As eleições deste ano estão sendo, em todos os níveis, bastante atípicas. Nas proporcionais, a avalanche de candidaturas ultrapassou todos os limites do bom senso. Nas majoritárias no Estado temos um cenário com a presença maciça dos chamados candidatos "nanicos" e apenas três ou quatro dos treze (?!) candidatos inscritos realmente concorrendo. A eleição presidencial apresenta uma dimensão nunca vista após a redemocratização.
Os quatro principais candidatos, guardadas as especificidades, são portadores de uma história de militância política nos campos estudantil e sindical, além de suas vivências partidárias. Não há, neste pleito, nenhum representante das correntes de direita e extrema direita, e mesmo os candidatos dos pequenos partidos são de extrema esquerda. O Brasil, certamente, vai rumar para uma administração de centro esquerda no próximo governo, independentemente de quem seja o eleito.
Há, também, um componente de rejeição ao atual modelo de gestão do governo federal que pode ser aferido na baixa intenção de voto do candidato apoiado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso em todas as pesquisas. As últimas apontam a estagnação de José Serra em um patamar por volta dos 13% das intenções de voto.
A candidatura de Anthony Garotinho, que chegou a ocupar o segundo lugar nas intenções de voto, caiu muito e agora disputa, com cerca de 12%, o terceiro lugar com José Serra. Há uma polarização posta entre as candidaturas de Ciro Gomes, com intenções de voto na casa dos 27%, e Lula, com percentuais em torno de 37% (Datafolha, 18/08).
Estes resultados, porém, são uma fotografia do momento e podem ser alterados em função da entrada da propaganda eleitoral gratuita na televisão a partir de terça-feira, dia 20. O tempo de José Serra (10,23 minutos e 225 inserções diárias) é quase o dobro do tempo de Lula (5,19 minutos e 115 inserções), mais que o dobro da cota de Ciro Gomes (4,17 minutos e 93 inserções) e um pouco menos que cinco vezes o tempo de Garotinho (2,13 minutos e 49 inserções diárias).
Há um último e importante fator a ser considerado nesta atipicidade das eleições: a mudança radical de atitude dos jornais, revistas e da televisão na cobertura do processo eleitoral. As eleições presidenciais desde 1989 foram marcadas por uma clara instrumentação político-ideológica da mídia em favor de determinadas candidaturas durante o processo eleitoral.
Este ano, porém, a imprensa tem atuado, dentro de suas possibilidades, é claro, numa postura de relativa imparcialidade. Há uma distribuição equivalente dos espaços destinados aos candidatos nos jornais, revistas e nos noticiários de televisão e também uma forte preocupação com um jornalismo investigativo, de cobertura das propostas dos candidatos, expressos em ciclos de entrevistas nos jornais e nos noticiários televisivos.
Esta cobertura séria da imprensa ao processo eleitoral poderá fazer o contraponto às "ilhas da fantasia" e ao pugilato explícito que tendem a ser os programas eleitorais gratuitos a partir de 20 de agosto. Nós, comuns mortais, poderemos, então, discernir com mais clareza o que pretendem e para onde querem levar o país os candidatos que disputam a presidência em seis de outubro. É esperar (e analisar) para ver.