A evolução do quadro eleitoral, a quinze dias da realização das eleições, traz algumas novidades bastante interessantes sobre a dinâmica política deste processo, principalmente no que diz respeito ao pleito para a presidência da república.
Fazendo uma breve recapitulação, podemos ver que a construção e a desconstrução das candidaturas se deu de forma dinâmica, se bem que nem sempre primando pela ética. Este processo trouxe conseqüências bastante duras para a consolidação dos candidatos que optaram pelo denuncismo e pelo ataque aos adversários como estratégia privilegiada de campanha.
O exemplo mais claro é o de José Serra, do PSDB, que tentou construir sua candidatura passando sobre os demais candidatos que disputavam em seu campo ou que o amaçavam nas pesquisas. Assim, desde o caso Lunus, que derrubou Roseana Sarney, passando pelos ataques e disseminação de rumores sobre a renúncia de Garotinho, e, principalmente, o embate, que chegou quase que às vias do pessoal com Ciro Gomes, e chegando agora aos ataques generalizados contra Lula, José Serra conseguiu sair do quarto lugar, indo para um hoje não muito confortável segundo posto nas pesquisas de intenção de voto.
Este processo de terra arrasada, porém, teve efeitos colaterais bastante sérios para sua candidatura. Pelo Datafolha, Lula subiu na pesquisa de 20 e 21/9 de 40 para 44 % das intenções de voto e para 48 % dos votos válidos, enquanto que Serra permanece no patamar de 19 % e cerca de 20% dos votos válidos, pondo em pauta a possibilidade de definição do processo eleitoral já no primeiro turno.
Na prática, o uso de ataques por Serra não tem sido eficaz e dificulta sua ida para um eventual segundo turno, além de restringir muito o arco possível de alianças em caso de haver o segundo turno da disputa eleitoral e de ser ele o candidato. Sim, porque, de fato, o que Serra conseguiu até agora foi desconstruir as outras candidaturas, sem capitalizar para si de forma efetiva o resultado de suas denúncias. Os votos que Ciro Gomes perdeu em conseqüência dos ataques de Serra se distribuíram entre ele, Garotinho e, principalmente, Lula.
Os recentes ataques a Lula tiveram como efeito não a queda, mas a subida de Lula e de Garotinho nas pesquisas e até mesmo a diminuição do ritmo da queda de Ciro Gomes. Serra, porém, permaneceu, com pequenas variações, dentro da margem de erro, estagnado no patamar de 19 %. Ora, juntando-se a tendência de alta de Lula nas pesquisas (Lula está a dois pontos percentuais de decidir a eleição já no primeiro turno se contados os votos válidos, segundo o Datafolha de 21/09) e a subida de Garotinho de 10 para 15 % das intenções de voto em vinte dias, quase que tecnicamente empatado com Serra na disputa pelo segundo lugar, temos um cenário que coloca duas possibilidades bem claras.
Em primeiro lugar a rejeição à política de denuncismo no horário eleitoral pode ampliar o movimento de negação deste procedimento e ampliar o crescimento do voto útil em Lula, que poderá definir a eleição ainda no primeiro turno. Afinal, de todos os candidatos, Lula é o que tem a campanha mais propositiva e menos denuncista e tem crescido nas pesquisas até por isso.
Em segundo lugar, hoje não é um cenário impossível a realização do segundo turno sem a presença de José Serra. As possibilidades de Garotinho são bastante consistentes. A estagnação de Serra e o viés de alta do candidato do PSB nas pesquisas colocam a vaga de oponente de Lula em um eventual segundo turno em aberto.
Se complicada é a situação de Serra, mais ainda é a de Ciro Gomes, outro que optou pelo denuncismo como estratégia. Depois do fogo cerrado a que foi submetido em seu embate com Serra, Ciro ainda não conseguiu reverter seu acentuado viés de queda nas pesquisas (Ciro caiu de 20 para 13% das intenções de voto em vinte dias segundo o Datafolha) e vê quase que impossibilitada sua ida ao segundo turno.
Assim, vemos que o uso de ataques sistemáticos como estratégia privilegiada de campanha tem sido muito pouco eficaz para aqueles que se utilizam desse expediente e tem privilegiado os que estão pautando sua campanha pela propositividade. O grande beneficiado disso tem sido Lula, que, em sua nova fase, de "Lulinha, paz e amor", vê, surpreendentemente, a despeito do fogo cerrado contra ele, aumentarem suas intenções de voto, desabarem seus índices de rejeição e se consolidarem concretamente as possibilidades de sua vitória já no primeiro turno.