeta jovem. O Sistema Solar é relativamente jovem. O filme é sobre a origem da raça humana."
Ao contrário de "Não Olhe Para Cima", não existe a opção de descrença sobre a tragédia iminente em "Moonfall": tsunamis destroem grandes cidades litorâneas e ondas de gravidade causam terremotos devastadores em questão de minutos.
Os heróis precisam resgatar um antigo ônibus espacial para, ao lado do cientista maluco de Bradley, provarem que existe algo movendo o satélite natural, tudo com a assinatura exagerada de Emmerich, um diretor que pode não ser amado pelos críticos, mas que entrega exatamente o que se espera dele.
"Consegui virar meu próprio gênero de cinema", brinca o diretor, já sentado em seu escritório cercado por objetos cenográficos das suas superproduções. "Foi algo que aconteceu naturalmente depois de 'Independence Day', quando coloquei pessoas normais em um cenário de invasão alienígena e fim do mundo. Virou minha fórmula, apesar de ter feito outras obras diferentes."
Aos 66 anos, Emmerich diz que é "uma pessoa otimista", mas que se sente cada vez mais pessimista em relação ao futuro, principalmente por causa das mudanças climáticas, um assunto muito falado, mas pouco confrontado hoje em dia. "Quando vamos aprender? Nunca, não é?", questiona o diretor de "O Dia Depois de Amanhã", talvez o primeiro blockbuster a tratar do tema de modo espetacular, porém cada vez mais profético.
"É incrível que eu tenha feito esse filme há quase 20 anos e ainda estamos falando sobre o assunto", espanta-se o cineasta. "É insano, mas ainda acredito que a mudança climática é maior problema que enfrentamos. Sinceramente, concebi 'O Dia Depois de Amanhã' como uma espécie de alerta, pois estava preocupado e precisava gritar para o mundo: 'Se não tomarmos cuidado, vamos ser esmagados por um martelo'. Agora, estamos enfrentando incêndios, secas e tempestades mais violentas. Estamos no meio de uma grande mudança."
E ele não esqueceu a pandemia. "Viu como nossa sociedade foi rápida e facilmente paralisada?", diz ele. A entrevista presencial em um pequeno ambiente só foi possível porque estávamos em um período de calmaria, antes da variante ômicron se espalhar pelo planeta. Surpreendentemente, Emmerich não tem a mínima intenção de explorar o tema em um dos seus filmes-catástrofe, "Precisamos ter um distanciamento", mas pensa em criar outro longa sobre mudanças climáticas, desta vez focando os refugiados climáticos.
"Precisa ser algo radical, talvez passado 10 anos no futuro. Imagine 120 milhões de refugiados por causa do clima. Todos os países vão se trancar, vão virar ilhas. Ninguém poderá entrar ou sair. Seria interessante fazer um filme sobre isso", imagina o diretor, que emenda: "Mas não tenho nada de concreto. Quero tirar férias, porque foi difícil trabalhar dois anos e meio em 'Moonfall' com a pandemia surgindo quando estávamos no meio das filmagens".
Por causa da paralisação inicial, em 2020, Emmerich ganhou mais dois meses de prazo e retomou os trabalhos de maneira completamente inédita. As filmagens em Montreal foram divididas por bolhas de diversos setores, então atores não se confraternizavam com diretores, que, por sua vez, não podiam se aglomerar com áreas técnicas. "Não podia chegar perto, precisava passar orientações pelo megafone, algo que odeio. Ainda não havia vacina, então foi um esquema bem rígido."
Apesar disso, Emmerich conta que "Moonfall" foi rodado em 60 dias, mesmo com o diretor assumindo as duas unidades de filmagens. "Estou ficando cada vez mais veloz", gaba-se o alemão, que teve um orçamento de US$ 140 milhões para "destruir" o mundo novamente. "É meu quinto filme em Montreal, onde há uma restituição de 25% do orçamento para a produção. É a única maneira de fazer um longa original deste porte hoje em dia."
Mas a pandemia também teve uma consequência diferente para o cineasta. "Aparentemente, apenas um evento de extinção em massa vai corrigir nosso curso. É um pensamento terrível, não quero que aconteça, mas é o que sinto. Onde estão as soluções políticas?", questiona o diretor, que também vê a indústria cinematográfica enfrentando seu pior momento.
"O cinema está mergulhado profundamente na merda", afirma Emmerich. "Só há streaming hoje em dia e eles só fazem um grande filme de vez em quando. Já recebi ofertas para trabalhar para eles, mas gentilmente recuso", ressalta o diretor, que não se diz seduzido nem mesmo pela Marvel. "Odeio filme de super-heróis, apesar de alguns deles serem ótimos."