Boa forma

Diabetes gestacional traz perigo a mãe e bebê

31 dez 1969 às 21:33

A saúde da mulher fica muito mais vulnerável durante a gravidez - e não à toa: por nove meses, o organismo tem de dar conta das necessidades de duas vidas. A boa notícia é que os problemas costumam ficar restritos ao pré-natal e podem ser minimizados com o acompanhamento médico adequado. Esse é o caso do diabetes gestacional, desequilíbrio das taxas de glicemia que pode acometer algumas mães durante a espera pelo bebê e que, na maioria dos casos, se normaliza depois do nascimento da criança.

O problema ocorre por obra da própria placenta, responsável pela nutrição do feto. Ela produz hormônios que podem prejudicar - ou até mesmo bloquear - a ação da insulina, a chave que permite a entrada da glicose nas células. Para a maioria das gestantes isso não chega a ser um problema, pois o organismo compensa o desequilíbrio aumentando a fabricação de insulina. Infelizmente nem todas reagem assim.


"O diabetes gestacional normalmente aparece sem dar sinais. Por isso é importante verificar os índices de glicemia já nos primeiros meses de gravidez, por meio de exames de sangue", alerta Cláudio Emílio Bonduki, obstetra da Universidade Federal de São Paulo. O especialista afirma que os sintomas comuns da doença, como sensação de boca seca e constante vontade de urinar, só aparecem quando as taxas de açúcar no sangue estão muito elevadas.


Ainda de acordo com o obstetra da Unifesp, pacientes que, antes da gravidez, apresentavam índices de glicemia normais e passaram a ter o descontrole quando grávidas, certamente, já tinham uma predisposição genética para ter a doença. "Elas passam a desenvolvê-la na gestação, pois o próprio estado gravídico deixa a mulher mais suscetível. As mudanças hormonais podem mexer com o metabolismo".


O sobrepeso anterior à gravidez é outro fator desencadeante do diabetes gestacional. "A gordura acumulada acaba piorando o metabolismo da glicose", explica Cláudio. O fator de risco é o mesmo para mamães que engordam muito durante a gestação. Segundo o especialista, "o normal é a gestante ganhar de meio a um quilo por mês, sendo que, nos três últimos meses, esse limite aumenta para um quilo e meio, totalizando de oito a 12 quilos".


Apesar de todos estes fatores fazerem com que o exame de glicemia seja necessário desde o início da gravidez, é muito importante acompanhar as variações das taxas de açúcar por volta do sexto mês. É nesse período que o feto passa a consumir mais glicose para ganhar peso, aumentando a probabilidade de surgirem problemas relacionados às taxas de açúcar no sangue da mãe.


Tratamento certo afasta os riscos


Caso a mãe não passe pelo devido pré-natal e as taxas de glicemia não sejam controladas, a descompensação pode resultar em coma diabético. Entre as conseqüências para o bebê estão a macrossomia (excesso de peso) e a elevação do líquido fetal, que aumentam o risco de morte e comprometem a vitalidade dos recém-nascidos. As crianças podem ter problemas como icterícia e hipoglicemia, por exemplo, além das chances de desenvolver diabetes tipo 2 no futuro.


Recorrer ao tratamento adequado é a alternativa para espantar tais riscos. Como as causas são bem diversificadas, os tratamentos variam de acordo com o histórico da paciente. "Quando as taxas de glicemia estão um pouco acima de 130 mg/dl, a primeira alternativa é mudar alguns hábitos alimentares e praticar exercícios físicos", diz o obstetra da Unifesp.


Se os índices de glicemia não abaixarem só com uma dieta equilibrada e com a prática de atividade física, as doses de insulina (hormônio responsável pelo transporte de glicose pelas células) entram em ação. Segundo Cláudio Bonduki, "não existe uma regra, mas, normalmente, quando as taxas de glicose estão muitos altas (acima de 140 ou 150 mg/dl), a insulina é receitada antes de esperar os efeitos da dieta equilibrada aparecerem".


Já as mulheres que sofriam com o diabetes antes da gravidez, precisam ter o acompanhamento de um endocrinologista para controlar a alimentação, o ganho de peso e as taxas de glicemia. "Quando a paciente já recorria às doses de insulina, é normal ter que aumentar a quantidade durante a gestação", tranqüiliza o obstetra.


Depois do parto


"Em geral, 70% das mulheres corrigem o desequilíbrio das taxas de glicose no sangue, depois do nascimento do bebê", afirma Cláudio Bonduki. Mas isso não significa que a mulher nunca mais sofrerá com o desequilíbrio de açúcar no sangue. De acordo com o especialista, "o diabetes gestacional mostra que a paciente tem uma tendência à hiperglicemia. Por isso, é preciso sempre ficar de olho na alimentação e checar as taxas de glicose freqüentemente e, especialmente, em uma próxima gestação".

Quando o problema se estende além da gravidez, as pacientes precisam dar continuidade ao tratamento que, não necessariamente é feito com doses de insulina. "Na fase de manutenção, outros medicamentos são capazes de deixar os índices de glicemia estáveis, variando caso a caso", diz o especialista. (Com informações do Minha Vida e da Sociedade Brasileira de Cardiologia)


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