Moda

Mundo plus size ganha força sem apologia à obesidade

07 jan 2011 às 09:17

Desfiles só com modelos gordinhas, confecções de números grandes renovadas, revistas especializadas, blogs e sites de moda para quem veste GG, calendário só com fotos de mulheres com curvas avantajadas e até campanha para que lojas coloquem em suas araras peças modernas com números acima do 46.

"Após toda a discriminação no mercado de moda e beleza, estamos mostrando que podemos nos sentir bem e bonitas", afirma a professora de idiomas Sandra Ebener, autora do blog Mundo G +. Sandra, 39 anos, mãe de dois adolescentes, comemora essa onda, assim como muitas outras mulheres com manequins acima do 46, e que agora podem usufruir de uma moda que antes as renegava.


Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), esse público já representa metade da população adulta do País: 48% das mulheres e 50% dos homens estão com peso acima do padrão recomendado para uma vida saudável. No entanto, todos os envolvidos diretamente na onda ''orgulho fat'' ressaltam com veemência que ninguém quer fazer apologia da obesidade.


"A ideia é fazer com que essas pessoas passem a aceitar mais suas características e, ao mesmo tempo, adotem um estilo de vida saudável", avisa o jornalista Jeff Benício, que, por meio da sua editora Haz, especializada em títulos corporativos, criou com seu sócio o projeto Mulheres Reais, um mix de eventos e publicações para promover a inclusão da mulher GG no universo da moda.


O primeiro passo foi o lançamento, no ano passado, de um guia de moda com looks específicos para quem tem curvas avantajadas. Na sequência, veio um calendário-pôster com quatro modelos plus size vestidas como pin-ups, editado também em 2011. "O projeto nasceu para chamar a atenção para essa consumidora, sempre ignorada pela mídia e pela indústria da moda que investe num padrão de magreza", afirma Jeff.


Resgate da autoestima


Um nicho próspero para modelos gordinhas vem sendo aberto no Brasil, mas nada que se compare aos Estados Unidos. Aqui, elas recebem menos do que as modelos magras e, muitas vezes, não encontram estrutura mínima para se produzirem. Para valorizar esse mercado (e os cachês), cinco modelos paulistanas se reuniram e formaram o grupo Top Five. São elas: Andrea Boschim, de 32 anos; Bianca Raya e Celina Lulai, de 28; Mayara Russi, de 22; e Simone de Fiuza, de 25.


Reprodução

A modelo brasileira Fluvia Lacerda: sucesso nos Estados Unidos


"Produzimos fotos e as divulgamos, para abrir os olhos das pessoas e mostrar que somos profissionais", avisa a idealizadora do Top Five, Simone Fiuza. Ela trabalha como modelo há cinco anos, mas diz que o mercado despontou nos dois últimos anos. É uma das poucas modelos plus size que vive exclusivamente dos cachês.


Andrea Boschim, a mais velha das Top Five, está atuando também fora das passarelas. É uma das mentoras e organizadoras do Fashion Week Plus Size, uma espécie de versão rechonchuda da São Paulo Fashion Week. "O último evento se pagou, não sendo mais necessário tirar dinheiro do próprio bolso", conta Andrea, que aposta todas as fichas nesse segmento, junto com sua sócia Renata Poskus Vaz, autora do blog Mulherão.


Militância


A publicitária Alcione Ribeiro, de 32 anos, autora do blog Poderosas Gordinhas, iniciou a campanha Por Tamanhos Maiores, para estimular os grandes magazines a colocarem em suas araras peças de numeração GG e EG (extra G). A partir de seu blog e via Twitter, ela iniciou uma discussão com suas leitoras sobre a dificuldade de comprar roupas em lojas de departamentos. Agora, quando conseguem encontrar uma peça bacana e de manequim grande, divulgam a foto do produto e a indicação do lugar.


Há duas revistas femininas mensais direcionadas para leitoras gordinhas. A primeira a surgir foi a Sem Medida, versão online de acesso gratuito, lançada pela Writers Editora em fevereiro de 2009. Um de seus idealizadores foi o jornalista Roberto Paes, que se inspirou na sua esposa. "Pensei em fazer a revista para milhões de mulheres que, como ela, são vítimas de discriminação e preconceito."


Evolução fashion


No exterior, muitos são os sinais de que o movimento plus size não é passageiro. Um fato inédito surgiu na Fashion Week de New York do Verão 2011: em um espaço paralelo, houve o primeiro desfile plus size.


Revistas internacionais não ficam atrás dessa onda. Em abril, a capa da Elle Paris estampou a top GG Tara Lynn. Nos EUA, a brasileira Fluvia Lacerda tornou-se uma das modelos mais requisitadas do país.


Causou um baita frisson a twittada de Robert Duffy, presidente da grife Marc Jacobs, que considerou a hipótese de desenvolver uma linha de roupas plus size.


Empresas do segmento se multiplicam. Mônica Angel, diretora de estilo da grife Palank, com 25 anos de existência e 11 lojas espalhadas por São Paulo, atesta essa mudança. "A evolução é mais da consumidora do que do mercado, porque agora essas mulheres querem estar na moda", observa.

Já estilista Andreza Calil inaugurou em 2010 a primeira loja virtual plus size do País: a Wish Fashion. A proposta é garimpar os melhores produtos das marcas e vendê-los pela internet, além de dar dicas de moda.


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