O Cine Teatro Universitário Ouro Verde de Londrina vai voltar a ser cinema a partir desta semana, sempre às segundas, terças e quartas-feiras. Após um hiato de 20 anos, a exibição de filmes recomeça nesta segunda-feira (2). Serão duas sessões por dia: 17h e 19h30.
Nos outros dias da semana, o Ouro Verde mantém as atrações de música, teatro e dança. E o espaço já está com a agenda praticamente lotada até o final do ano, de acordo com a diretora da Casa de Cultura da UEL, Maria Helena Ribeiro Bueno.
Ela classificou como “momento histórico” o retorno do cinema. “Desde 1978, quando a UEL comprou o Ouro Verde, a Casa de Cultura passa a ter uma importância de formação de público na cidade, com o recorte dos filmes exibidos”. Bueno falou também alegria de voltar com as sessões depois de dois anos suspensas devido à pandemia.
Segundo Carlos Eduardo Lourenço Jorge, diretor da Divisão de Cinema da Casa de Cultura da UEL (Universidade Estadual de Londrina), Os filmes de arte continuam garantidos na programação. A estreia será com o filme Tre piani (três andares, em tradução livre), do diretor italiano Nanni Moretti, a respeito de três famílias que vivem em apartamentos no mesmo condomínio.
Em entrevista à Rádio UEL FM, o diretor comentou sobre os quatro filmes já definidos para maio e dos desafios para garantir público e levar de volta os espectadores para a sala de cinema em tempos de streaming.
O Ouro Verde não tinha agenda regular de filmes desde 2002. Houve algumas exibições como Marighella, ano passado, numa parceria com o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), além de algumas edições do Festival Kinoarte, mas as sessões com curadoria de Lourenço Jorge foram transferidas para o cine Com-Tour UEL, que funcionou por 15 anos.
“Sempre houve uma demanda enorme do espaço como teatro e as atividades de cinema precisam ser sistemáticas. Elas têm uma rotina até por conta do contrato com as distribuidoras. Então, em 2005, nós fomos para o Com-Tour e conseguimos manter a programação de filmes lá até 2020”, disse Bueno.
Ela e Lourenço Jorge esclarecem que o desejo era ter uma sala pequena para exibições de filmes de arte, com média de 100 lugares, além de um projetor digital profissional. No entanto, o projeto, com pelo menos duas parcerias que a Casa de Cultura tentou viabilizar, não se concretizou. “Por essa razão e também pelos vários pedidos do público fiel do Com-Tour sobre o retorno da sala, a comissão de pauta que gere a agenda do teatro definiu destinar o Ouro Verde às segundas, terças e quartas para as atividades de cinema”. O espaço tem 726 lugares.
A partir dessa decisão, Bueno comentou que iniciou outro caminho: convencer as distribuidoras em ter filmes só três dias por semana. Lourenço Jorge conseguiu negociar com distribuidoras e metade da arrecadação da bilheteria será destinada a elas e a outra metade à universidade.
A diretora da Casa de Cultura cita ainda o quadro precário de pessoal. “A equipe do teatro são só três pessoas: administrativo, técnico e bilheteira. A bilheteira do Com-Tour se aposentou e a do teatro vai acumular. E hoje temos só um técnico do cinema. Por isso, do ponto de vista operacional, o retorno das exibições é um esforço conjunto da equipe do Ouro Verde, reduzidíssima, e a equipe da Divisão de Cinema, reduzidíssima”.
Outro desafio, de acordo com Bueno, vai ser incluir na agenda do teatro todas as produções da Casa de Cultura, além das demandas externas. A diretora justifica que desde a reinauguração do Ouro Verde, em 2017, depois de cinco anos em reforma após o incêndio que destruiu o espaço em 2012, a demanda é sempre muito maior do que a agenda. Além disso, o Ouro Verde acaba sendo o único teatro público da cidade e aumentaram as solicitações de uso do espaço para projetos do Promic (Programa Municipal de Incentivo à Cultura).
Programação Fechada
A programação, porém, já está fechada de setembro a dezembro. “Tivemos uma primeira reunião da comissão de pauta e até junho os eventos estão aprovados. Ainda temos algumas datas em julho e agosto, mas de setembro a dezembro mais nenhuma disponível”. Há também pedidos de eventos para uma mesma data e a decisão será feita pela comissão, formada pelo administrador do Ouro Verde, João Manoel, a própria diretora, além dos representantes das divisões da Casa de Cultura e coordenadores dos colegiados de Artes Cênicas e Música e Teatro.
Em junho, o Ouro Verde abrigará os espetáculos do Filo (Festival Internacional de Londrina); em julho os concertos do Festival Internacional de Música. A UEL é co-realizadora desses dois festivais. Em outubro será a vez do Festival de Dança e em novembro o Unicanto de Corais.
Sessões no Ouro Verde e novas parcerias
Além da volta do Ouro Verde para o público que aprecia filmes de arte e de produções mais densas e complexas, as sessões representam uma retomada pessoal para Lourenço Jorge. “Estou em contagem regressiva para a aposentadoria. Ano que vem completo 75 anos e vamos para a chamada ‘expulsória’. Eu queria terminar bem na ativa, proporcionando o que sempre proporcionei: títulos significativos e importantes, que possam fazer a ativação do gosto e da paixão pelo bom cinema”.
O diretor se mostra aberto a parcerias com a comunidade. “Não é um cineclube da UEL. A característica primordial é exibir filmes excepcionalmente bons. Se vão gostar ou não discutimos depois, mas vamos continuar com os filmes alternativos”. Ele diz que a academia nunca foi muito aberta para receber essas ofertas. “Esses quatro primeiros filmes da programação, sobre questões de família, do Moretti; o filme árabe sobre a presença da mulher na política; o filme francês sobre a presença do teatro em um presídio e o filme alemão sobre duas mulheres lésbicas vivendo em parceria rendem muito debate”.
Lourenço Jorge comenta que os professores da UEL e de outras instituições de ensino superior de Londrina podem programar aulas no Ouro Verde. “É uma utopia antiga: assistimos ao filme e depois conversamos com os alunos”, convida. Ele recorda de uma experiência com o curso de Direito da PUC, em que professores e estudantes fizeram debate após uma exibição no Com-Tour. “Saímos de lá quase duas da manhã”, coloca.
O diretor entende que o desafio de público é grande neste momento pela força do streaming. Segundo ele, as salas de arte se ressentiram muito porque títulos que eram delas agora estão disponíveis por meio da tecnologia que permite às pessoas não saírem de casa para ver os filmes.
Já o público das salas de shopping, no entendimento dele, tem voltado “com grande furor”. “Isso devido aos grandes sucessos, os blockbusters”. Para Lourenço Jorge, a programação de arte traz temas mais densos e complexos do que “os super-heróis da vida como esses, mais passageiros e ilusórios”.
Ele acredita que o público fiel que frequentava o cine Com-Tour UEL vai estar no Ouro Verde. “São pessoas que encontro na rua em alguns eventos e me cobram muito. Agora que conseguimos voltar a exibir as sessões, tomara que elas voltem também conosco”, espera.
Lourenço Jorge crê que vai atender aos anseios de produções de alto nível e alta qualidade, todos com áudio na versão original, com legenda. “Não exibo nada dublado”. Se os filmes tiverem bom público poderão ser exibidos na semana seguinte. “Se o filme do Moretti for muito bem na próxima semana, eu retorno com ele de novo na outra”, esclarece. Os quatro filmes já definidos, de acordo com Lourenço Jorge, são recentes, de 2019 pra cá, e frequentaram as grandes mostras internacionais de cinema.
Confira a lista dos filmes já definidos para exibição:
Tre piani (filme italiano, direção Nanni Moretti).
A candidata perfeita (filme iraniano, direção Haifaa Al-Mansour).
A noite do triunfo (filme francês, direção Emmanuel Courcol).
Nós duas (filme alemão, direção Filippo Meneghetti).
Os ingressos têm preço acessível: R$ 12 a inteira e R$ 6 a meia. O contato com a divisão pelo telefone (43) 3323-8562.