Comportamento

Roupa da brasileira terá que respeitar biotipos 'retângulo' e 'colher'

06 dez 2021 às 12:07

Entrar em um provador pode ser uma experiência constrangedora para uma parte importante da população feminina no Brasil. Ter que pedir o tamanho GG quando você tem o quadril muito largo, ou o manequim 34 quando tem baixa estatura, costuma ser acompanhado de comentários por parte do vendedor ou olhares curiosos de quem está por perto na loja.


Se depender da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), este problema deve deixar de existir. A entidade acaba de aprovar a NBR 16933, norma que visa padronizar tamanhos e medidas de roupas femininas no país.


"A NBR 16933 institui a centimetragem na etiqueta das roupas", diz Maria Adelina Pereira, gestora do Comitê Brasileiro de Normalização de Têxteis e do Vestuário da ABNT. "Não interessa se para determinada marca um tamanho de calça é 44 e para outra é 50: se a consumidora sabe quanto mede o seu quadril, isso deve ser o suficiente para que ela encontre a peça que precisa", afirma.


A iniciativa era aguardada com ansiedade pelas confecções e modelistas. Conforme mostrou reportagem da Folha, desde 2012, o Brasil está no limbo quando se trata de medidas para definir o tamanho das roupas das mulheres.


O comitê da ABNT escolheu dois dos cinco principais biotipos femininos no Brasil para basear a norma referencial. São eles: "retângulo" e "colher", identificados na pesquisa antropométrica da população brasileira, a Size BR, conduzida entre 2006 e 2015 pelo Senai Cetiqt (Centro de Tecnologia da Indústria Química e Têxtil do Serviço Nacional da Indústria).


No Brasil, 76% das mulheres têm o biotipo retângulo: quando as circunferências do tórax e do quadril são aproximadamente iguais, com uma linha de cintura pouco marcada. O outro biotipo escolhido foi o da "colher": quando o quadril é maior que o tórax e sua lateral é bem marcada e arredondada -é o que mais se assemelha ao popular "violão", embora esse biotipo represente apenas 8% das brasileiras.


A ABNT NBR 16933 determina dimensões em centímetros para cada biotipo, levando em conta desde o perímetro da cabeça, pescoço, passando pelos ombros, busto, cintura, quadril, costas, coxa, joelho, panturrilha até o tornozelo.


Ao longo dos anos, cada rede ou confecção procurou criar referências próprias de tamanhos. Recentemente, por exemplo, a Renner investiu em tecnologia 3D para aperfeiçoar o processo de modelagem, com o desenvolvimento de 14 manequins físicos projetados a partir do escaneamento de corpos reais. O Brasil não conta com medidas oficiais de vestuário feminino desde 2012.


Naquele ano, foi revogada a norma anterior, de 1995, a NBR 13377, que tratava de maneira genérica de medidas referenciais do corpo humano. Em 2009, foi criada a NBR 15800, com medidas infantis, e em 2012 foi lançada a NBR 16060, de medidas referenciais masculinas.


Segundo Maria Adelina, a ideia era, junto com a norma masculina, publicar a feminina, mas não houve consenso entre os integrantes do comitê que discutia a norma. Participam do grupo grandes redes varejistas, confecções que fornecem às grandes redes, instituições de ensino da moda, modelistas, o Senac (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial) e o Senai Cetiqt.


Muitas varejistas vinham se recusando a abrir mão dos seus padrões para adotar uma referência nacional. Daí a demora de quase dez anos na discussão de uma tabela referencial para o vestuário feminino.


"Mas, com a pandemia, as grandes redes tiveram que adaptar a sua operação para a venda online de vestuário e, com isso, passaram a exibir detalhamentos das medidas, que ajudou no processo para conclusão da norma", diz Maria Adelina.


Os demais biotipos identificados na pesquisa do Senai Cetiqt são o triângulo (quadril é bem maior que o tórax, sem uma cintura marcada), o triângulo invertido (quando a circunferência do tórax é maior que a do quadril e a mulher não tem uma cintura marcada) e a ampulheta (a mulher aparenta ser proporcional no tórax e no quadril e tem uma cintura bem marcada). Estes biotipos representam, respectivamente, 8%, 5% e 3% da população feminina no Brasil.


VAREJISTAS QUEREM OFERECER ESPELHO MEDIDOR


"Agora, os magazines se preparam para iniciativas que ajudem as consumidoras a conhecer melhor suas medidas, como espelho medidor ou a medição por foto, para facilitar a compra e impedir que a prova da roupa se torne um momento de provação", afirma Maria Adelina.


Maria Adelina acredita que as próximas coleções já devem chegar às lojas com as indicações de centimetragem. Ao conhecer as próprias medidas -ou as medidas de quem se quer presentear- a compra de vestuário se torna muito mais assertiva, diz ela.


"Ao mesmo tempo, a indústria da moda pode ajudar indiretamente a consumidora a cuidar da sua saúde", diz. "Se a cintura media 80 centímetros em determinado mês e pulou para 90 no mês seguinte, isso pode sinalizar um problema hormonal ou de compulsão alimentar", afirma a especialista. Da mesma maneira, diz, uma diminuição brusca de medidas em curto espaço de tempo pode indicar um problema de saúde.

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