Depois de tratar de raça, drogas e sistema prisional na primeira temporada e de abuso sexual em ambiente esportivo escolar na segunda, American Crime foca seu olhar agudo na questão da imigração em seu terceiro ano, que estreia nesta terça, às 22h, no canal AXN. É, como se sabe, um assunto em voga nos EUA de Donald Trump, que endureceu a repressão a imigrantes sem documentação desde que assumiu a presidência, sob a promessa de construir um muro "grande e bonito", separando os Estados Unidos do México.
"Começamos a trabalhar na série antes das eleições", explicou o criador da série, John Ridley, vencedor do Oscar de roteiro adaptado por 12 Anos de Escravidão, em entrevista à imprensa internacional em Pasadena, na Califórnia. "Espero que a série tenha permanência independentemente de quem está ocupando a presidência ou outras posições no governo. A infraestrutura e os sistemas que permitem o aumento da desigualdade permanecem entra ano, sai ano. Não é o suficiente odiar o jogador, é preciso odiar o jogo. Se todos estivermos olhando para um indivíduo que, na melhor das hipóteses, vai estar no cargo por oito anos, sem examinar o aparato que causa a subtração de direitos, o desrespeito e a opressão, estamos perdendo o foco." Não que ele não tenha elogios ao antecessor, Barack Obama. "Como diz um personagem da série, eu gostava quando o presidente era um bom pai, fiel a sua mulher e pagava seus impostos. Então achei que foram oito bons anos", disse, entre risos.
American Crime é uma antologia, ou seja, a cada temporada, uma nova história é contada, com novos personagens, mas com o mesmo elenco de base - Felicity Huffman, Lily Taylor, Regina King, Richard Cabral, Benito Martinez. Martinez, desta vez, interpreta um mexicano que atravessa a fronteira na esperança de encontrar o filho, que sumiu. Cabral é um dos ex-imigrantes sem documentos que agora recruta trabalhadores para as fazendas. Huffman é a mulher de um fazendeiro que, pressionado a baixar os preços, contrata imigrantes, submetendo-os a condições sub-humanas. King, que ganhou dois Emmys pelas temporadas anteriores, é Kimara Walters, assistente social que trabalha com vítimas de exploração sexual. Taylor é Claire Coates, que contrata uma imigrante haitiana (Mickaëlle X. Bizet).
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A série lida com assuntos sérios, mas sem maniqueísmo. "Nós não queremos entrar na casa das pessoas pregando: ‘Aqui está o que pensamos’. Acho mais importante apresentar perspectivas do que opiniões", afirmou Ridley. Para isso, ele e o produtor Michael J. McDonald conversam com pessoas que viveram as situações que desejam abordar e as incluem na equipe. "Neste ano, temos muitos roteiristas que têm o inglês como segunda língua, que são, eles mesmos, imigrantes. Que trabalharam ou tiveram gente da família trabalhando nesse tipo de subemprego", disse McDonald.
A abordagem equilibrada, refletida nos roteiros com personagens densos, somada às atuações brilhantes de um elenco de peso fizeram de American Crime uma das séries mais reconhecidas da televisão dos Estados Unidos, mesmo sendo exibida por um canal aberto, normalmente menos afeitos a propostas arriscadas. Mas, depois de colecionar 14 indicações para o Emmy e 5 para o Globo de Ouro, a ABC decidiu que a terceira foi a última temporada de American Crime.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.