Arrisco afirmar que a audição é o meu sentido mais apurado. O que talvez justifique a hipnose ou a repulsão que me acometem "à primeira vista" pela sonoridade do mundo. E, no meio de tantas informações, às vezes, acaba sendo um grande desafio identificar as boas novas da música contemporânea.
No caso da hipnose, quando ouvi os primeiros arranjos e timbres da cantora paulistanta Céu o transe se estabeleceu. Uma alquimia sofisticada, detalhada desde a seleção do repertório de seu disco de estréia - lançado no Brasil em 2005 – até as interpretações de suas composições ou releituras de ícones como Bob Marley e a dupla Aldir Blanc e João Bosco.
Três anos se passaram e a carreira da artista se edificou em solo seguro, ampliando o público – que antes se restringia ao reduto de bares da Vila Madalena, em São Paulo – e holofotes da crítica nacional e internacional (Céu chegou ao topo do ranking de revelações da revista norte-americana Billboard, além de ter sido indicada ao Grammy Latino também como artista revelação).
O seu tão esperado segundo álbum começou a ser idealizado em fevereiro deste ano, o que não quer dizer que durante todo esse tempo ela somente se ocupava de shows pelo Brasil e mundo afora. Enquanto isso, a cantora e compositora estabeleceu parcerias diversas e familiares ao seu estilo musical que ultrapassa a sigla MPB.
UNIVERSO PARALELO
Nomes como Beto Villares, Zélia Duncan, Nação Zumbi, Siba e a Fuloresta, entre outros, já receberam intervenções vocálicas de Céu, sendo de backing vocal ou faixas na íntegra.
Como uma providencial seqüência de seu cotidiano, a artista assume os vocais do Sonantes, um encontro entre amigos que residem no mesmo conjunto de prédios em Perdizes, bairro da zona oeste de São Paulo. Composto por Gui Amabis (compositor e produtor de background cinematográfico, além de parceiro de Céu), Rica Amabis (integrante do Instituto), e a dupla Dengue e Pupillo, mais conhecida como a cozinha da Nação Zumbi, Sonantes faz uma excelente leitura do lado B da nova safra da música brasileira.
Afro, latino, cancioneiro, eletro-acústico, pernambucano e atual, o disco – que ainda não foi lançado no Brasil - se propõe, a valorizar espontaneamente a composição e a interpretação. Para acompanhar os integrantes fixos, outros como BNegão, Fernando Catatau (Cidadão Instigado) e Apollo 9 dão sua contribuição à aura Sonantes.
Seguindo quase o mesmo caminho do disco de estréia da moça, o CD foi lançado nos Estados Unidos pelo selo Six Degrees, que também deverá em breve difundir o trabalho por solos europeus. Aos ouvidos ansiosos, que também aguardam o segundo álbum solo da Céu, restaram seis faixas disponíveis na página do Myspace dessa turma: "Desfenestrando", "Quilombo te Espera", "Miopia", "Itapeva 51", "Carimbó" e "Looks Like to Kill". Imperdível.
Voz que merece ser difundida. Como já compartilhada por mim diversas vezes com pessoas queridas: por telefone, por CD, por DVD, pelo MP3, pelo celular, por e-mail... E você, já ouviu a Céu hoje?
Algumas palhinhas:
http://www.myspace.com/ceuambulante
http://www.myspace.com/sonantes