Boa forma

Luta contra o câncer - prevenção começa no prato

31 dez 1969 às 21:33

O status do câncer está mudando. Antes visto como uma única patologia é reconhecido como um grupo de doenças, que podem caracterizar-se como prevenível, curável, crônica e, em alguns casos, fatal. "Concebe-se que, em poucos anos, o câncer poderá acompanhar o indivíduo por um longo período, desde que precocemente detectado e adequadamente assistido, assim como a hipertensão e o diabetes", informa o cancerologista Murilo Buso, diretor do Centro de Câncer de Brasília. Tal mudança é resultado de inúmeros fatores, especialmente da evolução tecnológica, de novas abordagens terapêuticas e de medicações cada vez mais avançadas.

Contudo, o especialista lembra que cresce o número de casos da doença em todo o mundo. Isso, porque o câncer é multifatorial e está associado ao estilo de vida, que cada vez mais compromete o bem-estar e a longevidade. "A civilização moderna adota uma dieta inadequada, é sedentária e ainda consome tabaco em larga escala", comenta Buso. Estudo recente da Organização Mundial de Saúde (OMS) destacou que a mudança de tais hábitos será capaz de evitar até 40% dos diagnósticos de câncer.


Prevenção na Mesa


Em 2008 serão mais de 466 mil novos casos da doença no País, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca). "Para minimizar o risco do câncer e de inúmeras outras doenças, a adoção de uma dieta saudável é o primeiro passo", orienta o médico. A relação entre o consumo de certos alimentos e o risco de câncer possui evidência científica, apesar da complexidade dos fatores que estão associados à ingestão dos alimentos, como por exemplo: conservação, preparo e quantidade consumida.


Alguns tipos de alimentos, se consumidos regularmente durante longos períodos de tempo, parecem fornecer o tipo de ambiente que uma célula cancerosa necessita para surgir, se multiplicar e se disseminar. Esses alimentos devem ser evitados ou ingeridos com moderação. São os ricos em gorduras, tais como carnes vermelhas, frituras, molhos com maionese, leite integral e derivados, bacon, presuntos, salsichas, lingüiças, mortadelas, entre outros.


Existem também os alimentos que contêm níveis significativos de agentes cancerígenos, como os nitritos e nitratos, usados para conservar alguns tipos de alimentos - picles, salsichas, outros embutidos e alguns tipos de enlatados. Essas substâncias transformam-se em nitrosaminas no estômago, que, por sua vez, têm ação carcinogênica potente, sendo responsáveis pelos altos índices de câncer de estômago observados em populações que consomem alimentos com essas características de forma abundante e freqüente.


Já os defumados e churrascos são impregnados pelo alcatrão proveniente da fumaça do carvão, o mesmo encontrado na fumaça do cigarro e que tem ação carcinogênica conhecida. Os alimentos preservados em sal - tais como: carne-de-sol, charque e peixes salgados - também estão relacionados ao desenvolvimento de câncer de estômago em regiões onde é contínuo o consumo.


O tipo de preparo do alimento também influencia no risco de câncer. Ao fritar, grelhar ou preparar carnes na brasa a temperaturas muito elevadas, podem ser criados compostos que aumentam o risco de tumores de estômago e de reto. Por isso, métodos de cozimento que usam baixas temperaturas são escolhas mais saudáveis. São eles: vapor, fervura, pochê, ensopado, guisado, cozido ou assado.


"A alimentação saudável somente funcionará como fator protetor quando adotada constantemente, no decorrer da vida", enfatiza Buso.


Estudos que relacionam alimentos a tipos específicos de câncer


Cólon e Reto - Estudos demonstram que uma alimentação pobre em fibras, com altos teores de gorduras e altos níveis calóricos (hambúrguer, batata frita, bacon etc.) estão relacionadas a um maior risco para o desenvolvimento de câncer de cólon e de reto, possivelmente porque, sem a ingestão de fibras, o ritmo intestinal desacelera, favorecendo uma exposição mais demorada da mucosa aos agentes cancerígenos encontrados no conteúdo intestinal.


Mama e Próstata - A ingestão de gordura pode alterar os níveis de hormônio no sangue, aumentando o risco dos cânceres de mama e de próstata. Há vários estudos epidemiológicos que sugerem a associação de dieta rica em gordura, principalmente a saturada, a um maior risco de desenvolvimento desses tipos da doença em regiões desenvolvidas.


Estômago e Esôfago - Ocorrem mais freqüentemente em alguns países do Oriente e em regiões pobres, onde não há meios adequados de conservação dos alimentos (geladeira), o que torna comum o uso de picles, defumados e alimentos preservados em sal. Também ocorre em locais nos quais é comum o consumo diário de alimentos em altas temperaturas (exemplos: sopas e chás).

Fígado - Grãos e cereais armazenados em locais inadequados e úmidos podem ser contaminados pelo fungo Aspergillus flavus, que produz a aflatoxina, substância cancerígena. Há estudos que relacionam essa toxina ao desenvolvimento de câncer de fígado.


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