A fadiga dos super-heróis no cinema, um universo que exige ter visto diversas séries e filmes para entender o contexto dos personagens e o lançamento constante de novos produtos explicam por que a Marvel não está mais em sua fase de ouro no audiovisual.
"As Marvels", sua última aposta, lançada em novembro, teve a pior bilheteria de estreia do estúdio, somando US$ 47 milhões nos Estados Unidos.
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Na seara das últimas estreias, desde 2022, os únicos filmes que tiveram algum sucesso de bilheteria, mas não atingiram a marca do bilhão, foram "Doutor Estranho no Multiverso da Loucura", de 2022, e "Guardiões da Galáxia Vol. 3", lançado em maio.
Cenário muito diferente se comparado com os anos anteriores em que os filmes dos Vingadores e dos personagens que fazem parte do grupo, como "Homem de Ferro 3", de 2013, ou "Pantera Negra", de 2018, renderam mais de US$ 1 bilhão em bilheterias mundialmente.
Dados do Google Trends mostram que essa baixa rentabilidade também foi acompanhada pelo declínio de interesse de buscas que incluem as principais pesquisas relacionadas à Marvel como filmes, heróis e personagens que fazem parte desse universo.
"Desgaste da própria marca e desse modelo de produção de filmes é algo natural. Isso não é apenas com a Marvel, mas também com a DC e outros estúdios que focavam em um gênero específico, como filmes de terror. É como comer o mesmo chocolate todos os dias", diz Thiago Romariz, fundador do Chippu e diretor de inovação e conteúdo da Omelete Company.
Desde 2004, ano do início da série histórica da plataforma, os únicos picos de pesquisas foram em maio de 2018 e maio de 2019, exatamente nos períodos que marcaram as maiores bilheterias da Marvel e do cinema mundial, com os filmes "Vingadores: Guerra Infinita" e "Vingadores: Ultimato".
"Esse 'crossover' sempre é um sucesso absoluto. A lógica é que, se eu não vejo 'Vingadores' no cinema, vou tomar 'spoiler' e não vou ter a experiência de ver isso com as outras pessoas. Se eu não vejo 'As Marvels' no cinema, vou assistir quando for para o streaming daqui a dois meses e não vou perder muita coisa, porque não tenho esse vínculo com a história", diz Pedro Curi, coordenador do curso de Cinema e Audiovisual da ESPM Rio.
Segundo o Trends, depois dos 'Vingadores', outro momento que teve um aumento de interesse foi em janeiro de 2022, o que coincide com o buzz gerado pelo filme "Homem-Aranha: Sem Volta para Casa", lançado em dezembro de 2021. O longa marcou o retorno da Marvel aos cinemas após o período pandêmico e foi o único pós-Vingadores que registrou alta bilheteria quase US$ 2 bilhões mundialmente.
Para Romariz, a bilheteria foi rentável porque é um personagem canônico no universo dos super-heróis e foi repleto de nostalgia ao trazer todos os atores que haviam interpretado o Homem-Aranha nos cinemas. "As pessoas foram assistir para reviver seus sentimentos, para ter novamente a experiência coletiva, porque foi um dos primeiros filmes pós-pandemia", afirma.
A Marvel também enfrenta uma batalha com a popularização dos serviços de streaming, que alterou o comportamento do usuário em relação à forma como gasta para ver os filmes, optando por assinaturas no lugar dos ingressos caros.
Romariz afirma que exigir uma bagagem das pessoas para assistir a determinadas produções da Marvel exclui parte do público. Para entender a história de "As Marvels", por exemplo, é preciso ter visto as séries "WandaVision" e "Ms. Marvel", além dos dois últimos "Vingadores" e do filme "Capitã Marvel".
"Estamos presenciando um universo que se torna cada vez mais complexo. Parece que já exploraram as principais histórias e agora estão tentando manter isso vivo", diz Curi.
Depois do fim da greve dos atores, a Marvel adiou algumas produções de 2024, sendo que "Deadpool 3" será o único lançamento do estúdio no próximo ano. Em paralelo, há a busca por histórias de super-heróis que buscam fugir de uma dicotomia entre bem e mal.
"Temos as séries 'The Boys' e 'Gen V', que estão introduzindo o super-herói no contexto do streaming com uma abordagem mais realista e focada em lidar com problemas reais", diz Curi.