A distribuição da vacina contra Covid-19 deve impedir somente 9.000 mortes nos EUA até abril, enquanto o uso de máscara por 95% da população poderia poupar 66 mil vidas no país no mesmo prazo.
Os números fazem parte da mais recente projeção do IHME, instituto de métrica da Universidade de Washington, que tem embasado parte das políticas de saúde da Casa Branca.
Divulgados na quinta-feira (3), os levantamentos contam pela primeira vez com a previsão da distribuição de imunizantes nos EUA e no mundo -na semana passada, países europeus anunciaram início da vacinação até janeiro de 2021, mesma expectativa dos americanos.
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O cronograma nos EUA pressupõe que a FDA, agência reguladora de medicamentos no país, autorize a vacina produzida pela Pfizer já nos próximos dias e, até o fim de janeiro, espera-se que grande parcela dos idosos e profissionais de saúde americanos tenha sido imunizada.
Os EUA são líderes globais em casos e mortes por Covid-19, com mais de 280 mil atingidos. De acordo com as perspectivas do IHME, esse número pode dobrar até 1º de abril, batendo 539 mil óbitos pela doença.
Enquanto os países ainda esperam o início da vacinação, que deve ocorrer em etapas e com prioridade aos grupos de risco, a maneira mais eficaz de prevenir a contaminação e controlar taxas de mortalidade neste momento, alertam os pesquisadores do instituto, é o uso da máscara facial.
"A vacinação provavelmente acelerará a transição de volta ao normal no final do ano, mas impedirá apenas 9.000 mortes até 1º de abril [nos EUA]", afirmou o IHME em comunicado divulgado na sexta-feira (4).
"Outras 14.000 vidas podem ser salvas com mais rápida expansão da vacina, visando indivíduos do grupo de risco. Evitar um número ainda maior de mortes depende criticamente de governadores implementando medidas restritivas conforme o estresse hospitalar fica mais alto. Aumentar o uso da máscara para 95% [da população] pode salvar 66.000 vidas até 1º de abril."
Na semana passada, o CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA, na sigla em inglês) orientou pela primeira vez o "uso universal de máscaras" quando a pessoa não estiver em casa, seja em ambientes abertos ou fechados. Já o presidente eleito, Joe Biden, afirmou que vai pedir em seu discurso de posse, em 20 de janeiro, que os americanos usem máscaras pelos próximos cem dias.
Apesar das recomendações em termos nacionais, medidas restritivas variam de estado para estado nos EUA e são de responsabilidade dos governadores.
O cenário divulgado pelo IHME sobre os EUA é considerado o mais provável de acontecer pelos especialistas e leva em consideração que ao menos 43 dos 50 estados americanos adotem novamente medidas de isolamento e distanciamento social até abril.
As projeções usam uma janela de intervalo bastante ampla, que pode ser atualizada a partir da evolução de transmissões, hospitalizações e outras variáveis.
As projeções globais mais recentes do IHME também são alarmantes: o mundo poderá chegar a 3 milhões de mortes causadas por Covid-19 até abril, apesar da vacinação. No Brasil, a previsão é de 217 mil mortes acumuladas daqui a quatro meses.
Até agora, mais de 1,5 milhão de pessoas já morreram por causa da doença em todo o mundo, segundo a Universidade Johns Hopkins. EUA e Brasil são os líderes em óbitos acumulados até agora, com 283 mil e 177 mil, respectivamente.
Caso as projeções do IHME se confirmem, o número de mortes nos EUA e no mundo praticamente dobraria em quatro meses. O pico de mortes diárias nos EUA pode acontecer em meados de janeiro, quando 3.000 pessoas podem morrer em 24 horas no país, segundo o instituto.
O IHME admite que sua projeção de mortes diárias é mais alta que a de outros modelos, mas pondera que todos sugerem aumentos contínuos, num momento em que vários países enfrentam novos picos da doença.
Os EUA, por exemplo, vivem o pior momento desde o início da pandemia, com novos surtos espalhados por todo o país. Na semana passada, mais de 2.800 pessoas morreram de Covid-19 em um único dia, segundo autoridades estaduais, o que significou uma morte a cada 30 segundos.
O número de hospitalizações ultrapassou 100 mil, o dobro registrado no pico de contaminações, ainda no primeiro semestre.
Alguns estados americanos já começam a anunciar novas ações restritivas. A Califórnia, por exemplo, impôs toque de recolher por região a cada vez que as UTIs dos hospitais chegarem a 85% de ocupação. Isso implicaria o fechamento de bares, restaurantes e outros serviços que voltaram a abrir desde o meio do ano, mesmo com restrições.
De acordo com IHME, 46 dos 50 estados americanos terão "alto ou extremo estresse" em leitos hospitalares em algum momento de dezembro -início do inverno no hemisfério Norte, e quando pessoas se concentram, principalmente, em ambientes fechados.
Em novembro, hospitais em estados como Flórida e Wisconsin já haviam informado sobrecarga, sem profissionais para atender à demanda crescente de pacientes de Covid-19.
A volta do feriado de Ação de Graças, no fim do mês passado, deve acentuar ainda mais o número de casos nos EUA, em razão das reuniões familiares comuns nessa época do ano. A preocupação dos especialistas se volta agora para as festividades de Natal e Ano-Novo.