O termo "bilíngue” já se tornou praticamente obrigatório no Brasil. Utilizam-se dele escolas que, para aproximar-se das demandas da sociedade e do mercado, aumentam a carga horária do ensino de inglês. Por isso, dizem-se "bilíngues”. Isso vai na contramão de uma concepção inclusiva, que trate o ensino bilíngue em outras línguas. Ao contrário, discute-se somente as "línguas de prestígio” – inglês ou francês, por exemplo.
Essa é a avaliação da professora Juliana Reichert Assunção Tonelli, do Departamento de Letras Estrangeiras Modernas, do CCH (Centro de Letras e Ciências Humanas) da UEL (Universidade Estadual de Londrina), e do Curso de Inglês. Ela é coordenadora do Ciclo de Palestras Bilinguismo e Ensino Bilíngue, realizado em parceria com a Ufes (Universidade Federal do Espírito Santo) e por meio do grupo Felice (Formação de Professores e Ensino de Línguas para Crianças). A vice-líder do grupo, também da coordenação, é a professora Claudia Jotto Kawachi Furlan, da Ufes.
Com cinco encontros, o ciclo debate outros elementos importantes para a ideia do "bilinguismo”, além do simples ensino de uma língua estrangeira canônica. "Não é só inglês-português. Por isso, o ciclo traz debates sobre outros sujeitos e outras demandas, como os surdos e os indígenas. O surdo tem autonomia, fala pela língua de sinais. O indígena tem o seu idioma próprio também. Quando se fala em bilinguismo, geralmente não se discute isso”.
Quando se pensa em educação bilíngue, deve-se considerar, segundo a coordenadora do Ciclo, não só as "línguas de prestígio” mundial. No caso das escolas de fronteira, o fato de não serem instituições "da elite”, segundo a professora, não incorpora os estudantes e essas instituições nessa discussão. "O aluno da fronteira estuda em espanhol, guarani, português? Não é somente uma relação de ensino em um ‘idioma de prestígio’. É necessário mudar as relações de poder hierárquicas da língua”, explica.
Programação - O primeiro encontro tratou dos principais conceitos de educação bilíngue e bilinguismo. No segundo, no próximo dia 27 de maio, às 19 horas, com o tema "Ser, existir bilíngue, uma questão identitária: espaço, tempo e poder”, discute-se a identidade do bilíngue. Já o debate do dia 29, às 9h30, estabelece relações entre os processamentos de linguagem e cognição, por meio da palestra "Entendendo as consequências do bilinguismo para o processamento da linguagem e cognição”.
Em 16 de junho, às 19h30, o ciclo prossegue com a palestra "Bilinguismo, Línguas Indígenas, Educação e Políticas Linguísticas”, dos professores Marcelo Silveira e Maria José Guerra de Figueiredo Garcia, da UEL. O fim do ciclo será dia 26, às 9h30, com a palestra "Bilinguismo no ensino e aprendizagem no século 21”
Felice - Grupo associado ao Diretório de Grupo de Pesquisa do CNPq, o Felice é composto por cerca de 25 integrantes, entre professores coordenadores (Juliana e Cláudia) e estudantes de todos os níveis, da pós-graduação (doutorado, mestrado e especialização) e graduação. Compõe o grupo membros da UEL, Ufes, UNB (Universidade Federal de Brasília) e UFRB (Universidade Federal do Recôncavo Bahiano).
O Ciclo de Palestras também faz parte das atividades do Projeto de Extensão "Educação Docente para Contextos de Ensino Bilíngue e Multilíngue”. O ciclo será transmitido no canal do Felice no YouTube.