O Brasil é um grande produtor mundial de rochas ornamentais – e também de resíduos gerados na extração e corte dos blocos, especialmente de granitos e mármores. Na serragem, 25% a 30% da pedra são transformados em pó. A quantidade desse resíduo no país é estimada em 800 mil toneladas por ano, sendo que Espírito Santo, Bahia, Ceará e Paraíba estão entre os estados que mais oferecem rochas ao mercado – e os que mais geram o pó de serragem e sentem seu impacto ambiental.
Diante do problema, diversos estudos têm sido desenvolvidos em busca de um aproveitamento para esse rejeito. Uma análise recente, desenvolvida com apoio da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), por meio do Programa de Tecnologia de Habitação (Programa Habitare), comprova a viabilidade técnica de seu uso na construção civil e fornece informações sobre os percentuais de cimento que podem ser substituídos pelo resíduo na produção de blocos construtivos e de pisos para pavimentação.
Os dados foram obtidos a partir do projeto ´Utilização de resíduo de serragem de rochas ornamentais (RSRO) para produção de peças pré-moldadas para habitação de interesse social`, desenvolvido pela Universidade Estadual de Feira de Santana, em parceria com a Universidade Federal do Espírito Santo. As pesquisas também contaram com apoio do Centro Tecnológico do Mármore e Granito (Cetemag).
De acordo com a pesquisa, o resíduo gerado no Espírito Santo pode substituir até 10% de cimento na fabricação de blocos de vedação. Para blocos estruturais, o teor com melhor desempenho é de 5% de pó de serragem. O resíduo com origem na Bahia, terceiro maior produtor de rochas ornamentais do Brasil (depois de Espírito Santo e Minas Gerais), pode substituir até 15% de cimento na produção de pisos para pavimentação - e 10% para blocos de vedação.
O trabalho permitiu o estudo do resíduo de duas empresas de beneficiamento de rochas ornamentais localizadas na cidade de Feira de Santana, na Bahia, e de duas no Espírito Santo. Em cada um dos estados foi coletado resíduo em uma empresa que faz a serragem dos blocos com fios diamantados, e em outra em que a serragem é realizada com o auxílio de polpa abrasiva. Foi também realizada a caracterização física, química e de risco ambiental do pó resultante da serragem de rochas ornamentais.
Para experimentação dos componentes construtivos, a pesquisa comparou traços de referência, com matérias-primas convencionais, a misturas de diferentes teores de substituição de cimento por resíduo. As peças produzidas foram avaliadas quanto à resistência à compressão e à absorção de água. No caso do piso para pavimentação, também foi avaliada a resistência ao desgaste. Os resultados completos dos estudos estão no relatório final do projeto, no site www.uefs.br/residuoserragemrochasornamentais
Foram ainda realizadas análises comparativas de custos para produção dos blocos, levando em conta os valores de material. Para os blocos de vedação produzidos em fábrica na Bahia, o custo referente ao uso de 5% e 10% de resíduo é menor do que o de peças de referência. Entretanto, o valor dos blocos com 15% de resíduo é superior. "Portanto, pode-se dizer que é viável a substituição de até 10% da massa de cimento pelo resíduo, para este uso. Em relação aos blocos estruturais produzidos na Bahia, pode-se observar que o custo das peças com resíduo é muito superior ao custo dos blocos de referência", explica o professor Washington Almeida Moura. Segundo ele, os resultados são diferenciados porque nos blocos estruturais com 15% a resistência é bem menor, o que implica num custo correspondente maior.
A pesquisa contemplou ainda ensaios de lixiviação e solubilização para avaliar o risco ambiental da utilização do resíduo. Com base nos resultados obtidos, nenhuma das amostras coletadas na Bahia apresentou compostos lixiviados ou solubilizados com concentração superior em relação aos limites estabelecidas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Portanto, o resíduo é classificado como Classe III – Inerte. O resíduo de serragem com fio diamantado gerado no Espírito Santo também foi classificado como inerte. No entanto, o resíduo serrado com polpa abrasiva, gerado no Espírito Santo, lixiviou ferro e alumínio em teores superiores aos limites estabelecidos pela norma NBR 10004, da ABNT. Esse resíduo é classificado como ´Classe II – Não Inerte`, porém não é tóxico nem perigoso, avalia a equipe de pesquisadores.
Um grupo de indústrias de rochas ornamentais de Cachoeiro do Itapemirim, no Espírito Santo, está discutindo um convênio com a Universidade Federal do Espírito Santo para implantação de uma unidade de produção de blocos e pisos com utilização do resíduo.
Saiba mais
• O resíduo gerado pelo segmento produtivo de rochas ornamentais pode ser resultante da extração do bloco, da serragem para enquadramento nas dimensões padronizadas, do processo de corte e de polimento.
• A produção mundial de rochas ornamentais, em 2003, foi de cerca 75 milhões de toneladas. O Brasil é um dos maiores produtores no mundo, ocupando a sétima posição. A produção apresentada pela Associação Brasileira da Indústria de Rochas Ornamentais (Abirochas) para 2003 foi de 6,45 milhões de toneladas.
• Após extraídas, as rochas ornamentais, em forma de matacões, são transportadas até as serrarias para o desdobramento ou serragem, processo de transformação dos blocos em chapas ou placas semi-acabadas, de espessuras que variam de um a três centímetros, utilizando máquinas denominadas de teares. A serragem pode ser feita através de fio diamantado ou com polpa abrasiva. A grande maioria das serrarias utiliza polpa abrasiva no corte, que tem como principais objetivos: lubrificar e resfriar as lâminas, evitar a oxidação das chapas, servir de veículo ao abrasivo e limpar os canais entre as chapas.
Fonte: "Resíduos de Serragem de Rochas Ornamentais para Produção de Peças Pré-moldadas" - Washington Almeida Moura, Mônica Batista Leite Lima, João Luiz Calmon Nogueira da Gama, Markus Moratti.
Setor brasileiro de rochas ornamentais em números
• Produção de 8,0 milhões de toneladas por ano;
• 1.200 variedades comercializadas nos mercados interno e
externo;
• 1.800 pedreiras ativas;
• 11.300 empresas operando na cadeia produtiva;
• 133.000 empregos diretos e 400.000 empregos indiretos;
• Capacidade de produção de 70 milhões m2/ano de rochas
processadas especiais;
• Capacidade de produção de 50 milhões m2/ano de rochas
processadas simples;
• US$ 1,093 bilhão e 2,5 milhões t exportadas;
• Crescimento de 4,62% em valor e 3,39% em volume de
exportações em relação a 2006;
• Exportações de 16,8 milhões m2 equivalentes de chapas de
granito e mármore (2 cm de espessura);
• Cerca de 600 empresas exportadoras em 23 estados da
Federação (vendas para 120 países);
• Transações comerciais de US$ 4,1 bilhões nos mercados
interno e externo.
Fonte: Abirochas - dados referentes ao ano de 2007