Na semana passada, uma nova rede social literalmente deu o que falar: o Clubhouse.
Trata-se de uma rede social de voz. Não dá para mandar texto para ninguém, nem trocar fotos, vídeos ou links. A única forma de interagir é entrar em "salas" onde as pessoas falam umas com as outras.
Essa fórmula poderia resultar em desastre, especialmente com os ânimos exaltados da internet hoje, mas não foi o que aconteceu.
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O Clubhouse acabou se tornando uma plataforma para diálogos construtivos, epifânicos mesmo, que lembram os primórdios da internet. Uma impressão de que é uma mistura de rádio AM com o antigo "disque-amizade".
Ouvir as pessoas falando sem precisar necessariamente participar da conversa dá uma estranha calma.
Faz sentido. O rádio enquanto mídia é acolhedor e até mágico. Não por acaso Marshall McLuhan chamava o rádio de mídia quente, emocional. Enquanto a televisão era uma mídia fria.
Para McLuhan, o ouvido era mais importante que o olho. Esse "calor" havia se perdido na internet. O Clubhouse conseguiu recriá-lo, ao menos na sua primeira semana de uso intenso no Brasil.
Outra razão para isso é o papel limitado que os algoritmos desempenham na plataforma. As pessoas tendem a escolher elas mesmas as conversas, por afinidade, conexões pessoais ou interesse, em vez de terem essas conversas escolhidas para elas por meio de algoritmos.
Outro elemento é que há uma impressão de diminuição da distância entre fãs e celebridades. Nos últimos dias circularam pelo Clubhouse pessoas tão diversas como Kai-Fu Lee, Mark Zuckerberg, Takashi Murakami e Anitta. Como as salas têm no máximo 5.000 pessoas, a sensação de proximidade se materializa, conjugada com sensação emocional provocada pela voz e pelos ruídos de fundo da vida cotidiana (bebês chorando, movimento da casa, sirenes etc.).
Resta saber quais serão os próximos passos do Clubhouse. Hoje ele é acessível apenas por plataformas da Apple. Quem tem Android não consegue entrar. Como a Apple tem apenas 11% do mercado global de celulares, os usuários da plataforma são hoje parte de uma bolha. Vai ser curioso ver o que acontecerá quando integrantes dos demais 89% ingressarem.
Outra questão é que o Clubhouse é financiado pelo mecanismo tradicional de capital de risco, incluindo US$ 12 milhões do investidor Andreesen Horowitz. Em outras palavras, vai ter de fazer dinheiro, e muito. Precisará monitorar cada palavra dita na plataforma em tempo real e vendê-las para anunciantes?
A concorrência também já bate à porta. Houve rumores de que o Facebook estaria criando um produto similar, e o Twitter já lançou o seu, chamado Spaces. Além disso, há sinais de que a tecnologia por trás do Clubhouse seja da empresa chinesa Agora, que teve valorização de 150% das suas ações. Isso mostra como várias inovações no mundo de hoje não são só do Vale do Silício, mas do Oriente.
O Clubhouse, na sua primeira semana, mostrou-se um oásis em meio ao estresse que domina a internet. Vale acompanhar o quanto esse passe de mágica irá durar.