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Saúde mental de atletas

Perfeição no esporte, o que acontece com atletas que buscam não errar

CV Bonde
11 ago 2021 às 12:24
- Braden Collum/Unsplash

Em meio às Olimpíadas de Tóquio, episódio envolvendo a ginasta Simone Biles acendeu o alerta para a necessidade de falarmos sobre a saúde mental de atletas profissionais

Ainda antes do início das Olimpíadas de Tóquio sabíamos que a edição 2020, adiada por causa da pandemia, seria diferente de todas as anteriores. Desde o ano passado fala-se sobre a possibilidade de queda no rendimento dos principais atletas do mundo e, mais recentemente, às vésperas do início das competições, houve quem contestasse a segurança dos envolvidos pela exposição ao coronavírus.


Em meio ao silêncio dos estádios e arenas com arquibancadas vazias, o que vemos são esportes praticados em alto nível e recordes sendo quebrados para o deleite dos que acompanham pela TV. Por outro lado, um assunto muitas vezes ignorado no meio veio à tona: a saúde mental. Veja esse conteúdo que a equipe da KTO apostas online preparou para comentar sobre o tema.


Atletas não são máquinas
Modalidades como atletismo e natação, que ganham maior visibilidade apenas a cada quatro anos, expõem a pressão constante sobre os que competem profissionalmente. Milésimos de segundo podem levá-los do céu ao inferno e muitos deles chegam às Olimpíadas no auge de suas carreiras, sem qualquer certeza sobre uma nova participação nos jogos.


E foi na atual edição do maior evento esportivo que todos os holofotes apontam para a ginasta Simone Biles, ganhadora de cinco medalhas em 2016, sendo quatro de ouro. No Rio, aos 19 anos, tornou-se lenda. Em Tóquio, não sentindo confiança em si mesma, priorizou o seu lado emocional e abandonou as disputas por equipes e também o individual geral.


A escolha de Biles rapidamente abriu o debate sobre os limites a que são expostos os atletas profissionais. De um lado, no esporte existe a máxima de que mais difícil do que chegar ao topo é manter-se lá e que profissionais treinam para aguentar a pressão. De outro, há quem entenda que qualquer erro na ginástica pode ser fatal e causar lesões graves. Além do físico, o psicológico também precisa estar 100% para competir entre os maiores do mundo.


Dias depois, em sua despedida do Japão, Biles decidiu competir na trave. Ela faturou o bronze e, em entrevista, disse ter ficado orgulhosa da própria coragem em retornar à competição depois de dias conturbados. A medalha e o ato de superação foram tão admiráveis quanto o que ela mostrou ao mundo: atletas também são seres humanos e tão importante quanto vencer é respeitar os próprios limites e saber a hora de parar.


Fábrica de atletas
A China, atual líder do quadro de medalhas das Olimpíadas, é uma das grandes potências do esporte no mundo, mas o caminho que os levou à primeira posição na edição de 2008, em Pequim, com 51 medalhas de ouro – 15 a mais que os Estados Unidos – tem um lado obscuro.


Existe no país um projeto de hegemonia no esporte que pode ser comparado a um fábrica de atletas, em que crianças são recrutadas e duramente preparadas com um único objetivo: o ouro. A qualquer custo, doa a quem doer – aqui, infelizmente, falamos de forma literal. Em uma rápida pesquisa na internet você encontrará imagens chocantes desses treinamentos.


Entre 2011 e 2012, Wu Minxia e He Zi, atletas dos saltos ornamentais, foram acompanhadas por uma equipe de reportagem na preparação para as Olimpíadas de Londres, onde subiram no posto mais alto do pódio. Os relatos são de treinamentos intensivos e apenas meio dia livre por semana para descansar - as tardes de domingo.


O sucesso do projeto chinês é inegável, visto que Wu Minxia, por exemplo, conquistou medalhas de ouro em cinco edições seguidas dos jogos. Por outro lado, vale viver de comer, dormir e treinar pela glória no esporte?


Casos de depressão no futebol
Para quem ainda relaciona o sucesso profissional e financeiro à plenitude mental, não faltam episódios de depressão no futebol, esporte mais popular do mundo e que rende cifras estratosféricas aos atletas de ponta.


O caso mais emblemático talvez seja o do atacante Adriano, formado nas categorias de base do Flamengo e que conquistou o mundo na sua passagem pela Inter de Milão. Ele viu seu mundo desabar com o falecimento do pai em 2004 e, segundo companheiros de equipe, seu semblante nunca mais foi o mesmo. O Imperador encerrou sua carreira aos 34 anos, quando ainda poderia render fisicamente, mas teve a coragem de parar.


Recentemente, Michael, atacante do Flamengo, afirmou que chegou a pensar em suicídio por conta da depressão e gritou por ajuda no hotel em que o elenco estava hospedado. No futebol uruguaio, só no ano de 2021, três jogadores não tiveram a mesma sorte do brasileiro e tiraram suas próprias vidas: Williams Martínez, Emiliano Cabrera e Santiago García, que teve em sua carreira uma passagem pelo Atlético Paranaense.


Por suas façanhas esportivas, atletas são comumente vistos como super-heróis da vida real, mas como qualquer ser humano eles precisam lidar com seus anseios, frustrações, além da pressão por metas enquanto buscam o equilíbrio emocional.

Que o caso de Biles e tantos outros sirvam para que o debate seja aberto em um meio que enxerga a superação apenas em resultados positivos, recordes históricos e medalhas douradas.


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