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Ultraprocessados são associados a doenças cardíacas em estudo

Acácio Moraes - Folhapress
12 jun 2024 às 22:00

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- Imagem de Freepik/Ilustrativo
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Embora alimentos de origem vegetal sejam benéficos para a saúde, suas versões ultraprocessadas podem fazer mal, especialmente para o coração. Uma pesquisa publicada esta semana revela que eles levam a um aumento do risco de desenvolver doenças cardiovasculares, bem como da mortalidade por essas doenças.


O trabalho foi feito por pesquisadores do Nupens (Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde) da USP (Universidade de São Paulo) em parceria com o Imperial College London e a IARC (Agência Internacional de Pesquisa em Câncer). 

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Os cientistas descobriram que ultraprocessados de origem vegetal estão associados a um aumento de 12% das chances de óbito por problemas do coração, bem como sobem em 5% os riscos de desenvolver essas doenças.

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Para Fernanda Rauber, pesquisadora do Nupens e principal autora do estudo, os resultados podem impactar as políticas públicas. "As diretrizes que simplesmente promovem o consumo de alimentos à base de plantas podem não ser eficazes se o nível de processamento industrial não for levado em consideração", diz. Ela lembra que ainda existem muitos países, como o Reino Unido, que não possuem uma recomendação clara para evitar ultraprocessados.

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O trabalho foi publicado na revista científica Lancet Regional Health Europe, uma das mais prestigiadas na área. Os resultados apontam na necessidade de promoção de políticas públicas focadas no combate ao consumo de ultraprocessados, e não naqueles de origem animal.


As conclusões do estudo foram obtidas após uma análise de dados da coorte de saúde britânica UK Biobank. As informações de mais de 118 mil participantes com idades entre 40 e 69 anos foram incluídas na pesquisa, que considerou aspectos da dieta e da saúde cardiovascular.

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Para analisar a alimentação dessas pessoas, os pesquisadores classificaram os alimentos como de origem animal ou vegetal, segundo os ingredientes prevalentes na sua composição. Dentro de cada grupo, eles também foram separados entre ultraprocessados e não ultraprocessados.


Para apontar os ultraprocessados, os pesquisadores utilizaram uma classificação alimentar conhecida como Nova. Ela organiza os alimentos segundo o grau de processamento e entende que é esse fator, e não a quantidade de nutrientes contida, que define a dimensão dos benefícios proporcionados por ele.

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Segundo a Nova, nossa comida pode ser classificada em quatro grupos: in natura e minimamente processados -aqueles obtidos diretamente da natureza, sem adição de sal, óleo ou açúcar-, ingredientes culinários processados, alimentos processados ou alimentos ultraprocessados. Estes últimos são feitos praticamente apenas por substâncias derivadas de outros ingredientes com adição de corantes, saborizantes e outros aditivos.


Embora os ultraprocessados de origem vegetal aparentem ser uma escolha prejudicial à saúde, os vegetais em si são os melhores ingredientes de uma refeição bem equilibrada. O estudo mostra que a substituição dos primeiros pelos segundos leva a uma redução de 7% do risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares e diminuição de 15% da mortalidade associada.

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Aumentar a proporção de vegetais no prato também traz benefícios. A pesquisa aponta que quem aumentou em 10% o consumo desses alimentos durante o estudo teve também redução de 7% do risco dessas doenças e de 13% da mortalidade. Em especial para a doença coronariana, as chances de mortalidade caem em 20%.


Sendo de origem vegetal ou não, os ultraprocessados de maneira geral são danosos à saúde humana por conta da sua composição e métodos de processamento. O consumo destes pode favorecer o aumento de doenças crônicas, como obesidade, diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares e certos tipos de câncer.

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Manuela Dolinsky, professora da Faculdade de Nutrição da Universidade Federal Fluminense, afirma que esses alimentos devem ser evitados o tanto quanto possível, assim como recomenda o Guia Alimentar para a População Brasileira, publicado pelo Ministério da Saúde. 


"Não há uma quantidade específica considerada aceitável, pois a orientação é priorizar comida in natura ou minimamente processada, que formam a base de uma alimentação saudável", diz. A especialista lembra que preparar refeições em casa e ficar atento aos rótulos são medidas que ajudam nesse processo.

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Ano passado, em outra revista do grupo Lancet, pesquisadores britânicos publicaram os resultados de um estudo feito com a mesma coorte que revela o aumento do consumo de ultraprocessados leva a maior número de casos de câncer, especialmente de ovário e de mama.


O trabalho acompanhou 200 mil pessoas durante dez anos. No total, 16 mil desenvolveram câncer, e 4 mil morreram. Na média, os ultraprocessados corresponderam a 22% da composição da dieta dos participantes. A cada aumento de dez pontos percentuais dessa participação esteve associado o aumento de mais de um ponto percentual do risco de desenvolvimento dos tumores.


Os pesquisadores do Nupens revelaram que os ultraprocessados corresponderam, em média, a 20% das calorias consumidas pelos brasileiros em 2018. Os números são resultados do aumento de um ponto percentual durante a década anterior. Em especial, conquistaram espaço entre a população indígena (aumento de quase seis pontos percentuais), de baixa renda (aumento de 3,5 pontos entre os 20% mais pobres) e do Norte e Nordeste (em torno de três pontos).


Mesmo com o aumento, o maior consumo de ultraprocessados segue sendo no Sul e Sudeste entre mulheres, brancos e nas zonas urbanas, segundo um acompanhamento feito através das POF (Pesquisas de Orçamentos Familiares) de 2008-2009 e 2017-2018 publicados na Revista de Saúde Pública da USP.


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