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Projeto apoiado pela Embrapii descobre inibidor contra a Covid-19

23 jan 2023 às 16:52

A Embrapii (Empresa Brasileira de Apoio e Pesquisa à Inovação Industrial) apoia projeto de desenvolvimento de uma nova medicação de uso oral com alto potencial para combater o processo inflamatório do vírus SARS-CoV-2, causador da Covid-19. Os pesquisadores desenvolveram inibidores sintéticos da RNA polimerase viral, essencial para a reprodução do coronavírus. 


O projeto é uma parceria entre a empresa Microbiológica, a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) e o CIEnP (Centro de Inovação e Ensaios Pré-clínicos) - Unidade Embrapii credenciada para atuar na área de pesquisa e desenvolvimento de medicamentos. Depois do depósito de duas patentes no Brasil e no exterior, a pesquisa é um dos destaques da revista Nature Communications neste mês de janeiro de 2023.


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O artigo foi publicado sob o título “Preclinical development of kinetin as a safe error-prone SARS-CoV-2 antiviral able to attenuate virus-induced inflammation” e pode ser conferido clicando neste link.

Nos resultados preliminares, os pesquisadores brasileiros relatam o desenvolvimento do MB-905, composto ativo (IFA) sintético que inibe a RNA polimerase do vírus da SARS-CoV-2. Na prática, a substância impede que o coronavírus se multiplique no organismo contaminado. 


O trabalho envolveu ampla pesquisa, tendo sido sintetizadas cerca de 250 moléculas, sendo que a grande maioria foi testada in vitro e  in vivo. No total, 12 moléculas apresentaram potencial para inibir o SARS-CoV-2 e foram alvo de estudos de farmacocinética. Entre elas, está o MB-905, cujo dossiê pré-clínico reuniu mais de mil páginas.

De acordo com o professor João B. Calixto, coordenador do projeto na Unidade Embrapii, o sucesso do projeto se deve à parceria técnica entre “três entidades de reconhecido saber”. A empresa Microbiológica contribuiu com a expertise na área de pesquisa, desenvolvimento e produção de antivirais; a Fiocruz ingressou no projeto com sua reconhecida excelência em virologia molecular, por meio do CDTS (Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde); e o CIEnP (Centro de Inovação e Ensaios Pré-clínicos) foi fundamental na realização de ensaios pré-clínicos, tanto em ambiente in vitro quanto in vivo, que seriam a chave na identificação das moléculas mais promissoras.

“As dimensões globais dos desafios no setor de saúde exigem respostas rápidas, ainda mais se tratando da Covid 19. E a Embrapii tem instrumentos de apoio que conectam empresas e pesquisa aplicada em favor da inovação, auxiliando o desenvolvimento novas tecnologias e produtos que impactam a vida do cidadão”, disse Igor Nazareth, presidente da Embrapii.

Além do apoio financeiro da Embrapii, o projeto também conta com recursos do MCTI (Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação), por meio de encomenda tecnológica do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) através da Rede Virus.

O projeto teve investimento de R$ 3 milhões, com R$ 1 milhão da Embrapii, em recursos não-reembolsáveis, e o mesmo valor pela empresa e pela unidade de pesquisa. A iniciativa começou em novembro de 2020 e o contrato de parceria continua vigente.


Publicação e resultados


A importância do projeto foi reconhecida pela revista Nature, que publicou os primeiros resultados das pesquisas no dia 13 deste mês de janeiro. O artigo foi assinado pelo Dr. Jaime A. Rabi, presidente da empresa Microbiológica, pelo Dr. Thiago Moreno, do CDTS (Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde) da Fiocruz, e pelo Prof. João B. Calixto, do CIEnP. A publicação contou com parceria de pesquisadores do Instituto Nacional do Câncer e do ICB da UFMG, que também constam como coautores do artigo.

O artigo relata os mecanismos moleculares envolvidos nas ações do MB-905 no combate à Covid-19 e todo o desenvolvimento dos testes pré-clínicos, in vitro e  in vivo, conduzidos de acordo com as exigências internacionais preconizadas pela FDA (Food and Drug Administration) e pela Anvisa (Agência de Vigilância Sanitária). Os resultados apontam que o MB-905 mostrou-se bastante seguro nos estudos realizados em animais, não apresentando efeitos mutagênicos ou cardiotóxicos. Além disso, nos estudos de farmacocinética, a substância mostrou-se muito bem absorvida pela via oral, um atributo essencial para eventual uso preventivo e curativo.

“A exemplo de outros medicamentos antivirais que atuam inibindo a RNA polimerase disponíveis no mercado, o MB-905 é uma pro-droga, isto é, ele é metabolizado in vivo, transformado na sua forma ativa através da formação do nucleosídeo trifosfato correspondente. Demonstramos também a presença da forma ativa da cinetina trifosfato no pulmão dos animais, onde parece ocorrer a maior formação do metabolito ativo e sua ação inibitória da replicação do vírus da SARS-CoV-2”, destaca o professor Joao Calixto, coordenador do projeto no CIEnP.


Próximos passos


Após a conclusão da primeira fase do projeto, os pesquisadores pretendem agora continuar o desenvolvimento pré-clínico das moléculas mais promissoras em inibir a RNA polimerase do vírus da SARS-CoV-2, a exemplo do MB-905. Também foram iniciados os entendimentos com a Anvisa e com hospitais no Brasil que realizam estudos clínicos para que possam iniciar, em breve, o estudo clínico de fase I. 


Paralelamente aos estudos mecanísticos, a Microbiológica desenvolveu procedimentos validados para a fabricação dos MB-905, de acordo com as boas práticas de produção em escala de quilos, definiu especificações caracterizando as substâncias relacionadas ao processo de síntese e realizou estudos de estabilidade deste novo IFA.

“Como é bem conhecido pela comunidade que trabalha na área de desenvolvimento de medicamentos no Brasil, o País ainda não possui experiência na realização de estudos clínicos de fase I, já que os medicamentos registrados na Anvisa são, na sua grande maioria, desenvolvidos no exterior, principalmente nos Estados Unidos e Europa. Este antecedente demonstra claramente o pioneirismo intelectual deste empreendimento onde criamos propriedade intelectual de processo, e, mais importante, propriedade intelectual de produto”, pontuam os autores do artigo.

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