A tendência é expor os chifres para o mundo. Shakira atingiu o topo das paradas do Spotify ao relatar a traição de seu ex-marido Gerard Piqué. Luísa Sonza entrou para as mais ouvidas do Brasil ao expor seu amor por Chico Moedas com a música "Chico". Pouco depois, disse no programa da Ana Maria Braga que ele foi infiel ao ficar com uma desconhecida no "banheiro de um bar sujo".
Expor a traição ao público, porém, deixou de ser exclusividade de famosos. Anônimos também filmam e levam seus casos a redes sociais.
A raiva e a vontade de fazer o parceiro sofrer podem estar por trás desse comportamento. Mas, além da dor da traição, essa exposição tem o risco de acarretar mais problemas, como processos judiciais.
Vale tudo nos chamados "exsposeds". Flagrar o marido na cama com a amante ou na igreja ou filmar a esposa "chamegando" o colega de trabalho na praia, por exemplo.
O interesse pela desgraça alheia costuma ser alto. No caso de traições é traduzido em números nas redes sociais. Em uma conta em que foi publicado, o vídeo em que um marido é descoberto com a amante dentro da igreja atingiu 7 milhões de pessoas, mais de 50 mil likes e 10 mil compartilhamentos.
O caso do sogro que foi apontado como amante do genro viralizou e a história deve inspirar até um filme pornô chamado "O Sogro e o Genro".
Em outro caso, uma jovem de 20 anos que gravou o momento em que desmascara a traição do namorado na frente da família ganhou 25 mil seguidores e é seguido, ao todo, por 90 mil usuários.
No perfil, ela deixa fixado uma mensagem em que agradece o carinho recebido após a repercussão do vídeo. Além disso, afirma que recebeu propostas para fechar parcerias, mas diz que não é essa sua área e que vai seguir trabalhando com os negócios da família no agro.
O apresentador de televisão João Kléber se diz espantado com a tendência de expor os próprios chifres na internet. Ele afirma que costuma receber os casos que mais viralizam e ouvir comparações de que os "exposeds" são tão surreais quanto os episódios do quadro Teste de Fidelidade, da RedeTV!.
"Parece uma vingança da pessoa com o intuito de lavar a alma", diz ele.
No quadro, em determinado momento, um selo em vermelho escrito "reprovado" ou "reprovada" aparece no telão. É nesse momento que o auditório entra em combustão, a câmera treme, as luzes coloridas dominam o palco, a plateia urra e o apresentador solta o bordão: "para, para, para".
Uma música de Ricky Martin toma conta do cenário, João Kléber começa a dançar e a plateia acompanha. "É meu lado de show, e eu tento trazer para o entretenimento e fazer graça, mas é triste." Segundo ele, todos os casos que aparecem no auditório são verdadeiros.
No caso das redes, o apresentador diz acreditar que exista uma vontade dos traídos de mostrar para a sociedade que era o parceiro ou parceira quem estava errado.
"Poderiam se separar na Justiça, mas preferem se expor", diz ele, acrescentando que a atitude pode prejudicar até em caso de futuros relacionamentos. "Quem quer ficar com essa pessoa amanhã? É conviver com uma pessoa passional, é perigosíssimo."
Especialistas analisam a situação de forma semelhante.
A psicóloga Marina Vasconcellos, que trabalha como terapeuta familiar e de casal, nota que a exposição é uma saída comum de fazer o outro sofrer. "O traidor vai sofrer de uma forma diferente, mas vai sofrer. É como se o traído não ficasse sozinho durante o sofrimento."
O psiquiatra e especialista em sexualidade Jairo Bouer define que o momento de compartilhar algo tão íntimo é como se a pessoa tivesse disparado o botãozinho da emoção e desligado o da razão.
Além disso, tem como objetivo atrapalhar a vida da pessoa no futuro tanto para relacionamentos quanto relações com amigos e familiares.
Outro perigo, acrescenta Bouer, está na possibilidade de o traído reconsiderar a traição. "A pessoa pode reavaliar, reconsiderar e perdoar. E aí? Como ela fica diante do mundo depois de ter exposto a outra pessoa?"
"A raiva é natural de quem foi traída", diz a psicóloga Ana Canosa. "Ficamos tomados pela emoção e não pensamos o que vamos expor. No fim, é uma quebra de acordos. Mas, é triste quando relações terminam com uma grande plateia avaliando tudo."
Canosa afirma ainda que a avaliação alheia é, em geral, superficial e o grau de julgamento pode atrapalhar quem está passando por um momento delicado a pensar diferente.
E a sensação que a maioria tem, continua ela, é que os seguidores vão saber acolher e falar aquilo que o traído quer ouvir.
Fora as questões que envolvem o coração, a advogada Natanrry Reis relembra que expor informações na internet como forma de vingança ou de causar constrangimento pode configurar um ato ilícito.
Reis diz que o ofendido pode buscar reparação pela remoção do conteúdo, mas também por meio de ação de indenização por eventuais prejuízos decorrentes da publicação, especialmente se for considerado que houve calúnia, injúria ou difamação.
"O desabafo é permitido", ressalta a advogada. O limite é ultrapassado, na avaliação dela, quando alguém é acusado falsamente de um crime ou há ofensa à honra, à dignidade ou à reputação.