O Dia Internacional da Mulher, celebrado neste dia 8 de março, é cada vez mais lembrado como uma data para evidenciar as lutas da mulher por igualdade e respeito.
Mas como surgiu a data? O primeiro fato marcante ocorreu em maio de 1908, nos Estados Unidos, quando cerca de 1500 mulheres participaram de uma manifestação em prol da igualdade econômica e política naquele país, conforme informações do site da Nova Escola. Em 1909, houve um protesto que reuniu mais de 3 mil pessoas no centro de Nova York e culminou, em novembro de 1909, em uma longa greve têxtil que fechou quase 500 fábricas americanas.
Somente em 8 de março de 1917, quando aproximadamente 90 mil operárias protestaram contra o czar Nicolau II (Rússia), as más condições de trabalho, a fome e a participação russa na guerra - em um ato conhecido como "Pão e Paz" - é que a data se consagrou, ainda que tenha sido oficializada como Dia Internacional da Mulher apenas em 1921.
Em homenagem às mulheres, o Portal Bonde selecionou mulheres que se destacam em suas atividades para a série #Mulheres Reais. Ao longo de março, a equipe do Bonde vai apresentar as histórias incríveis dessas batalhadoras que atuam em diversos segmentos da sociedade londrinense e fazem a diferença.
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Terezinha Aparecida dos Santos, 55
Terezinha – ou apenas Teresa, para alguns – reúne dentro de si a mulher brasileira. Mãe de quatro filhos, conheceu o trabalho ainda na infância, cuidando de outras crianças e embalando pipoca numa fábrica. Sua vida se confunde com a própria luta por sobrevivência, mas nem por isso é menos bela. Por isso, nessa série de perfis, começaremos pela mulher que mostra a vida de muitas brasileiras: Terezinha.
Quando tinha 16 anos, já aguardava sua primeira filha. Teve de deixar o primeiro trabalho com registro em carteira, numa fiação de seda da cidade, para se tornar dona de casa em tempo integral. Mais dois filhos vieram ainda dentro desse casamento, e ela teve que voltar a trabalhar.
Seu segundo emprego com carteira assinada foi como camareira. O dono do estabelecimento, contudo, pedia a ela que preparasse lanches e porções, Foi quando ela aprendeu o ofício que a acompanha até hoje, de cozinheira. "Eu não tinha noção de cozinha. Tanto que quando me casei eu não sabia fazer nem um arroz. Eu aprendi do nada. É tipo um dom que vem de família”, relata, recordando dos parentes que exercem a mesma profissão.
Ela se emociona com as notícias de violência doméstica que vê na televisão. "Porque eu sinto no meu coração como que machuca a gente. É uma coisa que você não esquece nem um segundo. Eu vivi dez anos em sofrimento”. Um dia, voltou do trabalho e encontrou todas as fechaduras de casa trocadas. Sentou na área do fundo e esperou o marido chegar. "Ele quebrou um rodinho na minha testa”. Na mesma noite, dormiu em uma amiga e decidiu que estava na hora de dar um basta. "Eu tinha que ter uma decisão. Se eu continuasse, ele ia acabar me matando”, relembra.
Durante alguns meses, Terezinha ficou morando na casa onde trabalhava como doméstica. Arrumou um segundo emprego em um restaurante, o que consumia suas noites e algumas madrugadas. Quando conseguiu alugar um espaço para viver, dormia em algumas almofadas dadas de presente pela mãe.
Uma das ameaças do ex-marido – "ele falava que não ia me deixar nada” – infelizmente se concretizou, não apenas em relação aos bens materiais. Na primeira segunda-feira depois da separação, recebeu uma intimação judicial para a audiência do divórcio. Já havia outra mulher em seu lugar na casa. "A papelada já estava pronta da forma que ele (o ex-marido) quis”, ela conta, recordando que teve que abrir mão da guarda dos filhos. Apenas dez anos depois eles voltaram a morar com ela.
Aos poucos, Terezinha foi reconstruindo a sua vida. Passou a conciliar três empregos, chegava de madrugada em casa. Devagar conseguiu comprar um apartamento. Contudo, já depois dos 40 anos, sofreu outro revés: uma depressão profunda. "Eu achei que ia morrer. Fiquei 'entrevada', mexia só o olho. Eu pedi cabelo, engordei 20kg, não conseguia levantar da cama, sentia dor”. Com o apoio de profissionais especializados, aos poucos ela se recuperou. Contudo, atribui sua cura à fé: "Deus me levantou do chão. Eu tive que reaprender a andar”.
A vida de Terezinha, assim como a vida de muitas mulheres, se confunde com as suas lutas. Mesmo assim, ela continua a sorrir: "Hoje em dia eu posso falar para você que eu sou uma pessoa feliz”.
Por Isabella Alonso Panho, sob supervisão de Larissa Ayumi Sato.