O teólogo Rodrigo Moraes explica que é muito mais comum do que parece confundir o conceito de fé.
A palavra crença tem como uma de suas definições o conceito de “convicção profunda”. Mas com o passar dos anos, essa palavra ganhou outros significados e acabou se misturando com o conceito de fé e espiritualidade. A partir disso, de uma maneira simplista, passamos a resumir a fé como uma forma de coragem ou quando se acredita em algo que não é palpável; enquanto que a religião passou a ser apenas um estilo de vida, uma disposição para perseguir algo.
Segundo o teólogo, apesar de poderem ser complementares, é muito importante entendermos as suas diferenças. “O primeiro questionamento que eu faço quando sou perguntado sobre esse assunto é 'se eu te der duas opções (conhecer e acreditar) e te perguntar qual delas mais representa fé para você, o que você responderia?'. Quase que a totalidade das pessoas me respondem aquilo que parece ser mais lógico, ou seja, acreditar. E talvez aqui encontramos a principal confusão do nosso entendimento. Acreditar está relacionado intimamente com as minhas crenças, o que não tem nada a ver com fé.
Ele continua: "o que eu acredito fala muito mais sobre mim do que propriamente sobre Deus, está interligado com aquilo que eu espero receber, com as minhas mais profundas expectativas e ansiedades. Por isso, a verdadeira fé não está em acreditar em algo, alguém ou alguma coisa, mas ela ser fundamentada em conhecer a Deus. Com isso eu percebo que a grande crise da nossa espiritualidade acontece exatamente porque nós estamos tentando acreditar em quem nós ainda não conhecemos.
Baseado nesse pensamento, eu posso me arriscar em fazer uma definição teológica sobre a fé, afirmando que fé não é aquilo que eu acredito, fé é com quem eu me pareço".
Segundo Rodrigo Moraes, ter fé em Deus não está relacionado ao quanto você acredita no que ele pode fazer por você, mas sim ao quanto você o conhece e, portanto, revela para o mundo todo o seu amor, bondade e misericórdia.
“Já a religião, que vem do latim “religare” supõe como fundamento a ideia de nos reconectar a Deus, tendo em vista a desconexão causada pelo homem através do pecado. Por isso, a religião é uma construção de rituais, dogmas e liturgias que visam nos conduzir pelo caminho do sagrado”, explica.
Para o teólogo e também pastor, é imprescindível conhecer os pilares e as diferenças entre fé, crença e religião para, então, poder desfrutar plenamente de tudo.
“A religião não é algo ruim, desde seja compreendida a partir da graça de Deus, porque compreender a religião a partir da lógica do mérito e da honra pode trazer consequências terríveis, como já vimos antes, desde o princípio da nossa história”, finaliza.