A indústria da construção civil vive uma situação de extremos no Brasil: é dos setores da economia que mais geram empregos; mas, por outro lado, é um dos setores que menos recebem incentivos. A análise é do presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Norte do Paraná, Osmar Ceolin Alves.
O empresário cita como exemplo as montadoras de veículos que recebem uma série de benefícios, tais como doação de terreno com infraestrutura e isenção de impostos para se instalarem em algumas regiões. A disputa pelas montadoras gerou, inclusive, uma guerra fiscal entre estados da Federação, com cada um oferecendo mais vantagens que o outro.
Alves afirmou recentemente, no lançamento da Feira de Imóveis de Londrina, que só a Gleba Palhano em Londrina gera mais empregos que algumas montadoras que se instalaram no Paraná. ''A Gleba Palhano não tinha nada há 15 ou 20 anos, mas na última década houve um boom, concentrando boa parte do volume de obras em Londrina''.
O presidente do Sinduscon faz questão de frisar que não tem absolutamente nada contra os benefícios oferecidos às montadoras ou qualquer outra atividade empresarial. ''Quando faço esta comparação, não quero dizer que sou contra alguma empresa, pelo contrário: as indústrias para se instalar devem receber benefícios mesmo, porque elas geram recursos para o município, gera renda e empregos, e é isso que nós queremos'', justifica.
Alves explica que a construção de um edifício entre 50 a 80 apartamentos gera uma média de 100 empregos diretos no período, que vai de dois a três anos, isto sem falar nos empregos indiretos, tais como nas lojas que vendem materiais de construção, acabamentos e móveis. ''Por isso, o nosso ramo precisa ser olhado com mais carinho'', afirma.
Mas este ''olhar'' não é sinômino de receber benefícios. Segundo ele, o incentivo que o setor da construção civil mais precisa é o crédito sem burocracia ao consumidor. ''Se o setor tem crédito, ele funciona bem; se não tem, ele não funciona. Nós não pedimos isenções, e sim facilidade de crédito''. Desta forma, ele acredita que o consumidor poderá comprometer uma parte menor de sua renda para pagar um imóvel financiado.
O presidente do Sinduscon afirma que, além de não receber incentivos oficiais a exemplo de outros setores, a construção civil ainda sofre com a incidência de impostos e encargos sociais. ''Só de INSS, somando a parte da empresa e do trabalhador, são 32% do salário; e o salário representa de 40 a 50% dos custos, ou até um pouco mais dependendo do tipo de obra''. Alves cita ainda que a construtora paga em torno de 12% referentes a ISS (Imposto sobre Serviços), PIS e Cofins, quando emite uma nota.
Alves destaca que há necessidade de maiores investimentos no setor da construção civil, mas alerta que isto deve ser feito de forma segura para evitar problemas semelhantes aos que aconteceram nos Estados Unidos, onde o financiamento do setor habitacional era feito com títulos sem valor. ''Nós precisamos de recursos, mas recurso sadio, não do tipo que ocasionou essa crise mundial. Neste sentido, o Brasil está no caminho certo, tem as reservas, as garantias, e é isso que nós queremos''.