A primeira menstruação pode ser um tabu - um sinal disso é que nas propagandas de absorvente ela aparece na cor azul e não vermelha, como é de verdade. E, se ninguém topa falar abertamente sobre esse assunto, onde é que se espera que as pessoas que menstruam busquem conhecimento para lidar com os sangramentos quando eles começarem a aparecer?
A primeira coisa que se precisa saber é que cada pessoa vai viver esse período do seu jeito. Quem diz isso é a ginecologista Juliana Sperandio, que fala sobre a importância do autoconhecimento e de, o quanto antes, saber o que é a menstruação e o que acontece quando ela chega.
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Ela fala que muita gente tem a ideia de que menstruar é ruim e sujo. Outro pensamento comum é que as pessoas, quando menstruam, ficam sem energia.
"As pessoas são cíclicas. Temos fases de mais disposição, mais energia e tem fase de recolhimento, que é o ciclo menstrual. Se apropriar dessas flutuações ao longo do mês é importante. E compartilhar experiências também ajuda a entender que o que você esta vivendo pode não ser normal", diz a médica.
O QUE É MENSTRUAÇÃO?
A menstruação é a descamação das paredes do útero que acontece quando o óvulo não é fecundado por um espermatozoide. Ou seja, o corpo se prepara todo mês para gestar um bebê e, quando percebe que não vai receber um embrião, se livra dessa camada, que sai pela vulva. Isso acontece todo mês.
QUANDO É NORMAL MENSTRUAR?
Segundo a ginecologista Juliana Sperandio, a primeira menstruação acontece normalmente dos nove aos 14 anos e ela se chama menarca. Se ela vem antes dos nove anos, é considerada precoce e pode ser bom procurar um médico, seja ginecologista ou pediatra mesmo.
COMO SABER QUE A PRIMEIRA MENSTRUAÇÃO ESTÁ VINDO?
O principal sintoma é aquele que já se conhece: o sangramento. Não precisa ser uma avalanche, pode ser só uma mancha amarronzada. Mas a médica diz que outros sintomas podem aparecer antes, como por exemplo o aumento das mamas e o aumento dos pelos na região pubiana e nas axilas.
QUANTO TEMPO DURA?
Segundo a ginecologista, o sangramento dura de três a sete dias. Mas o sangramento faz parte de um ciclo menstrual que ocupa o mês todo, e o intervalo entre cada menstruação pode variar de 25 a 35 dias.
A DURAÇÃO É SEMPRE A MESMA?
Não. "A gente diz que o eixo hormonal está maturando", afirma a médica. Depois da primeira menstruação, as próximas podem vir em intervalos pouco regulares, com meses pulados, durante todo o primeiro ano. Depois disso, Juliana diz que médicos consideram que o padrão se estabeleceu.
QUAIS TIPOS DE ABSORVENTE EXISTEM?
São dois tipos, segundo Sperandio: os externos e os internos. Os externos são os que ficam na parte de fora do corpo, geralmente acoplados à calcinha. Existem as opções sintéticas (que são aquelas facilmente encontradas em farmácias e descartáveis), as opções de pano (que são laváveis e reutilizáveis), e as calcinhas menstruais (que são calcinhas que já vêm com uma camada absorvente reforçada costurada nela ou então têm tecidos tecnológicos que absorvem o sangue).
"Não tem certo ou errado, existe o que se adapta a cada pessoa e seu momento de vida. Exige muito teste", diz a médica. Mas ela enfatiza que as calcinhas menstruais e os absorventes de pano costumam ser mais sustentáveis e que os absorventes sintéticos podem conter aditivos químicos que causam problemas de saúde.
Os absorventes internos, por outro lado, são aqueles que são inseridos dentro da vagina. Sperandio diz que não são opções restritas a pacientes que já tiveram relações sexuais com penetração, mas que exigem conhecimento de anatomia.
No grupo dos internos existe a opção descartável, bem similar ao externo, e as opções reutilizáveis: os copinhos ou coletores menstruais, geralmente feitos de silicone.
"Algo positivo que eu vejo com os coletores e as calcinhas menstruais é que existe desde cedo um contato com o sangue", diz a médica.
DE QUANTO EM QUANTO TEMPO DEVO TROCAR DE ABSORVENTE?
Sperandio diz que absorventes ou coletores cheios indicam a hora de trocar, mas a demora para encher vai depender de cada pessoa. O tempo máximo para troca de um coletor, segundo a médica, é entre 8 e 12 horas. Para o absorvente externo, é bom não passar das 6 a 8 horas de uso. O absorvente interno exige mais cuidado, diz ela. "Não pode esquecer ele lá dentro, já que tem risco de dar choque tóxico."
É NORMAL TER MUITA CÓLICA?
Segundo a médica, um pouco de cólica é parte do jogo. "Mas cólica intensa, incapacitante, não é normal", diz.
Médicos costumam trabalhar com uma escala de dor que vai do zero ao dez. Sperandio afirma que a cólica menstrual pode chegar ao cinco, mas, se passar disso, vale acender um alerta vermelho.
"Se leva a náuseas, vômitos, desmaios ou faltas na escola, o sintoma já não está normal e vale a pena ser investigado", diz. Ela afirma que a endometriose é uma doença grave que pode dar sinais desde a primeira menstruação com cólicas acima do normal.