A garota-propaganda vai combinando as cores do cartão de crédito com a roupa, enquanto faz uma dancinha no TikTok; a conta oficial do banco no Instagram quase parece o ensaio de uma revista de moda; o perfil no Twitter de outra instituição dá dicas financeiras com memes de desenhos e programas de TV.
Os bancos digitais estão ganhando terreno com o público mais jovem –e querem conquistar cada vez mais esse consumidor. A maioria dos brasileiros entre 16 e 24 anos (51%) já usa mais as novas instituições do que as tradicionais para as operações do dia a dia, como depósitos, saques e pagamentos, de acordo com uma pesquisa exclusiva do Ipec feita em abril.
Para Maxnaun Gutierrez, executivo de Produtos e Pessoa Física do C6 Bank, é preciso se aproximar do público jovem onde ele já está presente. "Estamos nas redes sociais mais populares entre eles (como Instagram e TikTok) e fazemos ações específicas, como patrocinando Koel, principal liga independente de futebol virtual do Brasil."
"Queríamos atrair o jovem e sabíamos que ele chegaria primeiro, mas desenvolvemos um aplicativo que também fosse fácil e acessível para todos os públicos", diz Gutierrez. Ele ressalta que a abertura de contas, por exemplo, é inspirada nas redes sociais, principalmente nos aplicativos de mensagem instantânea.
O executivo do C6 Bank também reforça que, mesmo o consumidor mais jovem sendo a primeira fronteira de avanço dos novos bancos, a digitalização financeira se alastrou por outras faixas de idade –e que a pandemia do novo coronavírus acelerou essa tendência.
Entre os públicos de todas as idades, 57% dos entrevistados possuem contas em bancos digitais. Dentro desse grupo, 47% são correntistas em bancos tradicionais e digitais ao mesmo tempo e 10% abandonaram os bancos convencionais.
A pesquisa aponta esse novo comportamento do consumidor de forma mais clara: pelos dados, 36% dos entrevistados disseram que abriram conta em um banco digital desde o início da pandemia. Além disso, 78% deles passaram a usar mais suas contas digitais nesse período.
Segundo Cristina Junqueira, uma das fundadoras do Nubank, a linguagem mais simples e direta usada para falar de assuntos complexos, como investimentos e finanças pessoais, ajuda a aproximar o banco do público mais jovem. "Há uma identificação natural entre o consumidor mais jovem, que já cresceu no ambiente digital, podendo resolver diferentes aspectos da vida na palma da mão, e a nossa marca."
Ela também lembra que a chegada de clientes mais velhos, muitas vezes, passa pela indicação desses consumidores mais jovens. "São filhos que indicam pais, avós ou ensinam a um colega mais velho as facilidades de utilizar serviços financeiros digitais.
Segundo o banco Inter, atualmente, mais de 60% dos clientes têm entre 18 e 34 anos e a comunicação com esses clientes se dá por meio de campanhas e nas redes sociais. "Muitos clientes chegam à plataforma para experimentar o serviço de forma gratuita e passam a usar os nossos serviços e produtos. É uma tendência irreversível", diz a instituição.
Outro incentivo para os novos bancos ganharem força junto ao público, segundo as instituições, se deu pelo pagamento do auxílio emergencial durante a pandemia, já que o benefício poderia ser transferido para as contas digitais antes do calendário previsto.
Segundo reportagem recente do jornal Folha de S.Paulo, enquanto empresas de outros setores fecharam as portas em meio à crise gerada pela pandemia, ao menos 40 instituições financeiras iniciaram suas atividades no ano passado, segundo o Banco Central. O distanciamento ajudou a criar um ambiente propício para que surgissem mais fintechs e bancos digitais, especializados em tecnologia e serviços por aplicativos.
Outro levantamento, da Cantarino Brasileiro a pedido da Akamai Technologies, aponta que o número de clientes de instituições financeiras que afirmam ter conta em um banco digital mais do que dobrou em um ano.
A pesquisa do Ipec ouviu 2.000 pessoas, entre os dias 22 e 28 de abril, das classes A, B, C. A margem de erro é de dois pontos percentuais.