Embalagens mais simples, brindes menores ou digitais e maior volume de vendas bem mais preparadas para a internet.
Depois de de 2020, quando foram pegos de surpresa pela pandemia, os fabricantes de chocolates se reestruturam para uma Páscoa mais rentável neste ano. Remodelado para o novo normal, o setor chocolateiro agora promete produtos para todas as faixas de preço e projeta um faturamento até superior ao conseguido na data no ano passado.
Parte da preparação, segundo executivos do setor, veio na antecipação das compras com fornecedores. Foi uma estratégia para tentar mitigar o aumento de custos que têm vindo de diferentes segmentos, em especial com alta de preços das commodities. O setor também aproveitou o cancelamento do Carnaval para rever a distribuição em diferentes pontos de venda.
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"Nos planejamos e fizemos todo um trabalho de investimento nos canais de distribuição, aplicativos, online, marketplaces, drive-thru e WhatsApp, por exemplo", afirma o presidente da Abicab (Associação Brasileira das Indústrias de Chocolates, Amendoim e Balas), Ubiracy Fonsêca.
"Além disso, como não tivemos Carnaval, conversamos com os supermercados para que aceitassem receber os ovos antes da data tradicional."
Nesse sentido, apesar de os supermercados ainda representarem praticamente 80% das vendas do setor, o uso dos canais digitais passou a ter um tratamento diferente.
Segundo uma pesquisa da The Insiders, 68% dos consumidores afirmaram que pretendem comprar ovos de Páscoa. Deste total, 72% disseram que vão fazer aquisições online. A pesquisa foi feita com 5.400 pessoas.
"Esse movimento é um reflexo da mudança de comportamento do consumidor, que cada vez busca mais por compras online", afirma o diretor da The Insiders na América Latina, Joel Amorim.
"As pesquisas também apontam que a Páscoa vai retratar o efeito de queda de renda: cerca de 69%, por exemplo, declararam que vão priorizar a questão do custo-benefício na hora da compra", disse.
Ainda conforme o levantamento, o ano tende a ser melhor para quem atua no mercado de trabalho informal com a produção artesanal. Do total de pessoas que pretendem comprar ovos de páscoa, mais da metade (56%) disseram que vão optar pelos chocolates caseiros.
A busca por produtos alternativos também acompanha o aumento do desemprego com o agravamento da crise do coronavírus -situação que tende a aumentar o número de trabalhadores informais e de microempreendedores individuais. Em 2020, a taxa de informalidade ficou em 39%.
As empresas dizem que investiram em criatividade na busca de equilíbrio entre o aumento no custo dos insumos e a queda na capacidade de compra da população.
De acordo com a gerente de expansão da Chocolateria Brasileira, Cintia Pitta, a rede de franquias optou por desenvolver produtos mais baratos, com embalagens mais simples, além de cortar pela metade o número de produtos em estoque.
"O poder de compra diminuiu bastante e as pessoas estão optando por coisas mais econômicas. Por esse motivo, colocamos preços 20% mais baixos e optamos por uma linha menor, também, para ganhar escala", disse.
Já para a Nestlé, que vende aproximadamente 10 milhões de unidades de itens voltados para a Páscoa no Brasil, a decisão foi diferente.
Além de priorizar produtos menores no portfólio para ampliar a possibilidade de acesso de consumidores de diferentes faixas de renda, a companhia também optou por trocar de vez uma de suas características mais marcantes: o brinde dos ovos infantis.
A empresa chegou até a dar luminárias de mesas de cabeceira, canecas e porta objetos em anos passados, além dos tradicionais bonecos e brinquedos temáticos. Desde 2019, porém, tem apostado com mais afinco em brindes digitais.
"Logisticamente, em termos de custos e por serem muitos brindes de plástico -situação que nós, como indústria, queremos melhorar- não teremos os brindes tradicionais neste ano. Apostamos nos brindes digitais e colocamos mais chocolates dentro dos ovos", afirma o diretor de marketing de chocolates da Nestlé, Leandro Cervi.
A empresa fez três jogos online diferentes que podem ser jogados via QRCode.
Ainda segundo os executivos do setor, a expectativa é que o foco de vendas nos canais digitais e uma linha de produtos mais econômicos tende a se estender para as próximas datas comemorativas importantes para o segmento, como Dia das Mães e Dia dos Namorados.
As empresas também investiram em alternativas de logística para o produto chegar ao destino final, uma vez que a pandemia alterou a estrutura de acesso ao consumidor.
Segundo o diretor de expansão e canais da Cacau Show, Daniel Roque, além de oferecer treinamentos para o atendimento multiplataforma de consumidores, a empresa incentivou a divulgação em veículos locais e transformou seus diversos franqueados em hubs de atendimento a microrregiões.
"Os franqueados acabaram ganhando muitos seguidores no Instagram de suas operações e tudo isso foi criando um relacionamento digital cada vez maior. E isso tende a continuar depois da pandemia. Os canais digitais já tinham crescido cerca de 20% em 2020 e, neste ano, já totalizam 35% do total da venda", diz Roque.
A percepção é que boa parte das mudanças adotadas nesta Páscoa serão permanentes.
"Agora, já não pensamos mais no ecommerce apenas como 'ebusiness' e contato com o consumidor, mas também de fazer com que tudo seja mais integrado em diferentes plataformas", diz Cervi, da Nestlé. "Temos um planejamento mensal para a área e é algo que já faz parte do dia a dia -não tem mais volta."