Quando o assunto é dinheiro, carreira ou amor, ninguém quer saber de ‘andar para trás’. Mas, se, nesses casos, o significado é retroceder, na prática pode ser um bom exercício para fortalecer a musculatura posterior das pernas, ativar a memória e melhorar a coordenação motora e o equilíbrio.
No treinamento de atletas, principalmente em modalidades como futebol e volei, isso já é comum. A sugestão do ortopedista Fabio Ravaglia, de São Paulo, é que, mesmo aquele que não é profissional e costuma fazer caminhadas ‘para frente’, também o faça ‘para trás’, por conta dos benefícios.
A idéia, conta o ortopedista, veio de uma prática que ele observou durante uma viagem à China. ‘Pelas praças, vi inúmeras pessoas caminhando de marcha à ré, sozinhas ou em grupos. Lá isso é bastante comum, principalmente entre os mais velhos, que costumam andar para frente e para trás’, conta.
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Os benefícios existem. O fisioterapeuta explica que, na marcha reversa, a movimentação do pé é bem diferente: a primeira parte a tocar o chão não é o calcanhar, mas a ponta do pé. ‘Com isso, coloca-se o peso do corpo em pontos que, normalmente, não são requisitados na locomoção. A postura de todo o corpo fica mais correta, ajudando a coluna a ficar ereta’, aponta.
Ele lembra ainda que a locomoção para trás também força menos os joelhos, por isso a prática é recomendada por especialistas para a reabilitação dos movimentos em vários casos cirúrgicos e de lesões. ‘Faz parte do processo de reabilitação de cirurgia no joelho, lesões musculares no quadril ou na lombar e danos causados por torções no tornozelo ou no calcanhar. É um estímulo que, associado a outras terapias, tem mostrado sua eficácia’, avalia.
Andar para trás, aponta o fisioterapeuta, aumenta em 30% o consumo calórico, por conta do esforço maior. ‘Por ser menos natural, o movimento coloca outros ossos e músculos para funcionar, possibilitando à pessoa ganhar agilidade com o corpo e melhorar sua perfor-mance’, afirma.
No começo, pode ser estranho, mas é questão de acostumar. ‘O melhor é começar aos poucos, e progressivamente ir aumentando a velocidade e o trajeto’, recomenda.
Andar para trás também pede mais atenção, principalmente com obstáculos no chão, para evitar quedas. Por isso, ele recomenda, no início, escolher um terreno plano e sem muita gente, para depois implementar graus de dificuldade, como subir ou descer ladeiras.
‘Os iniciantes devem dar passos bem pequenos e olhar para um ponto fixo, o que ajuda a manter o equilíbrio do corpo. Também é preciso observar suas próprias limitações. Há pessoas que se sentem tontas ao caminhar para trás’, alerta.
Detalhe faz a diferença
Nos treinamentos esportivos, aponta o fisioterapeuta Fabio Ravaglia, de São Paulo, os movimentos de marcha à ré são usados tanto em treinamentos quanto em terapias de atletas.
‘Em muitos esportes, correr para trás tão bem quanto para frente faz a diferença entre ganhar ou perder. Jogadores de futebol sabem que, correndo de costas, deixam a bola, os adversários e os colegas em seu campo de visão para pensar e realizar a melhor jogada’, exemplifica Ravaglia.
No treino de kickboxing, explica a professora Branka Cosic da Silva, de Londrina, correr para trás é uma parte do aquecimento. A intenção, segundo ela, é melhorar o equilíbrio e a coordenação motora.
‘Quando a pessoa luta, ela faz combinações de chutes e socos e de vários movimentos ao mesmo tempo, e para isso precisa ter uma boa coordenação motora. Correr para trás é um pequeno detalhe, de vários exercícios de coordenação, mas que faz a diferença depois, na luta. O equilíbrio ajuda na precisão do golpe’, afirma Branka.