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DEUS, COMO UM JOGO DE XADREZ

26 fev 2010 às 19:24

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O jogador de xadrez do meu computador nunca foi condescendente comigo. E eu jogava com ira, sempre contra ele e não com ele. Inapelavelmente, perdia. Até que um dia resolvi abandonar a idéia de jogar como se fosse uma competição e comecei a prestar atenção nos seus princípios. Então foi possível entendê-lo, e passamos a jogar de igual para igual, e assim fomos nos revezando nas vitórias.
Quando ele perdia, sua reação não era de derrota, mas permanecia impassível, da mesma forma que se postava quando ganhava. Eu pensava que o meu oponente virtual sentia emoção em suas jogadas e que tinha uma vontade obstinada de me vencer, mas era eu quem jogava com esses sentimentos. Eu o reconhecia como um poder.
Em dado momento tive o insight de que esse mistério a que se dá o nome de Deus era exatamente como o jogador de xadrez do meu computador. Tudo no programa dessa máquina eletrônica (também indecifrável em seu hard-ware) já está pronto. Nele reside o princípio e o fim, a um só tempo. Onde está a primeira jogada está a derradeira. Se jogo, penso haver transcorrido um tempo, mas isto só existe para mim porque no programa do computador tudo já está.
Deus é isto – percebi. Sem tempo nem espaço, mas um eterno estado de ser. O jogador de xadrez de meu computador joga segundo minhas jogadas, então eu é que o mobilizo e o faço assumir certas posições. Eu reajo aos seus lances e ele aos meus, e de repente sinto que somos um só jogo, um só corpo. Agora nossas jogadas significam nem perda e nem vitória mas apenas resultados. Causa e conseqüência. Se eu faço um lance que julgo imprudente, ele faz outro sobre meu lance, nunca ignorando-o. Ele dá validade à minha jogada.
Senti então que Deus, também meu parceiro de jogo, faz o mesmo. Jogo à minha maneira e posso levar um xeque-mate, mas assim mesmo me sinto íntegro, porque nada se perdeu de mim. A derrota não me diminui nem a vitória me fez maior. Se eu paro, ele me aguarda, paciente. Ele me concede o livre arbítrio de parar quando quero, sem me fazer cobrança. Assim o computador, assim o Deus que imagino.
Passei a ter uma mais vasta compreensão do Universo, e que se me movo, eu o movo. Depois do sentimento de quase vingança que tive, ao vencer pela primeira vez meu disputante do computador, cheguei a pensar que havia cometido um sacrilégio, mas percebi que ele não se melindrou e permaneceu impassível. Eu tinha em mim o registro do melindre, ele não. Então compreendi como Deus é assim também, na sua relação comigo. Entender Deus, a partir daí, era só observar suas jogadas. E notei que elas eram sempre perfeitas, mesmo quando ele derrubava o meu rei – e até isso acontecia porque eu havia, de algum modo, permitido.
O disco rígido do meu computador encerra todas as jogadas ao mesmo tempo. Tudo está ali – o começo e o fim. Como o conceito de eternidade. Um incrível mistério, não entendível à luz da lógica humana mas muito evidente. Eu não precisava decifrar o mistério, bastando saber que ali havia um mistério. E este era mais que meio caminho andado no rumo da ascensão.
Tive a compreensão de que Deus é exatamente assim. Ele não tem registro de tempo. Não fica irado, nem alegre, nem se emociona, nem me pune, nem se melindra. Também não revida se o desafio. Apenas me observa. Não adiantará eu pedir ao meu parceiro virtual de xadrez que me conceda uma vitória. Ele aguarda que eu faça minha jogada, pois tenho o mesmo poder que ele. Deus também faz assim comigo. Porque, pelo seu poder, ele me concedeu poder idêntico. Eu me movo e assim o movo a responder à minha jogada.
Ele não me concederá nada – pensei. Eis que já tenho todo o poder, que emana dele. No exercício de jogar aprenderei os caminhos da vitória. No disquete do meu parceiro de xadrez tudo está lá: o princípio e o fim da partida. Mas sem nada definido. Eu e ele é que criamos uma realidade, de acordo com nossas jogadas. As coisas se manifestam segundo nossos lances, embora o que está lá não se altere.
Assim na relação com Deus: eu encontro as derrotas nos meus dias amargos, mas em todos os momentos estão presentes também as vitórias, bastando que eu saiba como fazer as jogadas e buscá-las.
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