Há mais semelhanças entre esses dois vizinhos do que as cores da bandeira ou o idioma castellano, e boa parte delas está na mesa. Alfajor, chimichurri, empanada e, claro, a parilla.
Grandes exportadores de carne e couro, tanto a Argentina como o Uruguai, têm nos vastos rebanhos bovinos espalhados por seus pampas, parte importante da economia. Mas a devoção pela carne é tão grande nesses dois países, que os hábitos carnívoros da população extrapolam a mera questão econômica, tornando-se um marcante traço cultural.
É verdade que nem só de carne vive o homem platino, e se você andar muito, talvez até encontre um restaurante vegetariano dando sopa (e salada) por aquelas bandas. Contudo, me arrisco a dizer que a carne e seus derivados constituem a base da alimentação nesses dois países.
E para provar isso basta procurar um lugar para almoçar nas ruas de Buenos Aires ou Montevidéu. Claro que como em qualquer outra grande cidade você encontrará uma enorme variedade de opções, mas logo vai perceber que os restaurantes dedicados ao preparo de carne dominam a paisagem, e se não for um daqueles vegans ultra radicais, vai ser difícil não entrar num deles e provar uma típica parillada.
O asado, que é como eles chamam churrasco por lá, tanto na Argentina como no Uruguai, são bem parecidos entre si, mas bastante diferentes do nosso. A começar pelo elemento básico, o fogo, que lá é aceso, preferencialmente, com lenha, enquanto aqui o carvão é mais popular. Outra coisa é o uso da grelha em detrimento do espeto, mas nada, nenhuma outra diferença é tão gritante quanto os tipos de cortes da carne.
Contudo superadas essas primeiras dificuldades de adaptação, é fácil render-se aos prazeres da carne nas mesas dos nossos vizinhos. Excelência na qualidade, boa variedade e preços atraentes convidam para uma degustação, que além de saborosa, pode ser bem educativa.
Quando se conhece um pouco da história desses dois paises fica mais fácil entender a importância da criação e do consumo do gado de corte para esses povos. Tanto a Argentina como Uruguai nasceram em decorrência da exploração mineral no rio da prata, de onde se extraiu, vários galeões espanhóis carregados até a boca de argento. Mas passados os anos prateados, a região teve de buscar outra atividade comercial. Foi aí que os rebanhos bovinos invadiram as planícies dos pampas para dar inicio a essa duradoura relação de amor carnal.
Mas afinal, onde então nasceu a autêntica parillada? Nem na Argenttina nem no Uruguai, provavelmente em alguma caverna qualquer, perdida entre os períodos paleolítico e neolítico. Ou você acha que o homem pré-histórico, ao descobrir o fogo, pensou: "Hum! Agora já posso fazer aquela sopa de chuchu com cenoura". Claro que não! Ele obviamente pegou o primeiro quarto de brontossauro que encontrou pela frente, meteu sal grosso, botou a cerveja pra gelar, chamou os amigos e tava inventado o churrasco, o asado, o barbecue, a parillada, ou o nome que você queira dar.
E a melhor parillada? Quem aprimorou com mais sucesso a milenar arte de grelhar carne? Bem, essa já é uma questão mais delicada, já que quando se trata de assuntos do paladar, não existe nenhuma razão científica, muito menos consenso. Os argentinos, fanáticos e ufanistas como são, certamente afirmariam que, sem dúvidas, a parillada argentina é a melhor, aliás, da mesma forma que eles insistem em afirmar que o Maradona foi o melhor jogador de futebol de todos os tempos e que as ilhas Falklands, na verdade se chamam Malvinas e pertencem a Argentina. Já os uruguaios, provavelmente se recusariam a discutir a questão e, dariam apenas um risinho irônico, para demonstrar a inutilidade da querela, já que obviamente a parillada uruguaia é a melhor.
Eu, que comi de ambas, só tenho a declarar que o vinho argentino é muito bom, o doce de leite uruguaio é excepcional, assim como o sorvete, as massas e, pasmem, até as cervejas de ambos os países. Agora quando o assunto é parillada, o que eu prefiro mesmo, ainda é o típico churrasco brasileiro. Não que a carne de lá seja ruim, até bem pelo contrário. Como já disse, é excelente. Mas acho que assim como no futebol, quem aprimorou melhor a arte inventada por outrem fomos nós, os Brasileiros.
Afinal, a nossa seleção sozinha, tem mais títulos mundiais do que as seleções da Argentina e do Uruguai juntas, o que nos dá bem mais motivos pra fazer churrasco, além é claro, de todo o know how necessário.
Acompanhamentos
Se mesmo depois de ler esse texto você ficou com vontade de experimentar uma autêntica parillada, eu recomendo os dois lugares indicados abaixo. Vale a pena, nem que seja só pra comprovar como o nosso churrasco é bom.
Picada Del Puerto – Montevidéu: Este lugar é como se o Mercado Municipal de São Paulo fosse só a praça de alimentação, sem os outros boxes. Cheio de restaurantes típicos e outros nem tantos, é com certeza umas das melhores opções pra se comer na capital uruguaia. Menus completos, que incluem prato principal, couvert, bebida e, em alguns casos, até sobremesa, custam, em média, de 130 a 250 pesos uruguaios (15 a 25, convertendo em reais).
La Prima Parilla – Buenos Aires: Restaurante de parilla clássica, mas com ambiente moderno, situado no bairro de Palermo Hollywood, um dos mais descolados da capital portenha. Além de um bife de chorizo indescritível, esse agradável comedor oferece sobremesas deliciosas, e uma ótima carta de vinhos locais a preços convidadtivos. Aberto diariamente das 12:30h às 15:30h e das 20:30h às 1h. Rua Goriiti, 5501 - Palermo Wollywood.
Receita
Vai aqui uma receita bem simples de um molho muito gostoso que tanto os argentinos quanto os uruguaios adoram colocar no seus asados, com certeza vai ficar melhor ainda acompanhando um bom churrasco brasileiro.
Molho Chimichurri
Ingredientes:
10 g de alho e cebola desidratados
10 g de salsinha desidratada
10 g de pimentão desidratado
10 g de orégano desidratado
10 g de louro
10 g de cebolinha desidratada
10 g de pimenta calabresa desidratada e outras pimentas a gosto
300 ml de vinagre de vinho branco
600 ml de azeite de oliva
Modo de Preparo:
Em tigela, coloque todos os ingredientes, misture, cubra com filme plástico e leve à geladeira para descansar. O resultado será melhor após 3 dias de descanso. Sirva com carnes vermelhas.
Fonte: Terra culinária http://culinaria.terra.com.br.