Intolerância ao frio, desânimo, cansaço fora do normal, diminuição da memória e alterações do humor. Esses e outros sintomas, que muitas vezes são confundidos com outras patologias, podem ser indícios de que há algum problema com a tireoide, glândula responsável pela produção de hormônios importantes para o funcionamento de diversos órgãos. Sem controle adequado, o hipotireoidismo pode afetar o coração, os ossos, alterar as gorduras no sangue, etc. Quando a doença não é diagnosticada em tempo ou não é controlada adequadamente, pode levar a sérias consequências, que podem ter impacto em outros órgãos importantes.
A professora adjunta de endocrinologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Gisah Amaral de Carvalho, explica que metade dos pacientes com hipotireoidismo também apresentam sintomas depressivos. Segundo ela, os hormônios tireoidianos agem nos sistemas noradrenérgico e serotoninérgico, que são importantes para o humor e também para memória, raciocínio, libido, sono-vigília, entre outros.
''Na fase inicial do hipotireoidismo os sintomas são inespecíficos e aparecem de forma insidiosa, ou seja, os sintomas são discretos. Ao se manifestar o paciente percebe sinais de cansaço, fraqueza e indisposição'', diz.
Apesar de atingir pessoas de ambos sexos e todas as idades, certos grupos são mais vulneráveis, como as mulheres, homens acima dos 65 anos, pessoas com histórico familiar de diabetes, além daqueles que já tiveram problemas na tireoide. Dados da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) apontam que um dos problemas mais comuns da tireoide são os nódulos, que não apresentam sintomas. Estima-se que 60% da população brasileira tenha nódulos na tireoide em algum momento da vida, sendo que a maioria dos nódulos é benigna.
Ainda segundo a médica, o hipotireoidismo resseca a pele e torna os cabelos secos, com queda acentuada, as unhas fracas e irregulares. ''O intestino fica preguiçoso, assim como todo organismo: os movimentos, os pensamentos e os reflexos ficam mais lentos, o coração bate mais devagar. Há tendência a ganho de peso porque o paciente se movimenta menos e pode reter líquido. Ao contrário, existe também o hipertireoidismo, que acelera todo metabolismo''.
Especialistas afirmam que nas mulheres a doença se torna mais comum por causa das alterações hormonais causadas na gestação e no período da menopausa. Mas o problema pode afetar também homens e mulheres jovens. A médica Laura Ward, professora da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Campinas (Unicamp), reforça que o impacto do hipotireoidismo na vida do indivíduo está associado também com o aumento de colesterol e lipídios sanguíneos que levam à doença coronariana isquêmica e, daí, o maior número de infartos, acidentes vasculares cerebrais e outras doenças.
Apesar disso, a médica lembra que, uma vez identificado, o paciente pode tratar o distúrbio com reposição hormonal, além de procurar recursos na própria nutrição. ''A reposição com hormônio tireoidiano corrige totalmente a deficiência. A prática regular de atividade física pode ajudar no combate a esse desajuste das glândulas. Sabemos também que o consumo de iodo contribui para o aumento do número de doenças da tireóide. Sendo assim, não é preciso adicionar sal na comida, procurar uma alimentação saudável e evitar medicamentos desnecessários'', finaliza.
Nutrição a favor da tireoide
Pacientes diagnosticados com hipotireoidismo costumam procurar acompanhamento nutricional não só para perder o peso geralmente adquirido pelo metabolismo mais lento, mas principalmente para conseguir promover mais saúde para o órgão em deficiência. A nutricionista funcional e ortomolecular Gisella Valle explica que as disfunções tireoidianas se relacionam à deficiência de iodo, visto que esse nutriente é fundamental para a síntese de hormônios. Segundo ela, vem se observando uma redução de 50% nos níveis de iodo, ao mesmo tempo em que se vem notando um aumento muito pronunciado na incidência de desordens tireoidianas.
''Muitas pessoas ainda acreditam que o sal é a principal fonte de iodo na dieta, o que não é verdade, pois somente 10% do iodo do sal é biodisponível. As tireóides também contém mais selênio por grama do que qualquer outro tecido, mostrando o qual fundamental este mineral para a sua atividade. O papel deste mineral esta ainda intimamente relacionado com o T4, o qual aumenta atividade, mitocondrial e, portanto, a produção energética'', diz.
Gisella diz ainda que o aminoácido L tirosina é usado quando o mesmo se encontra diminuindo, pois é fundamental para a formação do TSH. ''Alimentos que devem ser evitados, pois possuem substancias bociogenicas são os isotiocianetos presentes nas brássicas, como repolho, brócolis, couve flor, couve bruxelas, couve folhas mostarda, rabanete, nabo e as isoflavonas encontradas na soja e alfafa para o qual pode aumentar o TSH nas tireoidites'', finaliza.