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Fisiologia

Autora fala sobre o 'relógio' dentro de nós

Herika Fondazzi - Folha da Sexta
31 dez 1969 às 21:33

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- AArquivo/Folha de Londrina
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O estudioso Robert Burton, no seu livro A Anatomia da Melancolia, de 1621, disse que ''nosso corpo é como um relógio''. Apesar do pouco conhecimento da época sobre fisiologia, Burton estava certo. Nosso corpo tem um ritmo e cada parte dele possui seu relógio interno. Podemos ter uma noção melhor de sua existência quando abusamos das mudanças, seja por uma viagem longa, por uma noite sem dormir ou por mudanças no horário de trabalho.

Já o livro lançado agora - "A Melhor Hora Pra Você" -, da escritora científica americana Jennifer Ackerman, é uma viagem de 24 horas pelo funcionamento do corpo. Nele, a autora tenta explicar porque trabalhamos melhor em determinada hora do dia e nos sentimos dispersos em outras ou porque os exercícios físicos parecem mais fáceis e prazerosos dependendo do horário que são praticados.

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É claro que Jennifer reconhece que cada ser humano tem seu próprio relógio e ritmo, mas algumas características são inerentes a quase todos, e conhecê-las pode ajudar a compreender melhor o funcionamento interno de nosso corpo e redefinir as melhores horas para determinadas tarefas.

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O livro começa sua análise assim que despertamos. Uma das características que compartilhamos é um fraco desempenho cerebral nos primeiros minutos depois de acordar. Uma pesquisa publicada no Jornal da Associação Médica Americana, em 2006, mostrou que as capacidades cognitivas dos participantes ao acordar eram tão ruins quanto se eles estivessem bêbados. Geralmente essa sensação passa em dez minutos. Mas seus efeitos podem durar até duas horas. O resultado depende da hora em que o indivíduo é acordado: se estiver em sono profundo, pior será para se localizar.

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A temperatura também tem papel importante nas atividades do dia-a-dia. De acordo com a autora, nosso corpo desperta com 36 graus Celsius e pode chegar a 37,7 graus ao entardecer. Quanto maior a temperatura, melhor nossa tolerância à dor, nossa flexibilidade, nossa velocidade de reflexos, capacidade de leitura e coordenação entre os olhos e as mãos.


Os batimentos cardíacos e a pressão arterial aumentam durante o dia, já as plaquetas que formam o coágulo no sangue estão mais abundantes de manhã e o fígado funciona melhor no começo da tarde. Levando isso em conta, descobrimos que é melhor fazer a barba ao acordar para diminuir o sangramento, se houver um corte, e tomar a cervejinha no happy hour para que o álcool seja rapidamente processado. Para quem pretende bater um recorde atlético, o melhor é marcar a corrida para o final do dia.

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Mas algumas pessoas simplesmente não conseguem seguir a rotina de acordar e dormir cedo. A autora lembra que o hábito de se deitar de madrugada e ficar na cama até quase o meio-dia é a preferência de muitos, conhecidos como dormentes tardios ou notívagos. Segundo ela, a genética é a grande responsável por essas alterações. Pesquisas mostraram que essas características passam de pai para filho e criam famílias inteiras de pessoas que mantêm hábitos de sono diferentes. Na Inglaterra já foram encontradas várias famílias em que todos os integrantes adormecem às 7 da noite e despertam às 2 da manhã.


A idade e a exposição à luz também interferem na nosso vontade de dormir. Crianças gostam de acordar cedo, adolescente detestam. Quanto mais nos expomos à luz solar, mais vontade teremos de ir cedo para a cama. Pessoas que permanecem ao ar livre 30 horas por semana, ou mais, tendem a dormir e acordar duas horas mais cedo do que aquelas que se expõem apenas dez horas semanais.

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Mas para o funcionamento do organismo nossas preferências importam pouco. As alterações em nosso organismo com relação à disposição, pressão sanguínea e atenção continuam valendo independentemente do horário que preferimos despertar. Elas começam assim que abrimos os olhos e vão evoluindo apesar das nossas escolhas. Nossa capacidade de pensar e de aprender, por exemplo, está no seu máximo entre 2,5 e 4 horas depois que acordamos, tenhamos feito isso ao meio-dia ou às oito da manhã.


O problema é que as pessoas que possuem horários internos diferentes da maioria, como os notívagos, sofrem para se adaptar. Adolescentes tendem a ser notívagos por uma questão de desenvolvimento. Fazer com que eles acordem cedo e prestem atenção às aulas pode ser um erro, segundo Jennifer. A boa notícia é que essa alteração no sono dos jovens passa quando eles atingem a idade adulta.

Serviço: "A Melhor Hora Para Você - Entenda Por Que Você Funciona Melhor em Determinados Horários do Dia", de Jennifer Ackerman, 344 páginas, preço sugerido: R$ 39,90, Editora Gente (www.editoragente.com.br).


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