Primeiro ato: a estação mais quente do ano começou ontem, a temporada de férias está aí e você quer entrar naquele biquíni ou sunga alguns números menores que seu manequim, correto? Segundo ato: em busca do abdômen tanquinho, da cinturinha de pilão e de formas mais enxutas, hora e vez de se matricular em uma academia, não? Bem-vindo ao universo dos atletas de verão!
O que muitos não sabem é que, antes de vestir o short e suar o top ou a regata, uma série de cuidados são indispensáveis. É com essa realidade que convivem muitos médicos e profissionais da saúde, como o cardiologista Fuad Salle Neto. Segundo ele, o período anterior ao ingresso nas academias muitas vezes é caracterizado por uma batelada de erros.
''Há aqueles que optam por dietas sem a mínima orientação médica; comendo de forma errada para emagrecer rapidamente. Algumas pessoas procuram até tomar medicamentos que tiram o apetite, como anfetaminas, e se esquecem de seus efeitos, como aumento de pressão e arritmia. Se antes eram somente as mulheres, hoje vemos os homens recorrendo cada vez mais às anfetaminas'', revela.
Queimar as gordurinhas, pneuzinhos e culotes acumulados nos 11 meses anteriores ao verão pode passar longe do aspecto saudável quando os dois primeiros passos são deixados de lado. Segundo Salle, é impossível pensar em um atleta de verão bem-sucedido sem que as avaliações física e cardiológica sejam feitas. ''As pessoas que começam a fazer longas caminhadas e demais atividades sem uma preparação cardiovascular e muscular podem tanto ter lesões quanto, uma vez apresentando predisposição, sofrer algum evento cardíaco'', argumenta.
Na lista de recomendações àqueles que querem comprar o tênis e pular a caminhada e o jogging e já partir para a corrida, as dicas do cardiologista são três. ''Precisamos avaliar as condições de saúde da pessoa, principalmente no que se refere aos aspectos cardíaco, neurológico e metabólico (pressão, diabetes). Como segundo aspecto, pedimos para o atleta de verão começar com algo mais leve, e, por fim, analisamos o grau de capacidade dessa pessoa''.
Com o resultado do check-up em mãos, é melhor não se inspirar em Madonna ou Stallone e demais estrelas de Hollywood, aconselha o cardiologista. ''Não adianta se matricular na academia sonhando, no primeiro mês, com o físico de determinada celebridade que você viu em um programa de TV, jornais ou revistas. A pessoa economiza muito mais tempo, após a avaliação prévia, tendo uma prescrição de exercício''.
Além da musculação, o treinamento aeróbico não pode ser deixado de lado. De acordo com Salle, correr, pedalar e nadar, entre outras atividades, previne doenças musculares, reduzindo significativamente o risco de enfarto, derrame e problemas de hipertensão. ''A parte aeróbica faz a diferença para a saúde metabólica'', afirma.
Adotar o esporte de sua preferência também serve de incentivo. ''As pessoas precisam, mesmo com o corre-corre do dia-a-dia, escolher algo com que se identifiquem, que seja prazeroso. No início, é comum muitos terem resistência a continuar, mas o exercício é um dever e, portanto, deve ser incorporado à rotina''. Diante das dicas, fica o conselho para 2009: mexa-se, mas como moderação.
'Resultados não caem do céu', diz personal
Praticante de corrida e musculação há oito anos, o personal trainer Breno Tesser atende, diariamente, os mais variados perfis de alunos. Todos, claro, em busca do bíceps inflado, do tríceps trincado e da barriga repleta de gomos. ''As pessoas estão mais conscientes de que os resultados não caem do céu, mas ainda têm uma mentalidade muito imediatista'', aponta.
Sazonalidade e efeitos instantâneos? Nem pensar. Para o personal trainer londrinense, as atividades físicas devem ser encaradas como um investimento. ''Trata-se de um investimento contínuo cujo saldo vem em longo prazo. A prática sazonal na maioria das vezes não é suficiente para reverter uma condição física desfavorável. Dessa forma, é necessário adquirir uma consciência de que a manutenção de um estilo de vida ativo trará benefícios mais duradouros e compensatórios''.
Adepto das avaliações física e cardiológica preliminares à malhação, Breno não vê outro caminho para o início com o pé direito entre anilhas, barras e passadas. ''É recomendado que haja um conhecimento e acompanhamento da atual condição física para prescrição de uma atividade física segura voltada às limitações de cada pessoa'', completa.