Nas últimas semanas, as redes sociais foram inundadas com comparações entre a geração Z, dos nascidos entre 1997 e 2012, e a geração Y, daqueles que nasceram entre 1981 e 1996, também chamados de millennials.
Para os mais novos, conhecidos como zoomers, alguns comportamentos dos millenials são "cringe" -expressão em inglês que pode ser traduzida como mico ou vergonha alheia. Mas, no mundo do trabalho, as duas gerações têm mais similaridades do que diferenças.
Ambas começaram a vida profissional durante períodos de crise econômica. Enquanto a geração Y entrou no mercado de trabalho logo após a crise financeira de 2008, a geração Z enfrenta a pandemia no seu início de carreira.
A busca por propósito de vida e pertencimento, característica dos millennials, ficou ainda mais intensa com os zoomers, de acordo com Leonardo Berto, especialista em recrutamento da consultoria Robert Half.
Para ele, os jovens da geração Z devem ter múltiplas carreiras ao longo da vida e menos apego à formação na hora de procurar trabalho. Já a geração Y tem um maior engajamento na busca por saúde mental.
Segundo Mariana Tantiloni, especialista em tendências da WGSN, isso acontece porque os millennials são a geração da síndrome burnout, caracterizada pela exaustão extrema e pelo estresse crônico.
Mais da metade desses profissionais afirma que deve se aposentar mais tarde que os seus pais -12% dizem que devem trabalhar até morrer-, mostra levantamento do ManpowerGroup de 2020.
Sete em cada dez millennials têm uma carga horária superior a 40 horas semanais -tanto em países desenvolvidos quanto em subdesenvolvidos. "É uma geração que trabalha muito mais que os pais, mas ganha muito menos", afirma Tantiloni.
Para a especialista, outra diferença está na maneira como as duas gerações fazem uso das redes sociais. "A geração Z se transforma em produto, enquanto os millennials usam as redes para alavancar a vida profissional."
Um dos grupos mais afetados pela crise decorrente da pandemia, os zoomers começaram a buscar formas alternativas de trabalhar e monetizar com as redes sociais, diz Tantiloni. "Tirar lucro de YouTube e TikTok vai ser muito mais forte na geração Z do que na Y."
Um traço que diferencia os zoomers, segundo o Pew Research Center, centro de pesquisas de tendências em Washington, é que eles têm maior probabilidade de conhecer pessoas que se identificam com pronomes neutros -reivindicação de parte do movimento LGBTQIA+.
"Cerca de um terço da geração Z afirma conhecer pessoas que atendem por pronomes neutros, enquanto entre os millennials esse número fica em cerca de um quarto", afirma a pesquisadora Ruth Igielnik, do Pew Research
Center. Para os baby boomers (nascidos entre 1945 e 1964), a taxa é ainda mais baixa, em torno de 12%.
"A geração Z é um público engajado com a diversidade, que puxa essa pauta nas empresas", diz Berto. Para ele, a preocupação com sustentabilidade e diversidade nos quadros das empresas são marcas que diferenciam a geração Z das anteriores.
Segundo levantamentos do Pew Research Center, não há diferença significativa na opinião de millennials e da geração Z em temas como mudança climática -mais da metade de ambos os grupos acredita que o fenômeno seja causado pela ação humana, postura que os distancia dos baby boomers.
Ainda segundo o centro de estudos americano, o engajamento contra o racismo é mais aceito entre os mais jovens do que entre os mais velhos. A maioria dos mais novos também acredita que a maior presença de mulheres no congresso é positiva e que a tarefas domésticas devem ser igualmente divididas.
Antes do conflito com a geração Z, os millennials ironizavam posturas consideradas conservadoras e desrespeitosas da geração dos pais, os baby boomers, com o meme "ok, boomer". A expressão chegou até ao parlamento neozelandês, quando um membro mais velho interrompeu a fala de uma parlamentar jovem sobre mudanças climáticas.
Considerados mimados e frágeis pelos mais velhos, millennials foram impactados pela crise econômica de 2008, depois de crescerem em situação de relativa estabilidade financeira.
No Brasil, eles cresceram com a estabilidade gerada pelo Plano Real. A geração anterior (X), que vivenciou o descontrole da inflação, é mais cautelosa na hora de contrair dívidas. E a geração Z, geralmente os filhos da geração X, herdam essa preocupação dos pais -diferentemente dos millennials, que tendem a morar de aluguel, os zoomers querem a casa própria.
Para Tantiloni, os problemas dos millennials com finanças são mais estruturais do que relacionados a escolhas individuais.
"Não é tanto porque os millennials queiram viver de aluguel, mas porque essa geração passou por duas grandes crises, em 2008 e agora", diz Tantiloni.