Uma esponja de aço chamada Krespinha levou a fabricante de produtos de limpeza Bombril à lista de assuntos mais comentados nas redes sociais nesta quarta-feira (17). Consumidores acusaram a empresa de racismo, devido à associação do produto com o cabelo crespo das mulheres negras e convocaram um boicote à fabricante. Após a onda de críticas, a Bombril informou que vai retirar a esponja de seu portfólio e rever toda sua estratégia de comunicação.
Especialistas em diversidade avaliam que o episódio reflete a ausência de pessoas negras na cadeia de decisão das empresas. Eles defendem que a diversidade pode evitar situações como essa.
A hashtag #BombrilRacista chegou a ser o assunto mais comentado no Twitter nesta manhã. A página da Bombril no Facebook também foi tomada de comentários críticos à empresa.
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Nas redes sociais, mulheres negras relataram lembranças dolorosas de terem seus cabelos associados à esponja de aço. "Já perdi a conta de quantas vezes ouvi comentários depreciativos sobre o meu cabelo. Já chamaram de 'bombril', de 'cabelo ruim', e agora, o racismo bate na porta de novo. Cabelo crespo é lindo e nós merecemos respeito. Isso aqui é racismo!", disse uma usuária do Twitter.
"Inadmissível que o marketing empresarial ainda se utilize do racismo para lançar novos produtos. Ao denominar sua palha de aço como Krespinha, a @BombrilOficial faz associação com mulheres negras e ainda nos coloca como as responsáveis pelo trabalho doméstico", afirmou a deputada federal Talíria Petrone (PSOL-RJ) em sua conta na rede social.
Ao contrário do rumor nas mídias sociais, no entanto, o produto da Bombril não está sendo relançado neste ano. Segundo a empresa, ele é parte do seu portfólio há quase 70 anos. A esponja foi redescoberta pelos consumidores num momento em que o tema do racismo voltou à ordem do dia, com os protestos pelo assassinato de George Floyd nos Estados Unidos, e a morte no Brasil dos meninos negros João Pedro e Miguel.
Para Daniel Teixeira, advogado e diretor do Ceert (Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades), o fato de empresas como a Bombril terem produtos ou realizarem campanhas publicitárias insensíveis à questão racial está diretamente ligado ao baixo número de profissionais negros em posição de liderança dentro das corporações.
"Muitas vezes a avaliação de produtos e campanhas fica no lugar comum da branquitude, porque não há negros ou negras participando do processo de tomada de decisão dentro da empresa para evitar uma representação estereotipada", afirma. "A diversidade pode evitar problemas como esse."
Ele destaca também que a questão do racismo contra o cabelo crespo de homens e mulheres negras é um tema particularmente sensível, pois resulta em situações de preconceito e violência enfrentadas desde a infância e afeta a empregabilidade da população negra.
"Particularmente para as mulheres negras, isso tem impactos no mercado de trabalho, definindo até mesmo o acesso a vagas. Ainda é comum no mundo do trabalho o discurso de que a mulher negra precisa alisar seu cabelo", diz Teixeira. "O cabelo crespo é considerado inadequado ou que não serve como padrão de beleza. Isso não é uma discussão apenas estética, ela também define oportunidades na sociedade."
Para Teixeira, embora a marca não seja nova, a discussão emergiu porque as pessoas estão discutindo mais o racismo hoje em dia. "É algo que deixou de ser tabu no Brasil e isso é muito bom. Leva a um amadurecimento da sociedade e das empresas", afirma. "A população negra não aceita ser consumidora de produtos atrelados a representações racistas, e mais, está cobrando uma postura dessas empresas que se beneficiam de um público consumidor negro, mas não dialogam com ele de forma respeitosa."
Ao fim da tarde, a Bombril informou em suas redes sociais a retirada do produto de seu portfólio. "A Bombril decidiu que vai retirar, a partir de hoje, a marca Krespinha do seu portfólio de produtos", informou a empresa. "Mesmo sem intenção em ferir ou atingir qualquer pessoa, pedimos sinceras desculpas a toda a sociedade. Vamos imediatamente rever toda a comunicação da companhia, além de identificar ações que possam gerar ainda mais compromisso com a diversidade."