80% dos brasileiros querem reduzir gastos em 2024, contra 53% dos americanos e 54% dos europeus. O resultado é da pesquisa Consumer Pulse da consultoria global Bain & Company, que em novembro do ano passado ouviu cerca de 2.000 consumidores no Brasil e demais países da América Latina sobre seus hábitos de consumo, prioridades e perspectivas.
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Alguns dados, como a expectativa de gastos, foram comparados com outro levantamento feito em setembro do ano passado pela Bain junto a consumidores dos Estados Unidos e da Europa.
Embora o nível de 80% seja alto, o índice brasileiro é menor que o da pesquisa anterior, do final de 2022, quando 86% dos consumidores apontaram que já estavam cortando ou iriam cortar gastos.
A margem de erro geral da pesquisa é de 2,2 pontos para menos ou para mais, o que considera um tamanho de amostra de 1.998 respondentes para o Brasil com representatividade estatística em todos os segmentos analisados. O intervalo de confiança requerido é de 95%.
PRIORIDADE É GASTAR MENOS COM ENERGIA E SUPERMERCADO
Economizar no consumo de energia elétrica foi a principal resposta dos brasileiros à pergunta "Em quais aspectos da sua vida você está ativamente reduzindo ou planejando reduzir seus gastos?": esta é a disposição de 27% dos entrevistados, conforme a pesquisa mais recente. Na sequência, vêm "mantimentos" (26%), "roupas para mim" (24%), "delivery de comida" (23%) e "restaurantes" (22%).
Em uma escala de 1 a 5, onde 1 é "Nem um pouco preocupado" e 5 é "Extremamente preocupado", o brasileiro aponta o custo de vida como a sua maior fonte de preocupação (4,07), assunto que também ocupou a dianteira na pesquisa anterior.
De maneira surpreendente, a preocupação com "Mudanças climáticas", que havia ficado em 6º lugar no levantamento de 2022, passou à 2ª posição no final do ano passado (4,04), à frente de questões como "Bem-estar financeiro meu e de minha família" (3,94), "Estabilidade no Brasil" (3,82), "Política no Brasil" (3,82) e "Instabilidade no exterior" (3,82).
"O tema 'Mudanças climáticas' surge como ponto de preocupação relevante para o brasileiro, algo que não havia sido observado com tanta intensidade em edições anteriores da pesquisa", disse à Folha de S.Paulo Ricardo De Carli, sócio da Bain e líder da prática de bens de consumo na América do Sul.
Pesam para esta preocupação os eventos mais recentes no país envolvendo fortes chuvas, enchentes, desmoronamentos, ondas de calor intenso e secas -algo antes pontual, mas que começa a ser visto de maneira cada vez mais frequente.
"A pesquisa apontou que 81% dos brasileiros estão preocupados com a sustentabilidade ambiental, um nível alto em comparação à média global, de 64%", diz Daniela Carbinato, sócia da Bain e líder de ESG para bens de consumo na América do Sul. De acordo com o levantamento, 53% dos entrevistados consideram a sustentabilidade na hora da compra -mas apenas 11% compram de forma sustentável.
"O preço de alternativas sustentáveis existentes no mercado fica acima do orçamento, o que inibe uma mudança de fato na cesta de compras do brasileiro", diz Daniela, destacando que os consumidores mais engajados pagam, no máximo, até 19% mais por produtos de menor impacto ambiental, socialmente responsáveis e mais saudáveis.
BEM-ESTAR É MAIS IMPACTADO POR FINANÇAS DO QUE POR SAÚDE FÍSICA
Outra questão se destaca no levantamento feito pela Bain & Company: 7 a cada 10 brasileiros se preocupam com a própria saúde e a dos seus familiares, seja física ou mental. No que tange às inquietações com a própria saúde mental -resposta de 72% dos entrevistados- mais uma vez o dinheiro aparece como fonte de aflição: 57% disseram que as preocupações financeiras atrapalham hoje o seu bem-estar, enquanto 48% se preocupam mais com a saúde física.
"As três grandes preocupações do brasileiro são sua condição financeira, seu bem-estar físico e sua saúde mental", diz De Carli. "Neste ano, o tema das mudanças climáticas passou a integrar a lista das maiores inquietações nacionais."
Apesar disso, diz o executivo, existem algumas despesas que o brasileiro não abre mão, independentemente da faixa de renda: cerca de 29% dos que cortam gastos ainda preservam uma parte da renda para ir casualmente a restaurantes e bares, 21% guardam para entretenimento (em especial assinatura de streaming) e 19% gastam em produtos de cuidados pessoais, como cosméticos.