‘Estou grávida, e agora? Posso fazer exercícios físicos?’. A dúvida ainda é comum entre mulheres que descobrem que estão esperando um bebê. Mas, antes de sair por aí dançando e pulando como a cantora Ivete Sangalo, que não interrompeu as atividades por conta da gravidez, saiba que os exercícios, como para qualquer outro público, trazem benefícios para as gestantes, mas a forma de praticá-los é diferente para quem já fazia atividades antes da gestação e para quem quer começar justamente nessa época.
É preciso pensar em intensidade, duração e frequência, e também considerar que existem níveis diferentes de condicionamento físico: há a mulher que já pratica atividade física, a que é sedentária e quer começar a praticar junto com a gestação, e a atleta. As orientações são da ginecologista e obstetra Cássia Canizares, de Londrina, e das profissionais de educação física e personal trainers Isabela Ribeiro e Michele Balbino de Jesus, também de Londrina.
Segundo a ginecologista, quem faz exercícios regularmente, tem o organismo já condicionado para aquela atividade e pode continuar a praticá-la, desde que esteja saudável e não apresente nenhum fator de risco, como dor e sangramento.
Já aquela que é sedentária e quer iniciar uma atividade, deve esperar, segundo a médica, passar os três primeiros meses, quando há mais risco de sangramento e de aborto. ‘O corpo já passa por uma mudança grande por conta da gravidez e ainda vai ter que se adaptar para a prática de exercícios. Mas, depois desse período de três meses ela pode começar’, indica.
Não é recomendado que a gestante comece a praticar exercícios de alto impacto, como hipismo, vôlei e corrida, e lutas de contato pessoal, como judô e boxe. Mas para quem já está acostumada, continua valendo a orientação de que ela pode continuar a praticar, desde que com liberação médica. ‘Exercícios muito intensos, que levam à exaustão e fadiga, ou aqueles feitos em altitude ou em profundidade, também devem ser evitados, até pela segurança do feto. Competições e resultados só são exigidos de atletas’, ensina Isabela.
Os benefícios para quem pratica atividade física durante a gestação são muitos - o risco de pré-eclâmpsia (hipertensão arterial) e de diabetes gestacional é menor, o ganho de peso é controlado, o sono é melhor, e o parto natural é mais rápido e com menos dor. ‘Há também o aspecto psicológico, pois a mulher fica com mais autoestima’, opina Isabela. ‘Com uma consciência corporal maior, a mulher se adapta melhor às mudanças que a gravidez traz’, completa Cássia.
A atividade física também ajuda a aliviar incômodos bem comuns da gestação, como as dores nas costas, inchaço e varizes. Uma das grandes mudanças no corpo da mulher com o crescimento da barriga, segundo Michele, é no centro de gravidade. O peso da barriga leva o corpo para frente, sobrecarregando articulações, coluna e musculatura dorsal. ‘Aí, se a região não está fortalecida, vem as dores nas costas’, explica. E como os exercícios também melhoram a circulação, segundo Cássia, ajudam a aliviar o inchaço e varizes.
Controle da frequencia cardíaca
Um dos principais cuidados na hora da gestante praticar atividade física é com o controle da frequência cardíaca. Segundo a personal trainer Isabela Ribeiro, o Colégio Americano de Medicina do Esporte (ACSM) recomenda que a frequência não passe dos 140 batimentos por minuto. ''Daí a importância dos exercícios serem monitorados'', ressalta.
A personal trainer Michele Balbino de Jesus, que continua trabalhando e se exercitando normalmente aos sete meses e meio de gestação, explica que é no último trimestre que a resistência da gestante ''baixa um pouco''. Aí, é preciso diminuir o volume e a intensidade dos exercícios. ''Até o segundo trimestre de gestação, você não sente tanto cansaço, principalmente quem já pratica atividade física. Depois, a gente se sente mais 'pesada', com mais dificuldade para caminhar e fazer movimentos rápidos'', afirma a mãe de Bianca.
Alguns exercícios, segundo as profissionais, são mais confortáveis para a mulher nesse período. Exemplo são os feitos na chamada bola suíça, que podem ser feitos com a mulher sentada ou deitada.
Até mesmo os exercícios abdominais podem ser feitos por gestantes. ''Mas só aquelas que estão sadias e principalmente sem hipertensão arterial. É preciso que tenham controle sobre sua respiração e não realizem a manobra de valsalva, que é prender a respiração no momento da execução do exercício'', ressalta Isabela.
A escolha da modalidade vai depender do que a pessoa gosta, mas as profissionais ressaltam que as gestantes não precisam se restringir à hidroginástica - pode ser musculação, natação, caminhada ou qualquer outra que não implique em saltos. ''O importante é dosar intensidade, duração e frequência e mudar isso conforme a gravidez vai avançando'', avalia Michele.