"Isso não é álcool", diz Johnny Depp, com uma garrafa que parecia ser de cerveja na mão, assim que entra na sala da entrevista coletiva. Ele veio a Veneza promover "Black Mass - Aliança do Crime", de Scott Cooper, filme muito aguardado pelos fãs, mas apresentado fora da competição no festival.
Na tela, Depp aparece envelhecido, careca e com lentes azuis para interpretar o mafioso Jimmy Whitey Bulger, um dos líderes do submundo de Boston, das décadas de 1970 e 1980, e um dos homens mais procurados do planeta na época.
Depp surgiu na sala usando uma nada discreta jaqueta verde, mais rechonchudo que de hábito (desleixo? o físico para um novo filme?) e com os cabelos jogados para trás. A voz meio pastosa, alguns risos fora de hora e as repostas meio titubeantes reforçavam que sua frase inicial era apenas uma piada. Ou seja: era Depp sendo Depp, um astro de Hollywood de primeira grandeza (a coletiva foi de longe a mais disputada por jornalistas até o momento), que não se importa tanto com o que possam pensar sobre ele.
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Mas talvez ele devesse: com uma trajetória que há décadas vem apostando na repetição sistemática de tipos excêntricos, espalhafatosos, Depp tem enfrentado um enorme desgaste na carreira de alguns anos para cá. "Um ator tem a responsabilidade de mudar, dar coisas que o público não espera, surpreender", justificou-se.
"Deve não entediar o público e nem fazer sempre as mesmas coisas. É o que eu tento fazer: buscar desafios o tempo todo", disse o ator, sem se dar conta de que o excesso de desafios também pode se tornar, com o tempo, algo entediante ao público.
Maquiagem
O "desafio" desta vez parecia certeiro. Quando as primeiras imagens de Depp caracterizado como Bulger viralizaram na internet há alguns meses, "Black Mass" se tornou um dos filmes mais badalados de 2015. Os mais afoitos chegaram a dizer que seria a "atuação do ano". Certamente eles não viram o filme.
Não que a atuação de Depp seja de todo ruim – é até melhor que a maioria das coisas que ele tem feito recentemente. E em duas ou talvez três cenas, ele consegue resultados bastante positivos –seu Bulger é mesmo assustador.
Mas na maior parte do filme, o personagem não consegue se impor. Em parte por culpa do próprio Depp –talvez seja tarde demais para ele se livrar dos vícios de interpretação que acumulou com tantos anos de "esquisitice"–, mas sobretudo pela equivocada maquiagem que ele estampa no rosto. Ela é tão absurdamente artificial que por vezes beira o ridículo, constantemente desviando a atenção do público, que esquece Depp e sua performance para reparar na estranheza do rosto da personagem (ele parece uma caricatura de como Leonardo DiCaprio talvez se pareça daqui há 20 anos).
(com informações do site UOL)