Pode parecer uma infecção como outra qualquer. Mas na gestante, a infecção urinária é especialmente grave. O risco é de parto prematuro, de infecção no bebê, de septicemia na mãe, e até de óbito. Duas mortes de mulheres no ano passado, em Londrina PR), e duas neste ano, levaram a mudanças no protocolo do pré-natal feito nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), que vai passar a oferecer mais exames. Nos próximos dias 17 e 18, a secretaria municipal de Saúde promove uma capacitação técnica para médicos e enfermeiros sobre a nova rotina de cuidados a gestantes.
Segundo a enfermeira Christiane Liberatti, integrante do comitê de prevenção de mortalidade materno-infantil de Londrina, um levantamento feito em 2008 mostrou que, dos óbitos infantis que poderiam ser evitados, a maioria foi causada por infecção na mãe.
Dados do Núcleo de Informações em Mortalidade (NIM) mostram que foram 70 óbitos de crianças com até um ano de idade, e três óbitos de mães. Dos casos infantis, 41 eram potencialmente evitáveis, e desses 23 tinham prováveis causas infecciosas relacionadas à mãe. Nas mães, um dos casos foi por infecção urinária e o outro por infecção de placenta e líquido amniótico. Este ano, dois dos quatro casos de morte de mãe tiveram as mesmas causas.
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Apesar do índice de mortalidade infantil ser baixo na cidade - a Organização Mundial da Saúde preconiza como baixo até 20 mortes por mil nascidos vivos e em Londrina o número foi de 10 - quando os dados são detalhados a constatação é que é preciso intervir mais. A orientação, segundo a enfermeira, é uma ''maior vigilância'' para evitar infecções urinárias.
Na prática, isso será feito com exames de rotina no primeiro e terceiro trimestres da gestação, mesmo que a mulher não apresente sinais de infecção. Se houver comprovação, mais um exame será disponibilizado ao final da medicação usada para combater a doença. ''Vai mais que dobrar o número de uroculturas'', afirma Christiane.
A nova rotina de pré-natal foi elaborada pelo comitê de prevenção da mortalidade materno-infantil de Londrina, e o treinamento montado em conjunto com o departamento de ginecologia do Hospital Universitário (HU), Centrolab, e diretoria de auditoria, controle e avaliação (DACA) da Secretaria Municipal de Saúde.
Ardência e dor são alguns dos sintomas
O ginecologista e obstetra Leandro Feijó Sonnberger, da Maternidade Municipal de Londrina, explica que, na gestante, o risco de infecção urinária é maior pela própria condição hormonal e pela alteração anatômica que a mulher passa.
Entre os sintomas da infecção urinária estão ardência e dor, mas, em alguns casos, segundo o especialista, ela pode ser assintomática, o que dificulta sua identificação. Quando isso acontece, o risco é da infecção evoluir e atingir os rins. ''A cistite, que é a infecção na região da bexiga, é mais fácil de identificar pelos sintomas como ardência e dor. Já, a pielonefrite, chamada de infecção alta, atinge o rim, causa dor lombar e é muito perigosa para a mãe'', alerta.
Outro problema que pode agravar os casos de infecção urinária, na opinião do médico, é a falta de adesão ao tratamento. ''A gestante tem medo de tomar um medicamento e prejudicar a criança, mas é a falta dele que vai causar isso'', afirma. Ele lembra que o risco de infectar o bebê com a bactéria causadora da infecção urinária é o mesmo, tanto em parto normal, quanto na cesárea.
Prevenir o mal, ensina o médico, passa por uma boa ingestão de líquido - pelo menos dois litros ao dia -, e higiene íntima adequada, principalmente a limpeza após a evacuação. ''Na gestação, a flora vaginal aumenta, e fica mais fácil de infeccionar'', explica.